Ao fim da tarde do dia da Greve Geral o Ministro da Presidência, Marques Guedes, afirmou “o país não está parado”. Tem razão: pelo menos desde quando a troika aterrou na Portela e este governo tomou posse, que o país não só não está parado como anda para trás a cada dia que passa. A fome, a miséria e a emigração fazem lembrar os tempos antes do 25 de Abril. E como nos tempos da revolução, quando os trabalhadores param o país, andamos para a frente. A Greve Geral de hoje foi disso exemplo.
Se nas últimas semanas os olhos do país se viraram para a corajosa luta dos professores às avaliações e ao exame de dia 17, hoje o país viu como não há governo nem patrões que mandem quando os trabalhadores param. Se é verdade que não foi uma Greve Geral que parasse todos os sectores e empresas de Norte a Sul, é porque há ainda muitos trabalhadores e sectores inteiros que, na prática, nem tem verdadeiramente direito à greve nem são verdadeiramente apoiados pelo movimento sindical. Mas também é verdade que aqueles que param e saem à luta mostraram a sua força e o caminho a seguir. Os trabalhadores portugueses não estão a dormir e esperam apenas a oportunidade de seguir os exemplos da Turquia e do Brasil.
O sucesso da Greve
Em Lisboa, o Metro parou sem serviços mínimos, o mesmo se passou na CP, CP-Carga e REFER, o que deixou o país sem comboios neste dia. A Greve na Transtejo e na Soflusa fez com que apenas um barco circulasse entre Lisboa e o Barreiro e Cacilhas. No Porto, os autocarros pararam com total adesão dos STCP. No privado, e na indústria e particular, também há números que mostram uma greve forte. Na Autoeuropa a adesão foi de 94%, na ValorSul, os 95% de adesão pararam a Central de Resíduos Sólidos e o aterro mal funcionou com adesão de 86%. Na Lisnave, greve total. Outras fábricas, como SGSP, a Centralcer, a Fábrica de Cervejas Sagres, ou a Euresinas, de Sines, pararam com adesões de 100% ou próximo disso. Também em Sines, a central da EDP teve semiparalisada com apenas 30% de trabalhadores presentes. Por todo o país a EPAL parou ou quase, com adesões de 100% na Amadora, Asseiceira e Vila Franca de Xira e perto disso nos Olivais, em Lisboa. Outras indústrias ou serviços centrais como a recolha do lixo – em Lisboa houve uma adesão de 91% – pararam por todo o país.
Este quadro mostra o sucesso da greve. Se olharmos alguns sectores mais de perto vemos expressões ainda mais fortes desta jornada de luta. Os estivadores de Lisboa, mobilizados pela greve iniciada dia 25, a algumas horas diárias, que se vai estender por mais de um mês, pararam totalmente e desfilaram até S.Bento. Também em Setúbal, Aveiro e Figueira da Foz os portos paralisaram e os contentores ficaram por descarregar. A luta parece voltar a aquecer nos portos e as provocações dos patrões portuários – que estão a mobilizar trabalhadores estranhos à estiva para substituir os grevistas – vão endurecer o confronto. Também a Agência LUSA parou a sua atividade devido à Greve e os seus trabalhadores marcharam parlas ruas de Lisboa, onde também se fez notar a presença dos maquinistas da CP também com forte adesão.
Nas ruas de Lisboa, milhares manifestaram-se apesar do sol abrasador. O calor e a ausência de transportes dificultaram a mobilização mas, graças à iniciativa da Plataforma 15 de Outubro, que foi logo secundada pela CGTP. Os protestos voltaram a S.Bento depois da CGTP ou o “Que Se Lixe a Troika” nos últimos meses as terem desviado para locais insólitos como a Alameda D.Afonso Henriques ou o Mosteiro dos Jerónimos. As palavras-de-ordem que encheram as ruas, onde marcharam estivadores, maquinistas, jornalistas em greve, assim como jovens, estudantes e desempregados ou os movimentos sociais foi uma expressão política importante da greve. É possível e preciso voltar às ruas e confrontar diretamente o governo e esta manifestação demonstrou-o.