Nos dias 8 e 9 de Julho os médicos voltaram, dois anos depois, a fazer greve contra as políticas de saúde do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
A convocatória, desta vez feita só através da FNAM e sem o apoio do SIM, tradicionalmente mais à direita, foi motivada pelos progressivos ataques ao Sistema Nacional de Saúde (SNS), como fecho de serviços, hospitais, maternidades e centros de saúde. Para além disso, várias ilegalidades do Governo, como a imposição de aumento de listas de utentes a médicos que não aderiram ao regime de 40h, as permanentes ilegalidades no que diz respeito a horários e folgas que são vividas todos os dias nos hospitais e os constantes atropelos, mentiras e ilegalidades dos concursos para especialistas foram alguns dos factos que empurraram a classe para novas lutas.
A gota de água foi o código de ética que o Governo queria impor, que impedia a classe de falar sobre situações que se vivem nos seus hospitais. Os médicos ficariam proibidos de falar sobre a política de medicamentos, de recursos, sobre as indignidades que sofrem e vêm os seus doentes pagar todos dias.
A FNAM fala de 90% de adesão à greve, tendo esta sido sentida em muitos hospitais a Norte e Sul do país. Nos telejornais vários doentes diziam-se solidários e a favor. Os motivos da greve eram muitos, justificados e óbvios.
O que mudou em dois anos?
A pergunta que se impõe e que qualquer médico terá que fazer é simples: porque é que se demorou dois anos a fazer greve? Os atropelos alguma vez pararam? O desmantelamento do SNS abrandou alguma vez, nalgum período, nestes últimos dois anos? Houve, e isto seria o mínimo dos mínimos, alguma abertura do Ministério da Saúde para ouvir a classe, as suas preocupações e avisos? A resposta é óbvia: não.
Desde a greve de 2012 e o posterior acordo assinado pelos dois sindicatos e pelo Ministério da Saúde (MS), não houve um dia em que o Governo desse tréguas ao SNS. Todos os dias há menos recursos e os ataques aos trabalhadores de saúde nunca pararam. Fosse no marco da função pública, com os cortes nos salários, com o aumento dos impostos ou noutras medidas particulares: os enfermeiros viram os seus horários aumentar com manutenção de horário e os concursos para médicos recém-especialistas continuam um circo de ilegalidades e tentativas de impugnação para um salário cada vez mais baixo.
As consequências da austeridade na saúde resumem-se no artigo da Lancet, de Julho de 2014: desde a entrada do FMI em Portugal, o número de chamadas para o INEM para evitar tentativas de suicídio subiu 41%, o número de consultas de saúde mental para crianças e adolescentes subiu 30%. A depressão na população adulta portuguesa, estimada em 10,8% em 2008 (e já era o número mais alto da União Europeia) subiu para 16,3%, números que a prestigiada revista atribui ao aumento do desemprego e dos cortes de salários e pensões.
E a seguir?
O Movimento Alternativa Socialista (MAS) saúda a luta dos médicos e apoia todos aqueles que dia 8 e 9 fizeram greve, lutando pelo SNS, pelos doentes, pelos seus postos de trabalho. Apoiamos todas as lutas contra as políticas do Governo que, como mostra o artigo da Lancet, massacram sem piedade a população.
No entanto, de forma a não esperarmos de novo dois anos, é preciso que a greve não seja um fim em si mesmo, mas o princípio de uma luta sistemática e sem tréguas que termine finalmente com estas políticas. Para isso, é necessário evitar qualquer acordo (como o de há dois anos) sem o apoio da base.
Os sindicatos deviam convocar um plenário de médicos para que seja a base a decidir o futuro da nossa luta. O Ministério da Saúde de Paulo Macedo já provou (bem mais do que uma vez) não ser merecedor de confiança. O pouco que prometeu em 2012 não foi cumprido.
E além disso, é necessário que os sectores da saúde se unam para uma greve conjunta de médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de saúde a favor do SNS. Se Macedo, Portas, Moedas e Coelho estão juntos contra nós, é obrigatório que nos juntemos todos os profissionais da saúde contra eles.
Todos pelo SNS!