Os professores, particularmente os contratados, voltaram à luta. Desta vez a troika e o governo voltam à carga com o processo de correr do ensino ainda mais alguns milhares de professores, continuando assim a sua ofensiva contra a escola pública e o ensino de qualidade.
Depois de, em Junho passado, a luta e greve às avaliações terem impedido a concretização dos planos de Gaspar/Passos/Crato para despedir milhares de professores, o governo aplica agora a chamada “prova de acesso” à carreira para assim introduzir mais um mecanismo para concretizar o que a troika continua a querer: abrir mais espaço ao negócio do ensino privado.
Mais uma vez os professores se indignaram e saíram à luta, e também mais uma vez o fizeram com ações de rua e auto-organização por fora dos sindicatos. A convocação de concentrações em Lisboa, Coimbra, Braga, Santarém e Évora, dinamizadas por grupos de professores contratados, deu o pontapé de saída para a luta. As propostas de professores contratados para formar comissões de dinamização da luta e destas se coordenarem nacionalmente (Lisboa, Coimbra e Braga e que agora chegam a 17 cidades) deram continuidade à luta e à sua radicalização. Os sindicatos da FNE/UGT e da FENPROF/CGTP tiveram de entrar em cena.
A FNE convocou concentrações em Lisboa e no Porto, nas quais os professores contratados, contra a vontade dos dirigentes sindicais, tomaram a palavra e o comando e transformaram-nas em manifestações espontâneas, dirigindo-se ao ministério da educação em Lisboa e à Avenida dos Aliados, no caso do Porto. Foram estas demonstrações de radicalização e força mobilizadora da luta, particularmente no caso da manifestação de sábado, dia 30 de Novembro, no Porto que mostraram ao governo e à burocracia sindical o caminho que a luta estava a tomar, dirigida pela base e procurando organização por fora dos sindicatos tradicionais, dos sindicatos da concertação ou do faz de conta.
A manifestação dos professores contratados no Porto foi exemplo de como uma ação mais firme e combativa junta e une. Os 500 professores que escutavam os dirigentes sindicais exigiram a palavra e mais ações. Apesar da recusa dos dirigentes sindicais, os professores tomaram a palavra e a ação e seguiram em manifestação para o centro da cidade. De imediato se juntaram mais algumas centenas e professores que até esse momento só observavam o “comício sindical”. Foi esta força da base que multiplicou o número de professores manifestantes, enchendo as ruas e atrapalhando o trânsito. O governo viu este “sinal de alarme” e rapidamente concretizou um acordo com os sindicatos da FNE, lançando a divisão ente os professores contratados e procurando desmobilizar a luta.
Perante a luta o governo cedeu ao diminuir para mais de metade o universo dos professores que teriam de prestar “provas”, de 45.000 passa a 13.500. Os professores começaram a ganhar, tiveram uma meia-vitória apesar da traição dos sindicatos da FNE que tudo fazem para impedir que a mobilização continue e que a vitória seja total. O atual movimento sindical, com direções prisioneiras das estratégias “constitucionais” ou dos partidos do arco governativo não levam os professores à vitória, pelo contrário.
Mais uma vez se torna claro a necessidade de fortalecer a construção de direções que respondam às necessidades de vitória nas lutas, que respeitem o sentir da base e que implementem a democracia na luta. É neste sentido que caminharam as comissões de luta dos professores contratados, um exemplo a repetir e consolidar para que futuramente venham a ter a força necessária para superar a ineficácia das direções sindicais da FENPROF, e impedir o nefasto papel de traição da burocracia sindical, no caso dos professores hoje capitaneada pela FNE/UGT.
O MAS apoia o caminho da mobilização, da democracia nas lutas, da organização das comissões formadas pela base trabalhadora em luta, pois é este o caminho para as lutas vencerem.
Editorial do Jornal Ruptura nº133, Dezembro 2013