O pífio “crescimento” de 0,2% do PIB no terceiro trimestre de 2013 e a suposta “diminuição” do desemprego tem levado o governo a declarar que a recessão está com os dias contados. Não passa de uma das mentiras que o governo tem contado para tentar atenuar o seu desgaste. Vejamos algumas delas.
Já saímos da recessão
Só quem vive com salários de topo, saltando entre ministérios e grandes empresas pode achar isso. O país afunda cada vez mais. Há muitos dados que o comprovam. Mas o que mais comprova esta falsidade é o Orçamento de Estado para 2014. Se já saímos da crise, porque se vai continuar a cortar nos salários? Porque se esmifra os pensionistas cortando inclusive nas pensões de sobrevivência? Porque se corta mil milhões de euros na saúde, educação e segurança social? A política da troika e do governo é a de forçar a recessão: apostar em baixos salários, em que a riqueza do país vai para fora, através do pagamento interminável da dívida, através da privatização de empresas a multinacionais estrangeiras e através da fuga aos impostos que todas as grandes empresas portuguesas praticam. Este é o plano e implica recessão, uma guerra económica baseada na destruição de empresas, perda de habitações, deterioramento da saúde e até mortes das populações.
O desemprego diminuiu
Estatisticamente o desemprego que na primavera rondava os 18% desceu agora para perto dos 15%. Como se não continuasse a ser um número altíssimo. Mas não só: o desemprego pode ter baixado, mas o emprego não aumentou. O que se passa é que o desemprego de longa duração aumenta e há cada vez menos pessoas inscritas nos centros de emprego, até porque cerca de metade dos desempregados não recebe qualquer subsídio. Além disso saem 10 mil pessoas do país por mês. Em 2012 foram 121 mil os que emigraram, um número maior que no tempo do Estado Novo e da guerra colonial.
Vamos sair do “protetorado da troika”
Outra mentira é que depois do fim do programa de ajustamento ficaremos “fora do protetorado da troika”. Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, assumiu o cenário de um “programa cautelar” na sequência da saída da troika. Ora um programa cautelar significa que Portugal continuará a endividar-se nos mercados com o BCE como fiador. Obviamente, tal como faz hoje, o BCE vai pedir contrapartidas: austeridade e mais austeridade. De resto, um país que não tem nem produção, nem moeda própria, que aceita que os seus Orçamentos de Estado sejam revistos em Bruxelas, é cada vez menos soberano e mais dependente.
Estamos a pagar a dívida
Isto tudo serviria para quê? Para pagar a dívida, diz o governo. Se não fosse a troika não haveria dinheiro para salários e pensões. Isso é uma mentira descarada! A dívida vai chegar aos 131% do PIB no final do ano, o maior valor de sempre. Não começamos a pagar o grosso da dívida, mas só os seus juros. Em 2013 foram 8 mil milhões em juros da dívida e serão 7,2 mil milhões em 2014. Dos 78 mil milhões que a troika nos “empresta”, teremos de pagar 34 mil milhões em juros. É para pagar tudo isso que se cortam salários e pensões. A dívida não é justa, resulta de buracos criminosos como o BPN, os submarinos de Portas, os desvios de Alberto João Jardim, as PPP’s e outros exemplos. Serve apenas para enviar o dinheiro que resulta do trabalho no nosso país para os cofres da grande finança europeia.
Não há alternativas
Esta é a maior mentira. Há que suspender o pagamento e fazer uma auditoria à dívida. Ir atrás dos criminosos que afundaram o país, prendê-los e confiscar os seus bens. Há que ir buscar o dinheiro onde ele está: na banca que só vive graças ao dinheiro dos nossos impostos, nas PPP’s ou nos offshores. Há que fazer um referendo que prepare uma saída do euro. Assim haveria dinheiro e condições para criar um milhão de postos de trabalho na indústria, pesca e agricultura que a União Europeia destruiu.
Manuel Afonso