Esta quarta-feira dia 13 de Abril, os trabalhadores das OGMA vão realizar uma marcha de protesto em Alverca, e uma greve parcial por aumentos salariais, contra a repressão, a imposição de horários desregulados, e os despedimentos “encapotados”. Os motivos da nossa luta são cada vez mais.
Este protesto é mais uma tentativa de nos fazermos ouvir, e sensibilizar a população da região e o país para as brutais práticas de exploração que a empresa tem vindo a aplicar cada vez mais, desde a sua privatização em 2005. Nos últimos anos as OGMA têm apresentado sempre lucros de vários milhões de euros, mas a tabela salarial não é atualizada há quase quatro anos!
A empresa recusa qualquer aumento geral de salários, respondendo que haverá aumentos para alguns. Mas o que isto quer dizer é que vão haver aumentos (míseros) para muito poucos, que serão escolhidos arbitrariamente pelas chefias directas, sem critérios objectivo, nas palavras dos próprios “chefões”, só para aqueles que “colaboram”, e estão “alinhados” com a visão da empresa – ou seja, para quem faz quantidades desumanas de horas extraordinárias por semana, trabalha aos fins de semana e feriados, não reclama de nada e, se revelar “informações úteis” aos supervisores, também ajuda. Há em algumas áreas toda uma nova “camada” de supervisores, que antes, simplesmente não existia. Foram criados postos de autênticos capatazes de cronómetro numa mão, e chicote na outra.
Há um clima constante de medo, pressão diária para fazer mais horas, e uma “marcação cerrada” para estar a trabalhar absolutamente todos os minutos e segundos dos novos horários. Há já ameaças directas a trabalhadores de que se não produzirem mais, ou se cometerem erros, a sua “cabeça vai rolar!”. Há várias tentativas de pressionar os trabalhadores mais antigos e com melhores salários (ou menos maus!) para assinarem rescisões por “mútuo acordo”. Alguns sub-contratados foram despedidos por alegadamente “não serem precisos”, mas ao mesmo tempo é anunciado sem qualquer vergonha que vão chegar mais algumas dezenas nos meses seguintes, e vão se criar novas linhas!
A administração diz que 95% da sua atividade económica tem como destino final a exportação, de produtos de grande valor, tanto na fabricação de aeronaves novas, como na manutenção mas, no entanto, os salários e as condições de trabalho são bem “portuguesas”. Um Mecânico de Montagem de Estruturas por exemplo, ao fim de 3 meses a trabalhar de graça num estágio profissional do IEFP, 1 ano a contratos mensais por uma ETT, se tiver a sorte de assinar contrato com a OGMA, ganhará uns 770€ brutos, sem direito a subsídio de alimentação, o que se traduz em pouco mais de 600€ líquidos. Mesmo fazendo 70 ou 80 horas extra semanais, o que é prática comum, não chega a ganhar 1000€! A empresa sabe que com estes baixos salários, há pessoas que fazem todas as horas extra que conseguirem, pois de outra forma, não põem pão na mesa. Se ganhássemos mais, e não fôssemos a fazer estes absurdos de horas extra, poderiam trabalhar provavelmente mais um terço das pessoas só na área de montagens.
Na área da produção há uma culpabilização dos trabalhadores pelos problemas de qualidade, mas eles são culpa da gestão da empresa, dos ritmos de produção impostos, consciente aceleramento do controlo de qualidade, falta de formação dos operadores que são atirados para a linha com pouca formação, do constante controlo (hora a hora!) da produção num trabalho minucioso, árduo, e complexo. E também, claro, da não valorização dos trabalhadores. Se um trabalhador pode, com um simples deslize da mão, mandar para a sucata uma peça de mais de 10, ou 20 mil euros, não devia receber 600, e ter um contrato mensal, ou não?
Há um total descaso com a segurança dos trabalhadores, por mais que digam o contrário. Só se faz algo depois de alguém se aleijar, e às vezes nem aí. Faltam coisas básicas como fardas, óculos, botas, e luvas. Os supervisores chegam a dizer que têm o mesmo “plafond” para pedir esses equipamentos de protecção (obrigatórios por lei!) e os produtos consumíveis, como lixa ou rolos de papel, e que optam sempre pelos últimos! Chegam a usar a promessa de equipamentos de protecção, como chantagem para os trabalhadores fazerem mais horas!
Se há lucros, tem que haver aumentos. Acenam-nos agora com a distribuição de lucros pelos trabalhadores, mas parte desses lucros vêm do trabalho de quem não vai receber nada, porque está na empresa por uma ETT, ou há menos de um ano a contratos. Para além disso, os lucros serão distribuídos de uma forma tudo menos transparente, e desigual. Quanto irão receber os directores? E os administradores? É um “bolo” bom, mas muito mal distribuído. E se a empresa faz essa distribuição de lucros, e dá outros benefícios indirectos, é não por bondade ou por algum sentido de justiça, mas sim justamente para apaziguar os ânimos e impedir futuras lutas que conquistem muito mais!
Infelizmente, o clima de repressão constante faz com que só uma minoria de trabalhadores efetivos participe nos protestos e plenários. Os trabalhadores sindicalizados ficam “marcados”, e muitos não são aumentados há 10 e 15 anos! Mas só com greves em que participem de facto uma maioria dos trabalhadores, e com a unidade de toda a empresa, conseguiremos vergar esta administração e ter um trabalho melhor. O conjunto dos trabalhadores só tem a ganhar com a participação dos jovens e dos precários (alguns precários, não são tão jovens) no sindicato, nos plenários, e nas lutas. São os mais vulneráveis, mas também os com mais razões de queixa. Os trabalhadores das ETT’s não são abrangidos pelo acordo de empresa, e como tal recebem, pelo mesmo trabalho, porcentagens inferiores nas horas extra. Os sub-contratados chegam a ver negado o acesso a tratamento no posto médico quando têm acidentes!
Talvez vínhamos a ter mais gente nas greves se forem feitas reuniões sector a sector, hangar a hangar, estaleiro a estaleiro, para mobilizar as pessoas, e ouvir as suas reivindicações. É urgente ganhar as novas gerações que entram nas OGMA para a luta. Os velhos métodos não bastam. Se necessário, é preciso sindicalizar quem entra, sem o conhecimento da empresa. Fazer reuniões dos sub-contratados, até fora da empresa se necessário. É preciso apelar à solidariedade dos trabalhadores de outras fábricas da zona, e juntar forças – certamente há problemas comuns!
Mais: é preciso fazer exigências também ao governo, que muito fala de que se “virou a página da austeridade”, mas não foi para nós. Mais do que a sobretaxa, é preciso mudar os escalões de IRS, e deixar de nos tratar como ricos quando fazemos horas extraordinárias. É preciso diminuir o trabalho semanal para 35 horas no sector privado como no público, para que a vida não seja só trabalhar, como já acontece em países da Europa que são muitas vezes citados como exemplos de produtividade, mas não de condições de trabalho e salários. Mais, o Estado ainda detém 35% das OGMA: se gostam de receber os dividendos, será que não têm nada a dizer sobre os salários e condições de trabalho aqui? Precisamos exigir que o Ministério da Defesa se pronuncie a favor, ou contra as nossas reivindicações, e unir esforços com os trabalhadores de outras empresas detidas pela EMPORDEF e do Sector Empresarial do Estado.
Está mais que visto que quem vive à nossa custa, não tem intenções de negociar nada. A luta nas OGMA tem de continuar.
Por salários para viver, não para sobreviver!
Contra a precariedade! Chega de ameaças e perseguição!
35h de trabalho semanal!
Juntos venceremos!
Operário da OGMA