Os trabalhadores e pensionistas portugueses entram no mês de Fevereiro com menos dinheiro para poderem viver condignamente.
Mais uma vez é sobre “os culpados do costume” que o criminoso governo de Passos/Portas lança mais austeridade e roubo no salário e pensões.
Os trabalhadores da administração pública têm o salário base roubado entre 3,5% e 12%, mais pensionistas estão obrigados ao novo imposto, denominado de Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), e milhares de reformados das empresas públicas ficam sem os complementos de reforma (entre 40 a 60% do que recebiam).
Este terrorismo de estado contra os trabalhadores e pensionistas precisa de uma resposta diferente da que tem sido dada. As manifestações e greves, mais ou menos simbólicas e ordeiramente realizadas com início e final previamente marcados não fazem recuar governo, patrões e a troika.
Como diz o primeiro-ministro Passos Coelho, “a contestação nos marcos legais favorece a democracia”, deles, para continuarem o (des)governo, o roubo e a austeridade, também nos “marcos legais”.
É por isso que se impõe outro tipo de respostas e mobilizações que contribuam para que se repitam manifestações como o 15 de Setembro de 2012, quando a ocupação das ruas impediu o “normal” funcionamento das cidades, mostrou a força do povo em luta e obrigou os de cima a recuar.
É preciso dar espaço a novas mobilizações, organizadas a partir da base e democráticas, pois essas, quando existem, têm mostrado capacidade de vencer. A luta dos professores contratados organizados no Boicote & Cerco contra a “prova de avaliação” foi um recente bom exemplo de luta vencedora.
A esquerda movimenta-se
São muitas centenas de milhares os que participaram nas manifestações contra o governo PSD/CDS e a troika, contra as políticas de austeridade da União Europeia e do euro, que só trazem desemprego e fome, contra uma dívida que não cessa de aumentar e cujo pagamento dos juros esmifra o país.
E são estas centenas de milhares de manifestantes que procuram uma alternativa à situação que nos trouxe até aqui: a alternância governativa entre PS e PSD e a submissão à União Europeia (UE), à dívida e ao euro.
Os ativistas que se movimentam na esquerda para dar corpo a uma alternativa precisam conhecer as respostas que os diversos grupos que se estão a constituir dão sobre temas essenciais, que diferenciam uma alternativa política de políticas de continuidade, nas quais se muda algo para na essência ficar tudo na mesma. É neste contexto que é útil o debate para tentar uma convergência da esquerda contra a troika.
O MAS destacou-se nas lutas e manifestações antitroika que nos dois últimos anos correram o país. Nestas manifestações participaram muitos sectores sociais e políticos e, nos últimos meses, foram vários os movimentos políticos que se constituíram (o Livre de Rui Tavares, o 3D de Daniel Oliveira, a Sessão Cívica de Coimbra); já antes existia o Congresso Democrático das Alternativas (CDA), de Carvalho da Silva, e a nível de partidos parlamentares, o PC e o BE, igualmente contra a troika.
É necessário saber se esses movimentos que se afirmam por uma convergência de esquerda (se bem que excluam dela o PC e também o MAS) em corte com as políticas atuais se querem constituir como alternativa a esta política do euro que afunda o país e também ao PS (responsável pelas governações anteriores que nos levaram à troika), ou se, pelo contrário, se querem colocar como candidatos a apoiantes de um governo PS e conciliadores com as políticas do euro e da UE.
Lamentavelmente as primeiras declarações e alguns eixos programáticos do Livre e do 3D indicam que se constituem para serem muletas de um governo PS. No mesmo sentido vai o CDA e as componentes do movimento cívico que reuniu em Coimbra no dia 21 de Janeiro.
O MAS tentará verificar as possibilidades de uma convergência de esquerda contra a troika, o euro e a alternância governativa do bloco central de interesses que governa a Europa e Portugal. Na impossibilidade dessa convergência, o MAS apresenta candidaturas próprias à eleição para o Parlamento Europeu e abrirá as suas listas a candidaturas independentes representativas de sectores que se destacaram na luta contra a troika e o governo, como são os estivadores e os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e da Função Pública, os professores e ativistas dos movimentos sociais.
Editorial Jornal Ruptura nº134, Janeiro 2014