outdoor_prisao_confisco_x665

Alternância não é alternativa

Não constituiu surpresa a eleição de António Costa como candidato pelo PS a primeiro-ministro. Sobre ele existe um mito de ser um ‘socialista de esquerda’ contudo o seu real percurso político mostra o contrário: enquanto dirigente associativo estudantil foi a liderança direitista da unidade JS/JSD para apoiar o ministro Seabra que no ministério da educação aplicava a política do governo PS/PSD, o chamado ‘bloco central’.

Desde esse início de ‘carreira’ até à recente acção governativa como número dois do governo Sócrates, apenas a habilidade da sua linguagem pode fazer passar a ideia de que as suas posições políticas têm algo que ver com a esquerda.

A vitória de António Costa no PS colocou novamente nos holofotes os chamados ‘socratistas’ que o apoiaram entusiasticamente na campanha interna. Destacado apoiante de Costa, o ex-ministro Mário Lino na própria noite de 28 de Setembro logo afirmou “o PS não tem de se envergonhar pelo que fez nos vários governos onde esteve”.

É um sinal dos projectos de governação que virão em caso de uma vitória nas próximas legislativas, e não é por acaso que António Costa nada diz de concreto sobre o que faria num governo PS.

É necessária uma alternativa ao actual (des)governo Coelho/Portas e a toda a sua política destruidora dos direitos, salários e pensões do povo trabalhador. Mas essa alternativa não pode ser protagonizada pelo PS que apenas nos apresenta mais do mesmo que já tivemos no passado. É tempo de dizer basta a essa governação rotativa entre PSD e PS.

A realidade política e económica tem mostrado a urgência de uma profunda mudança. Os escandalosos privilégios e negociatas dos políticos que nos têm governado, onde se destacam os do PSD, PS e PP, parece que não têm fim… todos os dias se descobrem mais fraudes e outras práticas criminosas de governantes. E os donos da economia não se ficam atrás.

Os grandes patrões e banqueiros têm levado o país à ruína com os autênticos roubos que têm feito aos bancos que administram. A lista já é longa: BCP, BPN, BPP, Banif e agora o BES. E, só falamos dos que já são de conhecimento público.

Em todos estes ‘casos’ há criminosos que não tiveram punição, em todos eles há as manobras jurídicas (dos advogados do poder, pagos a peso de ouro) que levam às prescrições dos crimes.

O Movimento Alternativa Socialista (MAS) afirma-se claramente pelo fim dos privilégios dos políticos e pela exigência da prisão e confisco dos bens dos banqueiros que roubaram os bancos.

Exigimos a alteração da actual Lei das Prescrições dos crimes económicos para que os ricos e poderosos não continuem a ficar impunes. De adiamento em adiamento, de recurso em recurso, os poucos donos do poder (económico e político) que já foram condenados safam-se quase todos e não pagam pelos crimes cometidos.

O MAS pugna por uma alternativa de esquerda que una num programa de medidas urgentes a esquerda que combateu a troika e o governo e que nos últimos anos se encontrou nas grandes manifestações populares como foram as mobilizações do 15 de Setembro de 2012.

Em alternativa ao PSD/PP e ao PS é urgente uma política que devolva aos trabalhadores, pensionistas e ao povo tudo aquilo que lhes foi roubado por meio dos cortes salariais e dos brutais aumentos de impostos. Para que haja dinheiro para essa política defendemos que os sectores estratégicos e lucrativos da economia devem estar em mãos públicas e sob controlo dos trabalhadores: os sectores financeiro, energético, comunicações, devem financiar os serviços públicos de saúde, segurança social,  educação e transportes.

Agir para estes objectivos é o que propomos e para isso serão decisivas as mobilizações e contestações populares. É preciso organizar de novo a saída às ruas para manifestarmos a raiva que hoje é generalizada mas que se encontra contida. Não basta dizer, é preciso fazer.

 

Editorial do Jornal Ruptura nº137, Outubro 2014

Anterior

Basta de roubo e impunidade

Próximo

Charlie Hebdo: um massacre, vários alvos