Os trabalhadores da EFACEC da Maia, estiveram em luta por um aumento salarial de 50€. As greves, de duas horas, foram realizadas nos dias 11, 13, 16, 18 e 20 de Fevereiro.
Nesses dias os trabalhadores, concentrados à porta da Empresa, demonstraram o seu desagrado e fizeram sentir a sua revolta pelos baixos salários que auferem enquanto os chefes, directores e administradores levam salários chorudos e são brindados com inúmeras regalias.
O MAS esteve presente solidarizando-se com a sua luta e disponibilizando apoio.
Estivemos à conversa com dois trabalhadores da EFACEC, Ricardo Ordaz (RO) e Ricardo Leão (RL) que estiveram na linha da frente dos protestos.
Por razões de segurança não publicamos as fotos dos trabalhadores e os nomes foram alterados.
MAS – Para quem não conhece a EFACEC, o que se produz aqui?
RL: Transformadores de baixa, média e alta potência
MAS – Quantos trabalhadores diretos tem a empresa?
RO: Cerca de 1100/1200 trabalhadores
MAS – Há quantos anos trabalham aqui?
RO: Há sensivelmente 6 anos.
RL: Vou fazer 8 anos nesta casa.
MAS – São contratados? Efetivos?
RO: Neste momento efetivo, mas já fui contratado
RL: Efetivo
MAS – Qual é o vosso vencimento?
RO: Eu levo para casa, depois de 6 anos nesta empresa, 530 euros por mês!
RL: Eu ganho 710 euros
MAS – Quais foram os motivos que vos levou a fazer greve?
RO: Eu fiz greve, para exigir um aumento salarial, e para me subirem de categoria, já que faço o mesmo trabalho que alguns colegas e recebo menos. Situação que se arrasta há 6 anos.
RL: Para além dos justos aumentos para quem ganha menos, eu manifestei-me e fiz greve por esta administração em apenas 8 anos estar afundar uma empresa centenária.
E depois, evidentemente, são as diferenças de classes que há aqui. Somos escravos, para indivíduos que tem todo tipo de regalias: carros novos quatro em quatro anos, gasóleo pago, via verde, cartões Gold, Ah! e as viaturas que não são Clios!
RO: Topos de gama…
MAS – Há dinheiro para bons carros para quadros superiores, mas para aumentos …
RL: O meu diretor tem um carro de 117 mil euros . Mais caro que o meu carro e a minha casa! Há administradores com poupanças reformas de 1800 €! E estas são aquelas que se conhecem, mas haverá mais certamente! Enquanto a média salarial dos trabalhadores produtivos são 600/700 €. É por isso que tanta gente participou na greve, e ainda há gente que não fez por medo de represálias. Há casos de trabalhadores que não fazem greve por terem receio que as retaliações se façam sobre as suas mulheres, com contratos mais precários. Os chefes estão sempre em cima de tudo que se passa, e se puderem prejudicar quem está na luta vão fazê-lo.
MAS – Contem-nos o que se sucedeu na quarta e sexta-feira dos dias de greve.
RO: Nós para além de estarmos em greve, estivemos concentrados em frente da porta principal. Para que eles [administradores e quadros superiores] parassem os carros para ouvirem as nossas reivindicações. Na quarta de manhã, estávamos à frente da viatura, do diretor da secção dos motores, e este arrancou sobre nós. Um dos trabalhadores torceu o joelho e teve que ser transportado ao hospital. Não é a primeira vez, desde o início da greve, que esse senhor nos provoca e ameaça avançar sobre a barricadas. E na sexta aconteceu o mesmo no outro pólo da empresa.
RL: Viu o nosso colega no chão, e mesmo assim tentou forçar a entrada mas nós impedimos e ele recuou e dirigiu-se para a outra entrada. Para além disso, umas horas depois, dizia que não tinha medo de ninguém, e que só não foi mais violento porque não quis.
RO: Esses senhores tinham que parar para ouvir a nossa revolta!
RL: Somos lá dentro sistematicamente pressionados…Os chefes estão sempre : Sempre na casa de banho? Sempre a fumar? Sempre a tomar café ? Vocês não produzem?
MAS – Estão confiantes na vitória ?
RL: A administração disse que vai falar connosco no início de Março, mas eu julgo que eles só querem passar tempo. A senhora Isabel dos Santos, quer comprar isto, e eles tão a tentar vender isto para depois ser ela ficar com a batata quente nas mãos. Mas os trabalhadores não vão baixar-os-braços.
MAS – Vão então continuar a luta até verem o salário aumentado?
RO: Vamos ter plenário, para vermos que novas formas de luta serão usadas. Mas não vamos abdicar de recuperar as poucas regalias que tínhamos e que nos foram tiradas nem dos devidos aumentos salariais!
RL: Embora a administração diga que houve aumentos salariais, na verdade o aumento foi muito para os que já tinham muito e para nós foi de 0,9%! Esses indivíduos que para além de ganharem salários muito mais elevados que os nossos, ainda gozam de inúmeras regalias. Que deveriam ser cortadas e esse dinheiro servir para aumentar salários e ajudar a empresa.
RO: É preciso arrumar com esta administração, que desde que cá estão só fazem a empresa andar para trás. Estes senhores andam aqui a encher os bolsos e depois fogem quando a empresa fechar e nós ficamos sem trabalho. E isto é a nossa vida. A fábrica não é só deles, é nossa. Somos nós que produzimos, que criamos a riqueza para eles viverem bem e nós…enfim.
MAS – Como é que vocês vêm a situação em que o país se encontra?
RL: A Efacec é o espelho do que se passa no país. É o país em ponto pequeno. São os de cima “agarrados à chupeta e os de baixo agarrados à sachola”. Os ricos cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais miseráveis, e a classe média a desaparecer. Muitos de nós tínhamos ajudas dos pais, mas hoje já não conseguem. E os ricos entretém-se a riem-se de nós, e depois espantam-se quando há revolta.
MAS – Então consideram que tem que haver uma mudança de rumo…
RO: Claro! Nós temos família! Os nossos pais que estão reformados viram as suas reformas cortadas, agora não conseguem ajudar os filhos e às vezes nem para eles é suficiente. Os reformados sofrem muito com a austeridade.
RL: É necessário fazer sentir a revolta, é necessário as pessoas manifestarem-se. Passarem das palavras indignadas aos atos.
RO: Sim, mesmo aqui, na nossa luta, já falamos da possibilidade de fazer greves de dias, é necessário endurecer a luta. Sentimos que estamos unidos. E ninguém nos vai travar.
RL: Era fechar a fábrica a cadeado. Ninguém entrava. Obrigar toda a gente a fazer greve.
Entrevista de Miguel Queirós