A revolta dos trabalhadores ficou expressa particularmente nas ruas da capital, com a greve dos cantoneiros e motoristas dos serviços de limpeza da Câmara Municipal de Lisboa (CML). O presidente da Câmara, António Costa, quer transferir cerca de 1800 trabalhadores autárquicos para as juntas de freguesia, entre os quais 870 ligados aos serviços de higiene urbana. Por trás dessa medida está o objetivo de poupar recursos e abrir caminho para a privatização de serviços até agora garantidos pela autarquia.
Na nota “Informação à População”, o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) explica: “Estaremos em greve porque não aceitamos o esvaziamento da CML e das suas competências! Não aceitamos ser transferidos para uma qualquer junta de freguesia sem garantia nem salvaguarda no que diz respeito aos nossos direitos, rendimentos e vínculo laboral! Não aceitamos liminarmente a extinção do nosso posto de trabalho! Não aceitamos a imposição do fantasma da mobilidade! Não aceitamos falsos argumentos para justificar a privatização, concessão ou externalização dos serviços públicos municipais!”.
A greve dos cantoneiros e motoristas dos serviços de limpeza começou à meia-noite de 24 de dezembro e prossegue até 5 de janeiro, tendo alcançado 85% de adesão, segundo o STML. Os demais funcionários municipais participam do movimento, aderindo à paralisação em algumas datas, pois estão igualmente ameaçados de transferência para as juntas de freguesia e prejudicados pelo Orçamento do Estado para 2014, pela lei das 40 horas e pelos cortes nos vencimentos, pensões e prestações sociais.
Mais greves
Além dos funcionários municipais, já fizeram ou vão fazer greves nos próximo dias os motoristas dos Transportes Sul de Tejo (TST), da Carris e da Rodoviária do Tejo; os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa, dos CTT e da Groundforce.
A greve nos TST contou, no dia 25 de dezembro, com a adesão de 75% dos motoristas, apesar das pressões da empresa. Novas paralisações estão marcadas para os dias 31 de dezembro e 1 de janeiro. O mesmo calendário têm os trabalhadores da Carris.
No dia 7 de janeiro será a vez dos trabalhadores da Rodoviária do Tejo se integrarem à luta, com uma greve de 24 horas. Eles reivindicam a manutenção do acordo de empresa e aumento salarial. Neste dia, está prevista uma concentração em frente aos correios de Torres Novas, seguida de marcha até à sede da empresa, pertencente ao grupo Barraqueiro, para entregarem a resolução dos trabalhadores aprovada em plenário.
No metro, os trabalhadores vão continuar, a partir de 2 de janeiro, as paralisações parciais que vêm realizando há meses, junto com os seus colegas da Carris, CP e transportes fluviais, contra os efeitos do Orçamento para 2014 nos seus salários e direitos. Efeitos que implicam cortes salariais, despedimentos, redução das indemnizações compensatórias e a privatização de linhas, entre outros. No caso do metro, o artigo 73º do Orçamento do Estado pretende retirar na totalidade a pensão complementar legalmente atribuída aos seus reformados, um direito contratual estipulado em 1960.
No aeroporto de Lisboa, os trabalhadores da Groundforce fizeram greve no dia 24 e têm outra marcada para o dia 31, em protesto contra a reorganização dos tempos de trabalho, que poderá provocar horários de nove e dez horas. Nos CTT, a greve foi hoje (dia 27) contra a privatização da empresa e obteve, segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, 72% de adesão no turno da noite nas centrais de Lisboa, Porto e Coimbra.
Todo esse movimento grevista é muito importante na luta contra o governo, a troika e as medidas de austeridade impostas aos trabalhadores. Demonstra vontade de lutar e desgasta o governo. Mas dificilmente será vitorioso, isto é, impedirá a aplicação das medidas previstas no OE e a anulação das já em vigor, se não confluir para um calendário de lutas unitário, que incorpore outros setores igualmente prejudicados pelo governo e dispostos a participar da mobilização e adote formas de mobilização mais radicais.
Toda a solidariedade à greve dos cantoneiros e motoristas dos serviços de limpeza da Câmara Municipal de Lisboa e demais trabalhadores em luta.