A greve dos pilotos polarizou o país, com o governo de um lado, os pilotos de outro.
As reivindicações dos pilotos eram várias: pagamento das diuturnidades, contra a fadiga, contra o discurso do governo acerca da privatização da TAP, por 10 a 20% das ações da TAP em caso de privatização (como prometido pelo governo do PS).
Do outro lado, o governo aproveitou-se da greve para reforçar o seu discurso público de que a privatização é a única saída para a TAP.
Desde o primeiro momento colocámo-nos do lado dos pilotos, contra o governo, apoiando de forma clara e inequívoca esta greve.
Na verdade, apesar da greve não se apresentar contra a privatização, ela deve ser lida no âmbito do processo mais amplo de luta contra a privatização da TAP. Nesse marco, ela tem dois significados fundamentais.
Por um lado, significou a ruptura no bloco do governo neste processo de privatização. Relembremos que em Dezembro a unidade da plataforma de sindicatos da TAP por uma greve entre o dia 26 a 30 de Dezembro, foi desmontada pela assinatura de um acordo de entendimento do governo com 9 sindicatos do setor (cujo maior era o sindicato dos pilotos), subscrevendo um caderno de encargos para o futuro comprador da TAP. Com esta greve, o sindicato dos pilotos vem mostrar a farsa do caderno de encargos proposto pelo governo (que na verdade em nada pode ser garantido) e entra em guerra aberta com os que encabeçam o processo de privatização da TAP.
Por outro lado, a greve dos pilotos é a primeira greve que, apesar das suas contradições, põe na vanguarda os trabalhadores da empresa contra o governo. Nesse sentido, a greve dos pilotos representou um movimento muito progressivo.
A maior expressão dessa dinâmica é a declaração conjunta do sindicato dos pilotos, com os restantes sindicatos que desde o início se mantiveram fora do acordo com o governo e contra a privatização (SITAVA, SNPVAC, SINTAC), representando agora cerca de 80% dos trabalhadores sindicalizados do grupo TAP (onde existe uma taxa média de sindicalização muito elevada, na ordem dos 65%). Nesta declaração, os quatro sindicatos posicionam-se contra a privatização e pela realização das ações conjuntas necessárias para travar este processo.
Esta unidade é hoje o único caminho para parar esta privatização. Nesse sentido, esta declaração conjunta é uma primeira vitória. Mas é preciso continuar. É preciso unir os trabalhadores da TAP e dar voz a todos num grande plenário para por em marcha as ações e mobilizações que possam contribuir para este processo. É preciso retomar a campanha junto da sociedade, em conjunto com o movimento Não TAP os Olhos, para trazer para a rua o apoio e solidariedade de todos aqueles que não querem esta privatização. É ainda preciso unificar a luta da TAP à luta mais ampla do setor dos transportes, que hoje são o grande eixo de ataque do governo. Só assim poderemos vencer.