No dia 26 de Maio, o Observador publicou um artigo1 onde questionava várias personalidades políticas. Dado o boicote que a comunicação social faz em relação ao MAS (Movimento Alternativa Socialista), ninguém do nosso partido foi contactado para participar. Para corrigir esta lacuna, o MAS respondeu por si mesmo às questões feitas aos restantes intervenientes.
1. A dívida deve ser reestruturada?
O MAS defende a suspensão do pagamento da dívida seguida de auditoria pública aos seus valores, com participação de economistas independentes, bancários e cidadãos em geral. Por mais austeridade que os governos apliquem, a dívida continua sempre a aumentar. A população desconhece a sua origem, e os poucos que sabem não a referem, o que nos leva a considerar que grande parte dela é ilegítima e mesmo ‘odiosa’ do ponto de vista legal. Reestruturar é uma forma leve de dizer que continuamos a pagá-la em parte, sem contudo saber e julgar quem foi responsável por ela. Só seremos ouvidos na União Europeia, especialmente na Alemanha, se avisarmos os nossos credores que é indispensável uma moratória ao pagamento da dívida, para recuperar a economia portuguesa e retirar milhões de pessoas do desemprego que as lança todos os dias na miséria. Só os oito mil milhões que saem anualmente do país para pagar o serviço da dívida chegariam para investir na economia, na saúde e na educação públicas.
2. O programa do PS é de esquerda?
Por muito que aparente ser de esquerda nos seus programas eleitorais, há 40 anos que o PS, chegado ao poder, governa à direita, ao lado do PSD. São por isso responsáveis pela actual indefinição que reina na opinião pública sobre se as várias forças políticas são de esquerda ou de direita. Por mais que procurem distanciar-se mutuamente, PS e PSD são farinha do mesmo saco. Respondem perante os mesmos interesses financeiros, defendem os cortes dos salários e das pensões e submetem o povo a uma União Europeia burocrática e economicista, sem atentar aos interesses dos cidadãos e dos trabalhadores. É um mito que os mesmos que nos colocam em crise e nos impõem medidas de austeridade serão aqueles que irão resolver os nossos problemas, da mesma forma que é errado pensar que as mesmas medidas aplicadas compulsivamente trarão resultados positivos, quando antes só provocaram perda de direitos, desemprego e pobreza.
3. Serão fáceis as coligações de Governo à esquerda?
São bastante difíceis. O MAS defende a convergência das novas forças políticas, constituindo-se uma plataforma alternativa com um programa comum para disputar o governo e rejeitar a austeridade e os seus partidos – PS e PSD/CDS. Na Grécia e na Espanha existem o SYRIZA e o Podemos, respectivamente, com resultados notórios, em parte conseguidos pela sua própria natureza – são formações políticas onde convivem várias tendências que se uniram no projecto maior de disputar o governo e fazer a diferença. Para além do MAS, em Portugal existem também outras alternativas fragmentadas, como o Livre/Tempo de Avançar, o PDR ou o PTP/AGIR. Já dialogámos com esses partidos e continuamos a dialogar com várias personalidades para constituir uma candidatura comum às legislativas, mas com resultados que para nós são insuficientes. Todos apelam à unidade, mas nenhuma força política a concretiza. Nota-se um certo receio em querer fazer mais, de alcançar o poder. É uma questão de vontade política, não de recursos ou de falta de capacidades. Não conseguindo cada um deles ganhar sozinho, e para não se tornarem no típico pólo de protesto, os novos partidos correm o risco de se afirmarem como cúmplices do PS e/ou do PSD, até talvez aceitando coligar-se com estes e viabilizar governos de austeridade. Mesmo não conseguindo uma maior convergência, o MAS irá participar nas legislativas aliado a vários sectores independentes que já aceitaram integrar uma candidatura comum, mas os nossos resultados seriam tanto maiores quanto mais forças conseguíssemos reunir.
4. O Governo grego é exemplo a seguir?
A vitória do SYRIZA foi uma vitória dos trabalhadores e do povo gregos, independentemente das características ou do projecto do SYRIZA. Tendo-se mobilizado e saído à rua em fortes manifestações e mais de 30 greves gerais, rejeitaram os partidos da “governabilidade” e fizeram subir ao poder um partido que anteriormente recebia cerca de 4% dos votos. Mesmo antes de ser eleito, o pecado original do SYRIZA foi ter admitido seguir os tratados europeus, conduzindo o governo às negociações com Bruxelas e Berlim e fazendo cair por terra bastantes aspirações dos cidadãos. Medidas como a travagem dos processos de privatização e o aumento do salário mínimo foram adiadas e a saúde continua um caos, motivando até uma greve e manifestações deste sector. É condenável a coligação que celebraram com o ANEL (Gregos Independentes), partido de direita xenófoba, quando a orientação dada pela votação foi a de subida de um governo do SYRIZA. O governo do SYRIZA deve executar de imediato uma moratória ao pagamento do serviço da dívida grega, recusar novas medidas de austeridade como cortes em salários e pensões e iniciar a recuperação da economia grega, mesmo que para o efeito tenha que emitir moeda. Só assim poderá cumprir com as promessas eleitorais feitas ao povo grego e que o catapultou ao poder.
NOTA
1 http://observador.pt/2015/05/26/o-que-distingue-as-nossas-esquerdas/