A vitória do Syriza nas eleições gregas trouxe ânimo aos trabalhadores e aos povos grego e europeu e a alegria popular pela derrota eleitoral dos defensores da política de austeridade da troika capitaneada por Merkel ultrapassou em muito as fronteiras da Grécia.
Os resultados das eleições gregas criaram a esperança aos povos europeus de haver a possibilidade de o Syriza romper com a governação dos partidos que, nas últimas décadas, se têm alternado nos governos, mas sempre dando continuidade às mesmas políticas capitalistas de enfrentamento aos direitos dos trabalhadores e dos povos e, nos últimos anos, acrescidas de duras medidas de austeridade, claramente visíveis na situação económica e social actualmente existente nos países do Sul da Europa.
Contudo, diversas opções tomadas pelo Syriza já causaram perplexidade, a começar pela sua coligação “pragmática” com o partido de direita Gregos Independentes e, de seguida, a eleição de Prokopis Pavlopoulos, um político de direita, para Presidente da República, por proposta de Alexis Tsipras. Estas opções, negativas para uma verdadeira mudança, foram apenas os primeiros sinais exteriores dos limites a que a direcção do Syriza impôs à sua política e programa.
Querer integrar esta União Europeia (UE), aceitar o pagamento da dívida injusta e as regras de pertencer à Zona Euro mostram-se incompatíveis com a necessidade de salvar as pessoas, dar emprego aos desempregados, devolver os salários roubados aos trabalhadores e pensionistas, reconstruir o sistema de saúde e educação públicos e promover a recuperação económica.
É esta incompatibilidade que os donos da UE sabem que existe e por isso sabem a fraqueza de quem quer negociar com o pressuposto de se manter na Zona Euro. Foi o que aconteceu nas negociações entre o Governo grego e o alemão (que se assumiu como o dono da UE) e a chantagem de Merkel mostrou resultados. O ministro Varoufakis e o Governo grego aceitaram um acordo que prolonga a situação das políticas básicas do memorando da troika: pagar a dívida (ilegítima), continuar as reformas estruturais (austeridade) e aceitar a supervisão e controlo das “instituições” (de facto a troika com outro nome). Para já, nos acordos, o Governo grego abandona posições que foram temas centrais de campanha há poucas semanas, como é o caso do perdão de parte da dívida e a sua reestruturação. Assim, este primeiro “round” de contestar a política da troika foi perdido pelo Executivo grego e, por este andar, a continuar subordinado às balizas do Euro e da UE, ficará KO dentro de pouco tempo.
As medidas que o Governo de Tsipras tomou e anunciou na sua primeira reunião devem ser aplicadas: readmissão dos funcionários públicos despedidos, parar as privatizações (nomeadamente do Porto do Pireu), aumentar o salário mínimo para os 751€, fornecimento de energia eléctrica gratuita a 300 mil famílias em situação de miséria e parar os despejos de casas hipotecadas.
A orientação expressa no actual acordo com a UE não encaminha a Grécia para aplicar estas medidas no sentido de combate à austeridade. É preciso que a mobilização dos trabalhadores e do povo grego exija ao Syriza que retome e aprofunde uma política de medidas efectivas contra a austeridade e por uma recuperação económica ao serviço do povo. Nesse sentido, é preciso parar a sangria das finanças públicas e suspender o pagamento da divida, canalizar o dinheiro para investimento público e criação de emprego, reverter as privatizações dos sectores estratégicos e rentáveis da economia, devolver os salários e pensões roubados pelos cortes da troika.
Neste contexto, e com o apoio crescente que granjeou com o anúncio das primeiras medidas (nas sondagens subiu para 45%), o Syriza deve assumir uma posição de força perante a direita e os credores e romper com eles, não cedendo à chantagem do Governo alemão.
Editorial do jornal Ruptura nº139, Março 2015