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O que está a negociar a esquerda?

Todos estamos a contar os dias para que o novo governo da direita seja demitido. Isso é motivo de festejo para todos os trabalhadores, pensionistas e jovens.

Porém essa feliz segurança não nos deve fazer esquecer que, paralelamente à encenação do novo governo de Passos e Portas, decorrem as negociações entre PS, BE e PCP de onde nascerá um futuro Governo. Estando garantida a vitória sobre a direita, é sobre as negociações à esquerda que devemos centrar as nossas atenções.

As negociações entre PS, BE e PCP não têm sido transparentes. Uma vez garantida a derrota da direita, não faz sentido negociar nos bastidores o futuro de milhões de pessoas. António Costa e Catarina Martins dizem que o acordo está fechado, Jerónimo de Sousa dá a entender que não. Para o PS o cumprimento do défice a 3% é essencial, para o PCP não. Não se sabe sequer se há um acordo entre os três partidos ou se acordos “bilaterais” entre o PS e os dois partidos à esquerda. Este modo de conduzir as negociações fortalece o PS, pois impede que BE e PCP juntem forças para o pressionar, ajuda a direita, que perante as incongruências da esquerda investe numa campanha de calúnias e, mais importante, deixa de fora a opinião de milhares de trabalhadores e eleitores de esquerda a quem será apresentado um facto consumado.

Exigir mais do PS

O MAS considera a dívida pública injusta e impagável e defende que o seu pagamento seja suspenso, assim como que o país saia do euro para voltar a ter soberania económica. É óbvio que o PS não aceitaria estas medidas, nem tão pouco medidas mais moderadas como a revogação do tratado orçamental e a renegociação da dívida. Por isso, para o MAS, uma alternativa de governo contra a austeridade passa antes de mais, por uma frente de esquerda sem o PS, encabeçada por BE e PCP.

BE e PCP pensam diferente e confiam no PS, estão no seu direito. Porém com os votos que obtiveram têm uma grande responsabilidade. O povo que votou à esquerda tem o direito a saber o que está a ser negociado em seu nome. Catarina Martins veio anunciar que já há acordo e que as pensões serão “descongeladas”. Isso é importante mas não chega. Os líderes de BE e PCP devem dar mais garantias

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A CES e os cortes nos salários da função pública terminam no fim do ano. Para cumprir o Tratado Orçamental, o PS não pode devolver já tudo o que foi cortado. Para que a devolução de salários e pensões seja feita faseadamente – como o PS propôs em campanha –BE e do PCP terão para prolongar os cortes, ou então o PS irá “pedir” esse voto à direita. Temos o direito de saber se BE e PCP votarão pelo prolongamento dos cortes. Quando isso foi questionado a Jerónimo de Sousa, na TVI, ele não disse que não. Jerónimo de Sousa e Catarina Martins devem garantir que não votam a favor do prolongamento de nenhum corte.

António Costa há meses falou em reverter a privatização da TAP. Hoje esse assunto não está presente nas negociações. Reverter a privatização da TAP, como Costa prometeu, tem de ser uma “linha vermelha” para BE e PCP.

Sobre o IVA tem vindo a público notícias contraditórias. PCP e BE queriam o IVA a 6% na restauração, hotelaria, electricidade e gás. Parece que o PS não aceita esta redução e a discussão está nos 13%. Precisamos de saber que resposta darão PCP e BE, caso o PS recue de novo e mantenha todo o IVA nos 23% em tudo. São urgentes medidas para que o gás e a electricidade fiquem mais baratos.

Por fim referimo-nos ao salário mínimo. BE e PCP nestas eleições, pela primeira vez, propunham um aumento para 600€. No início das negociações com o PS, essa parecia ser uma possibilidade palpável. Porém os patrões, pela voz do chefe da CIP, António Saraiva, já vieram “bombardear” essa ideia. O Expresso anuncia que o PCP recuou nesta matéria e o PCP não desmentiu. Mais grave foi Catarina Martins ter afirmado que aumentar o salário mínimo para 600€ em 2016 seria demagogia – quase coincidiu com o patrão da CIP que falou em “utopia”. Sabemos que não é assim, a direita passa a vida a dizer que as propostas da esquerda são “demagogia”, é errado o BE, para agradar ao PS, enfiar essa “carapuça”. A esquerda não pode recuar e tem de exigir do PS o salário mínimo de 600€ para já.

No afã de derrotar a direita, BE e PCP entraram para as negociações com o PS sem “linhas vermelhas”, dispostos a passar um “cheque em branco”. Mas isso significa que podemos vir a ter um governo do PS como os de Sócrates, ficando a BE e PCP atados, sendo a direita a única oposição. Isso abre caminho para o regresso da direita em futuras eleições. O PS está dependente de BE e PCP, estes partidos têm a obrigação de ser mais exigentes!

Um Congresso das Esquerdas

Como muitos têm dito, este é um momento histórico à esquerda. Se PCP e BE, ainda que desta forma, entraram no “arco do poder” é devido à força que o povo lhes deu. Um acordo com o PS não pode ser assinado nas costas de eleitores e militantes. PCP e BE, junto com a CGTP, devem convocar um grande congresso unitário para referendar o seu acordo com o PS. Deveriam também preparar eleições primárias para definir quem seria o candidato presidencial da esquerda, em vez de se dividirem entre Edgar Silva, Marisa Matias e até Sampaio da Nóvoa. Daqui poderia surgir uma Frente de Esquerda que não ficasse presa ao PS, e que pudesse lutar contra a austeridade e, apoiado nos trabalhadores e no povo, ser governo sem a direita nem o PS.

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