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Sem Gaspar e Portas, Passos vai a seguir. E a esquerda, festeja e une-se ou só festeja?

Se olharmos para as últimas semanas vemos a queda do governo em câmara lenta. O que já se adivinhava desde a grande manifestação de 15 de Setembro de 2012, na verdade o protesto que feriu de morte o governo de Passos/Portas. No entanto, nas últimas semanas, a situação agravou-se.

Primeiro, foi a forte greve às avaliações protagonizada pelos professores, contra o novo pacote de austeridade. Essa greve permitiu o que ninguém acreditava ser possível: um recuo do governo (ainda que parcial) nas medidas de austeridade. Essa vitória dos professores, que davam voz à revolta de todos trabalhadores, mexeu com o Governo. Dias depois os jornais anunciaram que a troika criticava o governo por ter cedido. Na verdade a troika (e o ministro Gaspar) queria que o governo não tivesse cedido nada e que despedisse já em Setembro próximo mais 10 a 20.000 professores.

No dia seguinte ao recuo do governo frente à luta dos professores, o país parou numa forte Greve Geral que uniu as duas centrais e mostrou que, apesar de haver menos manifestações nos últimos meses, os trabalhadores estão mobilizados, têm resistido e podem voltar a encher as ruas a qualquer momento.

Dias depois é Gaspar que se demite. A demissão de Gaspar é o resultado de algo que vem já de longe. Ele próprio admite que perdeu a autoridade com a derrota da TSU, ou seja, ele mesmo admite que foi a maior mobilização que o país viu em décadas que correu com ele, mesmo com meses de atraso. Os resultados da sua política, os erros das suas previsões, as gafes das suas intervenções ajudaram, mas não foram o central: afundar o país e esmagar o povo para pagar a dívida sempre foi a sua intenção. Não foi essa política que demitiu Gaspar, mas a oposição popular que ela gerou.

A substituição de Gaspar, pela secretária de estado Maria Luísa Albuquerque foi uma emenda “pior que o soneto”. Por um lado, porque ela mesma era um dos rostos da austeridade que desprestigiou Gaspar, por outro porque ao não ceder a Portas, que queria correr com Gaspar para ter nas finanças alguém da sua confiança, abriu mais brechas na coligação.

Esse desgaste – que como já referimos tem origem na grande manifestação de 15 de Setembro – podia já ter levado à queda do governo. Se Cavaco quisesse teria muitas razões para demitir o Governo, como os dois Orçamentos inconstitucionais que aprovou. Porém o Presidente quis prezar a estabilidade de um governo que procurava cilindrar a população enquanto os seus amigos do BPN, como Oliveira e Costa, eram ilibados dos crimes financeiros com que afundaram o país.

Também as mobilizações e greves podiam já ter derrubado o governo. Porém a estratégia das direcções, seja do movimento sindical, como a cúpula da CGTP, ou dos movimentos sociais, como o Que Se Lixe a Troika, foi desgastar o governo, mas sem o derrubar de imediato. Em vez de fazerem como no Brasil e Turquia, manifestações consecutivas, dia após dia, semana após semana, juntando todos os sectores, estes movimentos fizeram lutas “aos poucos”, manifestações divididas por vários meses. Assim ajudaram BE e PCP, os partidos que lhes são próximos, a subir nas sondagens, porém não puseram um fim ao governo, como podia ter sido feito após o 15 de Setembro ou até o 2 de Março. Deixaram o crédito para Portas…

Agora o Governo está prestes a cair. Parece que são os malabarismos de Portas que matam a coligação. Mas Portas só se demite – para salvar-se a si mesmo, ao seu partido e assim o regime – porque sob seus pés o chão tremeu, com as mobilizações populares e as greves, que isolaram o governo e derrotaram várias medidas de austeridade, como a TSU ou o corte nos subsídios que o Tribunal Constitucional foi obrigado a bloquear.

 

E agora?

Agora há que continuar nas ruas, fazer da Greve Geral um início e não um fim da mobilização. Ver nas quedas de Gaspar e Portas um motivo de mobilização e não para voltar para casa. É preciso garantir que o Parlamento é dissolvido, o Governo demitido e que a austeridade pare já.

Mas é preciso garantir também que a felicidade de ver cair ministros, e rapidamente um governo, tão odiado, não se transforme na antecâmara de um novo governo na austeridade, um governo PS de António José Seguro que não passa de um clone de Passos Coelho. Nesse sentido cabe a BE e PCP convocarem um Congresso Nacional da esquerda e dos trabalhadores contra a troika e a austeridade, para preparar um governo de esquerda sem PS, sem Troika e sem austeridade. Essa é uma tarefa para ontem. Se não for feita, a esquerda festeja não só a derrota de Passos como uma vitória de Seguro.

Uma unidade de esquerda para um governo contra a Troika tem de contar com o PCP e o Bloco de Esquerda, de quem se espera que não se contentem em ganhar os votos e os subsídios que eles garantem, mas também mudar a vida dos trabalhadores. Um novo governo de ruptura com o sistema só pode advir de uma unidade PC e BE, sem isso teremos o regresso do PS ao poder e de novo a mais … austeridade. É preciso também levantar um programa de esquerda em ruptura com a austeridade e o sistema. É preciso um referendo para sair do euro, é preciso uma moratória imediata no pagamento dos juros da dívida para devolver os subsídios, pensões e salários roubados e investir na criação de emprego. É preciso prender quem roubou e endividou o país e terminar com os privilégios de políticos e governantes. É preciso seguir o exemplo do Brasil, do Egipto e da Turquia e continuar nas ruas: desta vez não nos enganam!

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