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Estalinismo não é socialismo

O significado histórico da Revolução de Outubro de 1917

A propaganda burguesa diz que o estalinismo é a continuidade do leninismo. Nisto coincidem com os estalinistas. Estaline seria o herdeiro de Lenine, o PCUS estalinista seria o velho partido Bolchevique e a Revolução Russa a responsável da ditadura de partido único.

Para nós, o estalinismo é o oposto do leninismo. É a expressão da contrarrevolução na democracia operária implantada em 1917, é a sua degeneração.

A revolução de Outubro de 1917 na Rússia foi a maior vitória na história do movimento internacional dos trabalhadores. Tomaram o poder, expropriaram os capitalistas, que exerciam a sua ditadura de classe, e impôs-lhes o poder operário sob um regime de democracia para os trabalhadores. Aprovou-se a constituição mais avançada do mundo em igualdade e democracia para os explorados e oprimidos.

Esta revolução deu-se no elo mais débil do imperialismo, e ameaçou romper a cadeia inteira ao estender-se ao seu coração na época, a Alemanha. Lenine e Troski sabiam que a Revolução podia começar na Rússia, mas se não triunfasse na Alemanha, não se poderia manter isolada num país atrasado. Por isso Lenine declarou mais uma vez que estaria disposto a sacrificar a Revolução Russa se fosse necessário para que triunfasse na Alemanha. Mas esta foi derrotada e vários exércitos estrangeiros invadiram a URSS. Foi necessário vencê-los para defender a revolução, esperando uma nova oportunidade internacional. O isolamento prolongado e a debilidade económica produziram uma situação de distribuição desigual da produção, fortalecendo uma burocracia dirigente. Nos seus últimos anos, Lenine já alertava para as tendências burocratizadoras do estado nessa situação. Pouco antes de morrer alertou o partido sobre o papel de Estaline, recomendando que fosse apartado do poder.

A contrarrevolução estalinista

Estaline, no governo, converteu-se no melhor representante dessa casta burocrática que tinha privilégios e que se apoderou do controlo do Estado. Por isso, dizemos que o estalinismo supôs a reação. Defendeu o socialismo num só país, acabou com a democracia operária e impôs um regime de terror. Abandonou a defesa da independência de classe, defendendo a colaboração com os capitalistas em todo o mundo quanto estes eram aliados do governo da URSS. No campo moral, provocou a degeneração total, pois introduziu no movimento dos trabalhadores o método da calúnia, da falsificação e do terror. Nos Processo de Moscovo (uns aberrantes julgamentos-farsa onde se obrigava a históricos dirigentes da Revolução como Zinoviev, Kamenev ou Bukharín a confessarem-se culpados dos crimes mais inverosímeis) foram executados numerosos dirigentes bolcheviques. No final deste período, 80% do antigo Comité Central bolchevique tinha sido assassinado.

O partido dos anos 30 já não tinha nada que ver com o que Lenine dirigiu. Tinha outra base social, outra direcção. Havia-se enchido de funcionários burocratas em vez dos valentes e abnegados bolcheviques. A adoração ao chefe havia-se convertido em “lei”. Trotski, exilado até ser assassinado em 1940, advertiu que ou bem os trabalhadores soviéticos readquiriam a sua força e faziam uma revolução que derrubasse a burocracia, ou a burocracia à frente do estado avançaria para a restauração capitalista.

Um dos erros do estalinismo mais fatídicos foi o pacto com Hitler permitindo que este invadisse a URSS, que acabou ganhando a guerra graças ao heroísmo do proletariado soviético. Nesta época, os estalinistas dissolveram a III Internacional como gesto de boa vontade para com o imperialismo. A crise no seio da burocracia e a disputa após a morte de Estaline fez com que um sector da mesma denunciasse os seus crimes. Mas esse sector era igualmente burocrático e foi continuador do estalinismo mantendo as suas características: socialismo num só país, regime burocrático, moral degenerada, conciliação de classes… Por isso, todas as variantes do estalinismo têm muitas coisas em comum, mantêm a mesma ideologia aparelhística, a mesma moral do vale-tudo, etc.

Novos Outubros virão

O estalinismo manchou o nome do socialismo. Mas os trabalhadores ainda não tiveram a sua última palavra. A burguesia, que demorou 400 anos para erigir o seu estado, não pode decretar o fim da história. Este novembro* cumprem-se 96 anos da Revolução Russa. É necessário resgatar os valores da mesma e limpar o nome do socialismo. Novos Outubros virão! Os trabalhadores podem derrotar o imperialismo e construir um mundo socialista, sem explorados nem exploradores, sem opressão de nenhuma classe. Um mundo socialista é possível e necessário.

 

Juan P. da Corriente Roja, secção da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional no Estado espanhol

*Tradicionalmente a revolução russa com os bolcheviques na sua liderança é conhecida por Revolução de Outubro de 1917, é assim porque a Rússia naquela época tinha adoptado o calendário Juliano, que em relação ao calendário Gregoriano existente em boa parte dos países do mundo estava atrasado em 13 dias (em 1918 o novo governo soviético mudou o calendário), ora a revolução russa deu-se a 25 de outubro, no entanto, pelo calendário, que actualmente permanece sendo o nosso, ela foi a 7 de Novembro de 1917.

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