Imigração Mediterrâneo

Mediterrâneo: o mar nosso onde os outros morrem

Uma sensação de escândalo e repúdio apoderou-se da opinião pública logo que os media revelaram os contornos do afundamento de um barco transportando imigrantes que demandavam a Europa Ocidental do qual resultou a morte de, pelo menos, 700 pessoas.
As imagens e os relatos dos sobreviventes deste miserável naufrágio atraíram os holofotes da
imprensa internacional para o drama de milhares de homens, mulheres e crianças que, provenientes da África e da Ásia, arriscam a vida em frágeis embarcações sobrelotadas para fugirem da extrema pobreza, da fome e da guerra.
Um drama ininterrupto que roubou a vida a 1700 pessoas desde o início deste ano, imigrantes que pagaram um preço demasiado elevado ao colocarem-se nas mãos das redes de tráfico humano.
Nesse sentido, a repulsa da opinião pública dirigiu-se para os cabecilhas dessas redes, cujos agentes ainda procuraram passar despercebidos entre os sobreviventes. No entanto, as instituições e os governos europeus não se livraram do juízo severo da população europeia que questionou a inação da União Europeia no socorro aos náufragos. Esta atitude negligente patenteada pelos organismos europeus deita por terra os ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade em nome de uma Europa de portas fechadas ao exterior. Ao mesmo tempo um racismo latente expressa-se na crescente aceitação de partidos de ideologia racista e xenófoba, num continente envelhecido, “estéril” e carente de mão-de-obra que alimente um Estado Social em declínio. Na verdade, tal política tem como resultado o perpetuar da exploração dos poucos imigrantes que conseguem atingir o El Dourado onde os espera a condição de “sem papéis” e “ilegais”.
A existência deste contigente de estrangeiros sem documentos, logo, sem direitos e recebendo baixos salários, vai necessariamente, contribuir para a compressão dos salários e direitos dos trabalhadores europeus. No fundo, está em causa o papel da Europa, quer enquanto instigador de guerras em África
e no Médio Oriente, quer, sobretudo, no perpetuar dos desequilíbrios entre Norte e Sul.
Ao mesmo tempo que África e Ásia veem cristalizado o seu papel de fornecedores de matéria-prima e de mão-de-obra quase escrava, prolongando no tempo algo que acontece desde os séculos XV e XVI. Uma última palavra para os dirigentes africanos. Já não alimentamos grandes esperanças no seu desempenho na melhoria das condições de vida dos povos que governam. Estranhamos, contudo, o seu silêncio face à dimensão e gravidade dos acontecimentos.
Urge exigir às instituições europeias uma real assistência humanitária aqueles que procuram uma vida melhor na Europa. Dramas como o que sucedem no Mediterrâneo só poderão terminar quando se abandonar a ideia de uma Europa fechada aos não europeus e forem criadas mecanismos que façam com que aqueles que nos procuram sejam tratados como cidadãos de plenos direitos.

Uma sensação de escândalo e repúdio apoderou-se da opinião pública logo que os media revelaram os contornos do afundamento de um barco transportando imigrantes que demandavam a Europa Ocidental do qual resultou a morte de, pelo menos, 700 pessoas.

As imagens e os relatos dos sobreviventes deste miserável naufrágio atraíram os holofotes daimprensa internacional para o drama de milhares de homens, mulheres e crianças que, provenientes da África e da Ásia, arriscam a vida em frágeis embarcações sobrelotadas para fugirem da extrema pobreza, da fome e da guerra. 

Um drama ininterrupto que roubou a vida a 1700 pessoas desde o início deste ano, imigrantes que pagaram um preço demasiado elevado ao colocarem-se nas mãos das redes de tráfico humano. 

Nesse sentido, a repulsa da opinião pública dirigiu-se para os cabecilhas dessas redes, cujos agentes ainda procuraram passar despercebidos entre os sobreviventes. No entanto, as instituições e os governos europeus não se livraram do juízo severo da população europeia que questionou a inação da União Europeia no socorro aos náufragos. Esta atitude negligente patenteada pelos organismos europeus deita por terra os ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade em nome de uma Europa de portas fechadas ao exterior. Ao mesmo tempo um racismo latente expressa-se na crescente aceitação de partidos de ideologia racista e xenófoba, num continente envelhecido, “estéril” e carente de mão-de-obra que alimente um Estado Social em declínio. Na verdade, tal política tem como resultado o perpetuar da exploração dos poucos imigrantes que conseguem atingir o El Dourado onde os espera a condição de “sem papéis” e “ilegais”.

A existência deste contigente de estrangeiros sem documentos, logo, sem direitos e recebendo baixos salários, vai necessariamente, contribuir para a compressão dos salários e direitos dos trabalhadores europeus. No fundo, está em causa o papel da Europa, quer enquanto instigador de guerras em Áfricae no Médio Oriente, quer, sobretudo, no perpetuar dos desequilíbrios entre Norte e Sul. 

Ao mesmo tempo que África e Ásia veem cristalizado o seu papel de fornecedores de matéria-prima e de mão-de-obra quase escrava, prolongando no tempo algo que acontece desde os séculos XV e XVI. Uma última palavra para os dirigentes africanos. Já não alimentamos grandes esperanças no seu desempenho na melhoria das condições de vida dos povos que governam. Estranhamos, contudo, o seu silêncio face à dimensão e gravidade dos acontecimentos.

Urge exigir às instituições europeias uma real assistência humanitária aqueles que procuram uma vida melhor na Europa. Dramas como o que sucedem no Mediterrâneo só poderão terminar quando se abandonar a ideia de uma Europa fechada aos não europeus e forem criadas mecanismos que façam com que aqueles que nos procuram sejam tratados como cidadãos de plenos direitos.

José Pereira

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