O Eurogrupo (os ministros das Finanças da Zona Euro) deu nesta segunda um ultimato ao governo Syriza-Anel para que este decida até a próxima sexta se pede uma nova prorrogação do atual resgate, que vence em 28 de fevereiro.
Segundo o presidente do Eurogrupo, se trataria de uma “prorrogação técnica” que permitiria “fazer o melhor uso da flexibilidade que já existe dentro do atual programa“. Quer dizer, as potências imperialistas da União Europeia (UE) estariam dispostas a uma certa negociação mas dentro do atual memorandum.
Por sua parte, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, disse que “estavam dispostos a firmar um acordo proposto pela Comissão Europeia: um programa ‘interino’ até agosto, pelo qual a Grécia se compromete a não adotar medidas fiscais ou que impliquem mudanças à estabilidade financeira e aceita certa condicionalidade (…) Esse projeto – afirma em tom de denúncia o ministro grego – foi eliminado pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e substituído por um documento que exige a extensão do programa atual em troca de alguma flexibilidade “.
Não faltam motivos aos trabalhadores gregos e europeus para tomar as ruas para rechaçar o ultimato do Eurogrupo, que implica paralisar as medidas de emergência tomadas pelo governo, e para exigir de Syriza que não retroceda nos compromisso pelos quais os trabalhadores e o povo grego deram seu voto: o alívio da dívida e a anulação domemorandum.
A discussão não é se deve se chamar “acordo ponte”, “programa interino” ou “extensão do programa de resgate” até agosto, mas sim se deve manter os cortes, as privatizações, a negação da negociação coletiva e o pagamento da dívida ilegítima.
Fora as garras da UE da Grécia!
Apesar de o governo Tsipras ter renunciado ao alívio da dívida (que já alcança 185% do PIB grego) e a assumido na íntegra. Apesar ter aceito os 70% das medidas do odiadomemorandum de resgate e ter se comprometido a negociar os 30% restantes. Apesar ter concordado em prorrogar o prazo do resgate e ter colocado já como sua reivindicação básica conseguir que o chamado “superávit primário” (a diferença entre a arrecadação e os gastos públicos antes de pagar juros) seja 1,5% do PIB e não como agora, 4,5%. Apesar de tudo isso, nem a UE nem as grandes potências europeias estão dispostas a sequer fazer a concessão política de rediscutir fora do marco do memorandum firmado.
O périplo da semana passada de Tsipras e Varoufakis pelas capitais europeias já deixou claro que a Grécia não vai encontrar nenhuma solidariedade na UE e seus governos: nem os que se fazem de “policial mal” (Merkel e seu séquito) nem os que fingem ser o “policial bom” (França e Itália). Todos exigem como ponto de partida que a Grécia se submeta às condições do programa de resgate, que são as de um espólio colonial. Só sobre esta base admitem medidas cosméticas que, na verdade, não mudaria nada de importante. Neste momento sua grande concessão é, em vez de se denominar como “troika”, ter se rebatizado como “as três instituições” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI).
A UE busca uma rendição forma do governo grego
Não lhes bastam as profundas concessões feitas até agora pelo governo Tsipras. A UE quer algo parecido a uma rendição formal. A UE, Berlim e Paris exigem que a Grécia deixe para trás algumas das medidas de emergência mais importantes que foram aprovadas após as eleições. Querem, por exemplo, que se mantenham as privatizações e as demissões e que se impeça a volta da negociação coletiva ou o aumento do salário mínimo.
Toda a solidariedade com o povo grego
A UE, após salvar os bancos com o dinheiro dos impostos da população trabalhadora europeia, quer agora humilhar a Grécia.
Diante disso, deve-se prestar a maior solidariedade internacional com a classe trabalhadora e o povo grego, que tem enchido as ruas para fazer frente à chantagem e proclamar que não querem ser uma colônia alemã. Deve-se sair em defesa de sua soberania e de seu legítimo direito de sair da catástrofe social em que os bancos e os governos da UE os afundaram.
Os trabalhadores e a juventude da Europa e de todo o mundo devem se colocar à frente da batalha contra o espólio da Grécia e em prol da exigência à UE e aos governos europeus que cancelem imediatamente a dívida grega.
Syriza não deve retroceder em seus compromissos com o povo grego e sim suspender o pagamento da dívida
Nos próximos dias, o governo de Tsipras deve escolher entre a completa capitulação aos imperialistas europeus ou o respeito ao mandato que lhe deu o povo grego para sair da catástrofe social.
Temos ouvido com preocupação as declarações do ministro Varoufakis à imprensa em que “prevê um acordo nas próximas 48 horas”. Mas aceitar a imposição do Eurogrupo significaria lançar por terra os compromissos assumidos pelo Syriza ante a classe trabalhadora e o povo grego.
Syriza está prisioneira de uma contradição insanável: deseja combinar a oposição às condições do resgate e, ao mesmo tempo, manter a todo custo o país no Euro e respeitar os trabalhadores da UE, assim como os acordos com a burguesia grega representados pelos ministros da Anel. Mas não é possível deter a catástrofe social grega se a condição é manter-se no Euro. Se não havia clareza, Berlim e Paris já se encarregaram de esclarecer: Syriza tem que escolher entre uma coisa ou outra.
Na terça passada, Tsipras afirmou no parlamento grego: “Já não podem pensar em comportar-se como se a Grécia fosse um país colonial e os gregos os párias da Europa“. Disse também que não aceitaria ultimatos. Mas para que estas declarações sejam verdade não se pode aceitar os 70% do memorandum.
Os gritos nas ruas da Grécia clamam por “nenhum passo atrás” nos compromissos. Mas a realidade é que, ao entrar na negociação aceitando que de nenhuma maneira se romperá com o Euro, Syriza de fato já fez profundos retrocessos.
Frente à chantagem imperialista da UE defendemos o pacote de medidas de emergência aprovado pelo novo governo. São medidas necessárias, ainda que sozinhas não sejam suficientes ante a catástrofe social que vive a Grécia. Dizemos, junto com as ruas da Grécia, que Tsipras não pode, de nenhuma maneira, renunciar a elas em nome de se manter a qualquer custo no Euro. E estamos convencidos de que estas medidas não poderão ser sustentadas se não vierem seguidas da suspensão do pagamento da dívida, da nacionalização dos bancos, controle da movimentação de capitais e a ruptura da subordinação aos tratados europeus que permitem o saque do país. Ou isto ou seguir atados à espiral de pobreza e submissão nacional.
Toda a solidariedade com o povo grego!
Fora as garras da UE da Grécia!
O governo Tsipras não deve retroceder nas medidas de emergência
Cancelamento da dívida grega
Ricardo Ayala, Ángel Luis Parras, Felipe Alegría, de Corriente Roja – Partido irmão do MAS, no Estado Espanhol.