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Governo é responsável pela ruptura nas urgências hospitalares!

Na última semana, muitas pessoas neste país, sobretudo na Grande Lisboa, receberam um amargo presente de Natal quando procuraram nas urgências hospitalares assistência para os seus problemas agudos de saúde.

No Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) o tempo de espera até um primeiro atendimento médico chegou entre os dias 25 e 27 de Dezembro a um cúmulo de 22 horas! No Hospital de São José dá-se o evento trágico e insólito de um doente falecer numa maca enquanto esperava (há 6 horas) para ser atendido e lá ser encontrado sem vida pelo próprio filho, sem que até ao momento tivesse sido avaliado ou assistido.

Para este cenário dantesco contribuírem essencialmente vários factores:

1. O agravamento da carência de profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) nas várias áreas, nomeadamente médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica. Quando a precariedade é a regra, são muitos a não verem os contratos ser renovados, outros há que deitam a toalha ao chão depois de não sentirem o seu esforço de anos de estudo e dias e noites a trabalhar em condições difíceis ser devidamente remunerado (leia-se enfermeiros a 4 euros líquidos/hora e médicos a 6 euros/hora).  A somar-se a isso, as jornadas de 16 e por vezes 24 horas seguidas com o compromisso que daí pode advir na capacidade de cuidar de doentes, contribuem para que muitos façam as malas. Se em 2014 o número de médicos portugueses a emigrar ultrapassou os 400, no caso dos enfermeiros a cifra chega aos milhares para um país cujo ratio enfermeiro activo por população residente é dos mais baixos da União Europeia.

2. A falta de camas, macas, material ou de mero espaço físico nos Serviços de Urgência e Internamento. Na âmbito dos ditames da Troika, os últimos anos têm assistido a um desmantelar (ou “reestruturar” na linguagem dos administradores) da capacidade assistencial dos hospitais públicos. O fecho de camas e de enfermarias por inteiro tem levado inevitavelmente a que os existentes fiquem a “rebentar pelas costuras”. A montante, nos serviços de urgência, é usual doentes ficarem dias à espera de vaga de internamento. Num cenário de macas arrumadas como se de peças de Tetris se tratassem, com óbvio prejuízo da privacidade, dignidade e higiene dos doentes, é difícil trabalhar não só depressa como bem.

3. A falta de uma estrutura de cuidados de saúde primários que consiga dar respostas prontas e eficazes a situações crónicas e agudas de menos gravidade. Desta forma não seriam muitos utentes impelidos a procurar nas urgências soluções para problemas que não carecem de avaliação por especialidades hospitalares ou exames complementares, sobrecarregando-as por falta de alternativa.

Se tentarmos explicar as políticas por detrás desta tragédia apenas na vontade dos governos da Troika (PS com ou sem D, mais ou menos CDS) de cortar naquele que é um serviço devido a quem trabalha e que o paga através dos impostos, ficar-nos-emos provavelmente por uma meia verdade. De facto, este regime que tem como prioridade sustentar os ganhos do capital financeiro, através por exemplo da dívida pública na sua maior parte especulativa e odiosa, cujas despesas consagradas ao seu serviço no orçamento de estado de 2015 são precisamente do tamanho daquelas alocadas à saúde: 7.9 mil milhões de euros.

Mas para além disso, não será muito difícil adivinhar outras intenções de fundo a quem tanto tem feito crescer os grandes grupos que dominam a saúde privada – José de Mello Saúde, Espírito Santo Saúde, HPP e Sanfil – e cujos serviços se tornam atraentes precisamente quando os utentes com seguros e/ou algum poder de compra, são dissuadidos de recorrer a um SNS que se desmorona.

Daí que para reganharmos e ultrapassarmos a qualidade de uma saúde pública outrora classificada como a 11ª melhor a nível mundial (dados da Organização Mundial de Saúde de 2001), não nos reste alternativa a não ser tirarmos a saúde a este governo sabendo que também não será o PS a salvar o SNS. A primeira dívida do país é com a saúde da sua população: há que suspender o pagamento da dívida pública para investir na saúde!

AT, médico

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