As opressões não existem desde sempre, não são características do ser humano. São construções sociais que servem o propósito de cortarmos todos os laços de afinidade da maioria, que é a classe trabalhadora, em relação à outra parte da humanidade que é a classe exploradora.
Essa é a única verdadeira divisão que existe na Humanidade. Quem é explorado é uma ampla maioria diversificada, composta por homens brancos, homens negros, mulheres negras, gays… É essa maioria para a qual estamos a trabalhar e que queremos que assuma o seu destino nas suas mãos.
A arte é dividir para reinar, é basear-se em pequenas diferenças que existem entre os seres humanos para nos colocarem uns contra os outros e para nos controlarem. Somos todos a mesma massa de trabalhadores. Se somos nós quem tudo produz, a nós tudo pertence, não é à minoria que manda em nós.
As opressões estão ao serviço da exploração. As mulheres ganham em média menos 30% do que os homens. Como é que isto é aceite pelos nossos colegas? É baseado neste tipo de diferenças artificiais que se criam na prática formas de maximizar o lucro das grandes empresas e das instituições.
A opressão sobre a mulher e a comunidade LGBT tem haver com o facto de se ter criado a instituição familiar heterossexual. Esta existe como uma forma de, por um lado, manter a massa trabalhadora com as necessidades de alimentação, tecto e roupa supridas na maior parte dos casos gratuitamente pelas mulheres que ficam no lar, e por outro lado, assegurar as gerações futuras de trabalhadores. Tudo o que sejam constituições de família que não obedeçam a este padrão não são úteis à forma de exploração do capitalismo. Porque um casal homossexual ou uma família monoparental, se não recorrerem a outras soluções, não conseguem reproduzir-se.
Se a exploração sobre a mulher acaba, é preciso criar outro tipo de mecanismos para que este trabalho feito em casa possa existir – as creches públicas, as cantinas públicas, etc. O Estado não precisa de fazer nada disso, pois as mulheres asseguram esse trabalho em casa. As opressões enquanto forem úteis a este modo de exploração e enquanto este modelo de família for útil, tudo o que lhe fuja é alvo de opressão. A melhor maneira de se criarem seres humanos é num ambiente fraterno, com amor, com qualidade, e isso é garantido com qualquer tipo de família.
A nossa corrente, o marxismo, ensina-nos que o fim das opressões só é possível com o fim do capitalismo. Se elas servem a este modelo de exploração, elas só vão acabar quando acabar este modelo de exploração. O MAS tem medidas concretas como propostas – o aumento das licenças de maternidade e paternidade, para libertar a mulher do cuidado das crianças e para que os homens também possam ter essa sua tarefa. A igualdade salarial. A criação de rede de esquadras especializadas para a violência doméstica, porque as mulheres vão hoje a uma esquadra e são ridicularizadas, as queixas não são registadas e as mulheres voltam para casa com o agressor. A criminalização do assédio sexual.
Na questão LGBT, a construção dum plano nacional de combate à LGBTfobia, em que o Governo deve ser agente activo levando esta luta nas escolas, nas instituições públicas, nas instituições de saúde. Valorizar as conquistas da comunidade LGBT – a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a coadopção, das quais há 10 anos atrás não se falava e que deram visibilidade a este conjunto de trabalhadores que viviam na marginalidade.
No que respeita ao racismo, exigir a nacionalidade para todos os que nasçam em território português, o que faz com que nós digamos que o Estado português é um estado racista. Que o Estado deixe de esconder os dados demográficos e que dê visibilidade a estas comunidades emigrantes que existem em Portugal. É uma realidade feia e o Estado português não quer que essa realidade se conheça.
Somos uma organização que tem o orgulho de meter o dedo na ferida. Temos a vantagem de podermos discutir estes temas com quem é oprimido – com as mulheres, com os negros, com a comunidade LGBT, com os imigrantes – e isso faz com que tenhamos uma visão diferente da realidade. Temos de apoiar-nos nela para que o partido seja um espaço hostil para qualquer tipo de opressão e com isso fazer com que nos locais onde militamos também criemos pequenas comunidades hostis a qualquer tipo de opressão. Esse trabalho está ao serviço de um trabalho maior, para a classe trabalhadora.
No dia em que vivermos em socialismo as opressões não acabam por decreto. É todo um trabalho quotidiano. Não devemos tolerar qualquer tipo de opressão e isso faz de nós os loucos. Mas acho que aqui ninguém tem medo de ser louco. Isso até é um elogio.
Espero que cada um tenha a coragem de nos ajudar a construir um partido e com ele construir uma sociedade melhor e a mudar as coisas como estão. Não foram sempre assim, e não vão ficar sempre assim. Para isso é preciso meter o pauzinho na engrenagem, como dizia o José Mário Branco, e nós somos essa instituição.
Sílvia Franklim, da Comissão de Mulheres do MAS, no encerramento do Acampamento de Jovens 2016