O orçamento de 2014 apresentado por Passos Coelho trata-se, como já se esperava, de mais um grande ataque contra os direitos de trabalhadores, reformados e jovens de nosso país. Cortam-se salários de quem trabalha e benefícios de quem trabalhou para tê-los, ao mesmo tempo em que se poupa dos sacrifícios os grandes empresário e a banca.
O habitual, mas com o agravante de que soma cortes aos já existentes, o que significa aumentar a pobreza e a recessão no país.
Era de esperar e desejar uma resposta enérgica por parte das direções políticas e sindicais da classe trabalhadora. Infelizmente, não foi isso que aconteceu.
Justamente no dia do anúncio pelo governo do projeto de orçamento para 2014, a CGTP também anunciou que tinha desistido, devido à proibição do governo, de fazer passar o protesto de 19 de outubro pela ponte 25 de abril. Um recuo que demonstrou fragilidade quando era preciso mostrar força. Um mau serviço da CGTP aos trabalhadores e ao povo deste país ainda que não deixássemos de ter estado presentes na manifestação, como acaba de acontecer.
Como ficou claro, e prejudicado pela chuva intensa que caiu em Lisboa, este protesto (em Lisboa, no Porto e em outras cidades) não serão suficientes para obrigar o governo a desistir de alguma das medidas expostas no orçamento (como aconteceu com o aumento da TSU no 15 de setembro de 2012)? Dificilmente, se o modelo de protesto da CGTP, a de hoje, a de tantas outras anteriormente realizadas continuar a prevalecer.
Os protestos recentes e menos recentes já demonstraram que não basta organizar manifestações ou concentrações e greves rituais para derrotar governos, sequer obrigá-los a engavetar alguma medida. É preciso, em primeiro lugar, muita gente na rua (como no 12 de março de 2011, com a Manif da Geração à Rasca e o 15 de setembro de 2012); além disso, para que a vitória assegure uma mudança de rumo (o fim da dita “austeridade” e o fim do governo da direita), é preciso … não sair da rua; ou manifestações de massas de grande amplitude o que só se consegue (como se pode comprovar na da Geração à Rasca e na de 15 de setembro de 2012), quando elas não são (!!) convocadas directamente pelos actuais partido políticos dominantes na esquerda (PC e BE) nem pelas actuais centrais sindicais (a CGTP e menos ainda a UGT); é preciso fazer greves que se apoiem na organização pelos locais de trabalho e com democracia para decidir quando parar e como continuar e não de acordo com a agenda do PCP ou suficientemente afastadas na data dos momentos mais cruciais de contestação, como foi disso exemplo a convocatória da greve geral de Novembro de 2012 bastante longe do pico de mobilizações de massas, o 15 de Setembro (relembre-se que nessa data o próprio PCP se opôs à convocatória do 15 de setembro tendo marcado o seu protesto habitual, via CGTP, para o fim desse mês, bastante menos expressivo, claro, do que se tinha vivido poucos dias antes).
Regressemos, no entanto à realidade desta semana. Nesta semana, de 19 a 26 de outubro, temos de novo a oportunidade de fazer valer a nossa voz. Não totalmente como desejaríamos mas com acções de rua convocadas. Há muitos trabalhadores a lutar contra o roubo de direitos, como os estivadores, os do setor do transporte e da Função Pública, e também há a manif de 26 de outubro, convocada pelo coletivo Que se Lixe a Troika (do Rossio até São Bento, a partir das 15:00).
Estivemos na rua hoje dia 19, voltemos às ruas para mostrar que estamos fartos! Vamos continuar mobilizados até o dia 26 de outubro, ao lado dos estivadores e de todos os grevistas deste país. Aumentemos o número de manifestantes já no dia 26. É que há que apear do poder o governo que não recua perante doses de toneladas de austeridade que têm afundado sem limites a economia do país e de forma violenta o emprego e o nível de vidas de milhões de trabalhadores, de jovens, de reformados e pensionistas.
Cristina Portela