Ato em Lisboa solidariza-se com resistência na Turquia

Reproduzimos a nova declaração do movimento RED (1) sobre as mobilizações na Turquia. Nas fotos que a ilustram, flagrantes do ato realizado ontem, dia 19 de junho, no Largo de São Domingos, em Lisboa, em solidariedade à luta do povo turco. Ao ato, convocado pela Plataforma 15 de Outubro (15O) e cidadãos turcos residentes em Portugal, com o apoio do Movimento Alternativa Socialista (MAS), compareceram cerca de 100 pessoas.

Durante o evento, foram gritadas palavras de ordem a pedir a demissão do primeiro-ministro turco e apelou-se à solidariedade internacional a uma luta que não pode ficar isolada. Numa homenagem aos lutadores turcos, reproduziu-se uma das suas formas de luta, criada para fintar a repressão: os manifestantes deslocaram-se do Largo de São Domingos até a praça do Rossio, onde permaneceram parados, como estátuas, durante 1 minuto. Esta foi a segunda concentração em solidariedade à resistência na Turquia realizada em Lisboa.

Conquistemos as praças e ruas juntos! Derrotemos o ditador! Greve Geral Já!

“A nossa resistência ganhou uma nova dimensão após os ataques feitos pela ditadura do AKP (2) na manhã de 11 de junho na Praça Taksim. Apesar das promessas de que “a polícia não atacaria”, centenas de manifestantes acabaram feridos em virtude do uso de gás lacrimogéneo por parte da polícia. Outros tantos foram presos. Alguns dos feridos correm risco de vida…

No entanto, o nosso movimento, que se converteu numa insurreição aberta contra a ditadura do AKP, não baixou a guarda. A resistência se prolongou por todo o dia e continuou durante a noite com um apoio massivo em Istambul e outras cidades turcas. Em muitas partes de Istambul o trânsito foi cortado por milhares de pessoas. Primeiro em Izmir e Ankara, mas houve manifestações em muitas outras cidades, inclusive em vilas mais pequenas.

Ainda durante a noite, a polícia lançou mais gás venenoso e água sobre os manifestantes. Conseguiu dispersar as barricadas, mas não as massas. Apesar de terem destruído e queimado as tendas da resistência no Parque Gezi, as mesmas foram reconstruidas na manhã seguinte. A resistência continua.

Até que as condições apresentadas pela resistência de Taksim (3) sejam aceites pelo Governo continuaremos resistindo rua a rua. Gostaríamos de comentar algumas questões que nos parecem importantes para a continuidade da luta.

1. O Governo é incapaz frente à resistência. O AKP, que não se retratou até agora, propôs um referendo. As massas que não confiam no Governo estão nas ruas e a polícia as ataca violentamente; o AKP quer ganhar tempo com o referendo. Como há milhares de feridos, três mortos e incontáveis companheiros a correr risco de vida, não aceitaremos um referendo e “não esqueceremos tudo que aconteceu”. O Governo aceitará nossas reivindicações e pagará pelos seus atos.

2. A resistência ainda está desorganizada. Taksim é extremamente organizada na hora de garantir as necessidades de alimentos, alojamento e enfermarias para os feridos e distribuir máscaras de gás, mas isso não nos pode confundir. Um organismo de autodefesa comum deve ser criado para apoiar a resistência na hora de reorganizar os protestos quando dispersos e para não cair em provocações. Desta forma, os métodos utilizados para ameaçar as massas serão neutralizados.

3. A classe operária deve participar intensamente na resistência. É verdade que muitos trabalhadores estão participando nos protestos em seus distritos e saindo à rua durante a noite, às 21 horas, com as suas panelas. Mas, sem dúvida, ainda são poucos os trabalhadores da produção que participam nestas ações. A resistência recebeu o apoio do KESK (Confederação dos Sindicatos de Trabalhadores Públicos) e do DISK (Confederação dos Sindicatos Progressistas), mas o TÜRK-IS (a maior central sindical turca) a está a ignorar. TÜRK-IS faz o mesmo que a Plataforma de Colaboração Sindical: declara simpatia com a resistência, mas não faz nada de concreto para apoiá-la. Todos os sindicatos devem convocar uma Greve Geral. Para a construção da greve, é preciso pressionar de todas as formas a direção de TÜRK-IS.

4. Uma luta efetiva deve ser levada a cabo contra o nacionalismo. No último fim de semana, uns 20 provocadores – infiltrados na Praça Taksim pelo Governo – provocaram os ativistas contra os curdos e tentaram iniciar confrontos. A intervenção de nossa organização e outros grupos deu-se no sentido de impedir que as provocações aumentassem. Qualquer comportamento que divida nossas forças dará mais poder ao Governo. É essencial concentrarmo-nos em nossas reivindicações. Todos os que estão envolvidos na resistência devem atuar com responsabilidade.

5. O facto é que há grupos islâmicos anticapitalistas e revolucionários a apoiar os protestos. Esses grupos são nossos amigos. Deram uma bofetada no Governo com os seus cultos religiosos na Praça Taksim. Tayyip Erdogan continua a tentar manipular o sentimento religioso das pessoas. A polícia demonstrou quem está realmente atacando os islâmicos com a destruição da mesquita construída na Praça. Não toleraremos nenhuma discriminação aos grupos islâmicos que participam da resistência. Reiteramos o nosso apelo para que todos atuem com responsabilidade.

6. A nossa resistência deve definir um roteiro pré-estabelecido, em vez de votar diretrizes a cada dia. Até que se adotem as condições apresentadas, devemos defender com todas as nossas forças a Praça Taksim em Istambul. Por outro lado, aqueles que não podem vir à Praça devem divulgar a resistência em seus bairros e ruas. Ações de solidariedade devem ser organizadas em outras cidades. O Governo realizará até o próximo fim de semana atos políticos em Ankara e Istambul, utilizando o aparato e recursos do Estado. A nossa resistência, em ambos os dias, assim como nos dias do 43º aniversário da grande resistência operária de 15 e 16 de junho, deve ser massiva e reunir dezenas de milhares nas principais praças do país. Devemos tomar as praças de todo o país. Devemos mostrar ao partido do Governo e a todo o mundo a força de nossa resistência. Chamamos os apoiantes e simpatizantes do Movimento RED a participar nas barricadas e manifestações.

7. O Governo do AKP, com o objetivo de deslegitimar a resistência, afirma que esta é organizada pelos EUA e Israel. Nem sequer uma criança acreditaria em tamanha demagogia. É o AKP quem caminhou de mãos dadas com os imperialistas e sionistas até hoje. A explosão de fúria em Taksim, que se estendeu como um rastilho de pólvora por todo o país, é consequência da política repressiva e arrogante do AKP. Políticas que vão contra os interesses dos trabalhadores. São os revolucionários da Turquia que estão a protagonizar uma luta sem tréguas contra o sionismo e o imperialismo. Ninguém vai acreditar nas mentiras do Governo. Além disso, a nossa resistência não proporcionará apenas a vitória de nossas reivindicações, mas também o derrube do Governo do AKP. Uma das palavras de ordem mais gritadas nas manifestações é: “Erdogan demissão”. Nós também defendemos essa exigência. O governo deve renunciar. A alternativa deve ser construída nas ruas.

8. Desde o primeiro dia do levantamento que nossos companheiros e apoiantes estiveram na linha de frente das barricadas. Neste exaustivo processo alguns companheiros ficaram feridos, envenenados com gás, atacados por canhões de água, mas não retrocedemos em nenhum momento. Somos determinados. Venceremos e não desistiremos da batalha. Junta-se a nós! Conquistemos as praças e ruas juntos! Derrotemos o ditador! Construamos o futuro juntos!”

Barricadas! Greve! Revolução!

Istambul, 13 de junho de 2013

(1) RED significa “Rejeição” em turco, kurdo, persa e árabe. RED é um movimento revolucionário turco onde intervêm os camaradas da LIT-IV Internacional na Turquia.

(2) Partido da Justiça e Desenvolvimento, do primeiro-ministro Tayyip Erdogan.

(3) Taksim é o nome da praça onde se concentraram os protestos e a plataforma que daí se organizou ganhou o seu nome.

Anterior

Somos todos turcos (e também gregos, brasileiros e professores)

Próximo

Manifestantes pedem renúncia do Chefe Executivo de Hong Kong