Banco Central Europeu

A política seguida pela UE e BCE e os seus resultados

A Crise Internacional – Parte 3

O BCE e a UE têm utilizado, em simultâneo, diferentes mecanismos, para arrancar a banca e o Euro da crise. Conjugam um rebaixamento brutal da mão-de-obra dos povos europeus com uma, não menos brutal, injecção de capitais na banca e mercados financeiros.

Por um lado, têm feito recair sobre as costas dos povos europeus o preço de salvamento de uma banca corrupta e completamente entregue à especulação. Para além disso, têm utilizado estes mecanismos para reforçar o poder financeiro e político da Alemanha sobre todos os restantes Estados.

BCE, UE e os governos nacionais, todos alinhados com a austeridade para os povos e benefícios para os banqueiros, começaram por injectar enormes quantidades de capitais públicos nos gigantescos buracos financeiros. Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia, são disso exemplo. Banqueiros responsabilizados? Serão muito poucos os exemplos. Esses enormes buracos financeiros que ainda hoje vão explodindo, vão-se transformando paulatinamente em enormes buracos nos Orçamentos do Estado e, para os pagar, vão-se transformando num crescimento imensurável das respectivas dívidas públicas. A quem devem os Estados periféricos neste momento? Em grande medida à grande banca alemã, francesa e inglesa.

Estes Estados centrais, ao mesmo tempo que emprestam dinheiro para salvar um sector financeiro europeu corrompido e especulador, vão comprando a independência financeira e política dos Estados mais periféricos.

Para pagar o salvamento da banca, os diversos governos nacionais apoiaram fortes cortes salariais, grandes planos de despedimentos e, como dizia Vítor Gaspar, enormes aumentos de impostos. Tudo isto tem como resultado: menos salário, menos consumo, menos investimento e menos trabalho – tudo junto e conjugado conforma a receita para o tal cenário deflacionistas.

Por outro lado, BCE e UE montaram aquilo que apelidaram de bazuca, uma enorme injecção de capitais nos mercados financeiros e na banca, através do BCE. Ou seja, para estimular o investimento e o consumo, decidiram injectar enormes quantidades de oxigénio na banca e nos mercados financeiros. O pior é que o dinheiro continua a servir a especulação (vejam-se os mercados de dívida pública), não chegando à economia real, à produção, aos salários e ao investimento. Os preços mantêm-se portanto sob uma pressão de queda. Em vez de melhorar as condições económicas, a bazuca tem servido exactamente o contrário.

Na verdade, a bazuca deveria ser apelidada de “bóia”. A bóia que tem permitido que os mercados financeiros não entrem em colapso, no imediato. Uma bóia que serve os mercados financeiros mas não serve aos povos, pois as suas condições de vida mantêm-se em queda. Mesmo que o ritmo de austeridade tenha abrandado, a página não foi virada e Merkel insiste que as “reformas estruturais” são para aprofundar.

O BCE começa já a acusar a fragilidade desta bóia, pois não poderá manter uma injecção de capitais desta magnitude eternamente. Mais: os buracos financeiros constantes e a permanente injecção de capitais públicos nos bancos, começam a levantar grandes dúvidas sobre o estado de saúde do sistema financeiro europeu e a capacidade dos países periféricos em pagar as suas dívidas públicas monstruosas.

O grande alemão Deutsche Bank, o grande francês Société Générale e a generalidade da banca italiana levantam hoje grandes dúvidas. Tendo estes bancos grandes investimentos em títulos de dívida pública impagáveis, começa a ficar claro que eles próprios estão cheios de lixo nas suas carteiras.

Jeroen Dijsselbloem, Presidente do Eurogrupo, já veio dizer que a banca europeia está forte que nem uma pedra. O Comissário europeu Pierre Moscovici referiu também que “apesar da volatilidade e incerteza, o Euro está mais forte, assim como os bancos” europeus. Já vimos este filme. Quando se começa a referir sistematicamente que os bancos estão fortes e seguros, só há uma conclusão, quase certa, a retirar: vem aí buraco financeiro.

Ora, é de salientar que as armas utilizadas pela UE e BCE parecem estar a avistar os seus limites e não atingiram nenhum dos objectivos para os quais, supostamente, se destinaram: reversão da deflação, estímulo ao consumo e investimento e controlo dos défices públicos e dívidas públicas. Mesmo a banca que se queria salva, parece não estar a salvo dos seus próprios vícios.

Em termos económicos, é impossível aferir concretamente qual será o limite da política de Merkel. Certo, é que os planos de cortes sobre os salários e serviços públicos e o aumento de impostos atingem proporções desumanas. A injecção de capitais não apresenta grandes resultados para além do aumento da especulação. A compra de dívida pública e de dívida da banca começa a alcançar dimensões em que transforma os grandes bancos alemães e franceses em depósitos de lixo. A política de Merkel destrói-nos o futuro. Em termos políticos, o limite da política da política de Merkel é a mobilização dos povos, tal como assistimos nos anos de 2011 e 2012.

Considerando os 3 grandes factores: (i) desaceleração das economias emergentes, num cenário em que já as economias desenvolvidas estão paradas; (ii) queda abrupta do preço do petróleo, num cenário europeu deflacionista; e (iii) uma política europeia de destruição de salários e condições de vida, em troca do salvamento da banca, que vai alcançando os seus limites, parecem estar a conjugar-se as forças que levam a Europa a um novo beco.

É urgente que os governos da periferia europeia trabalhem conjuntamente para a construção de uma política diametralmente oposta. Uma política que suspenda o pagamento das dívidas públicas e permita a canalização de capitais para o investimento económico como forma de criar emprego e aumentar salários; uma política de controlo público do crédito como forma de controlar a corrupção e especulação financeiras e nos permita definir os sectores estratégicos sobre os quais devemos investir; uma política que questione o Euro e nos permita recuperar a nossa soberania económica e política.

José Aleixo

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