Até onde pode (e deve) ir a luta dos professores?

Após uma greve vitoriosa no dia 17, dia de exame nacional de Português, e às avaliações (que continua), graças à dedicação e à organização pela base dos professores, como deve prosseguir a luta?

Terminar na mesa de negociações, como defende a Fenprof, com hipotéticas cedências do governo que não irão de facto alterar o seu objetivo de implantar a mobilidade especial/despedimentos e as 40 horas? Ou com a manutenção da luta, da greve às avaliações e a alguns exames (27 de junho), inclusive o de 2 de julho, dia marcado pelo governo para a realização de novo exame de Português para os 20 mil alunos que não o fizeram no dia 17?

Seja como for, é fundamental que os professores, para os quais deve ser atribuído todo o mérito do sucesso que a luta tem obtido até agora, sejam ouvidos. Não só nos plenários distritais convocados para 20 de junho, mas também em reuniões nas escolas e nos concelhos, para que mais professores possam participar do debate e decidir sobre o seu futuro. É no desenvolvimento político e orgânico desse movimento pela base surgido em inúmeras escolas – em que os professores se auto-organizaram para que a greve às avaliações fosse (e continue a ser) um sucesso, inclusive criando um “fundo de greve” – que poderá surgir uma direção alternativa para os professores.

Greves às avaliações (e a alguns exames) até o governo recuar

Todos os professores se lembram perfeitamente do resultado da sua luta em 2008/2009, que, apesar da força alcançada, acabou por ser derrotada em virtude da política das direções sindicais em direcioná-la para memorandos e acordos prejudiciais. Nesta nova luta, o perigo é o mesmo. Em vez de manter a mobilização até que o governo seja obrigado a recuar, isto é, a desistir do seu projeto de mobilidade/despedimentos e do horário de 40 horas, a Fenprof, sem consultar os professores, já declarou que não convocaria greve ao exame de 2 de Julho, tornando inócuo o boicote do dia 17 de Junho. Fez mal. Negociar, sim, mas com a classe mobilizada e não como uma forma de encerrar o movimento com algumas migalhas (quais?), quando a classe está mobilizada e disposta a continuar a luta.

A greve em curso às avaliações e ao exame de 17 de junho, assim como a manifestação de 15 de junho que levou à rua milhares de professores ausentes noutras manifestações, constituiu uma grande vitória dos professores e uma derrota política do governo. Apesar de ter tentado jogar pais e alunos contra os professores; apesar de querer dividir a classe, isso não foi conseguido. À greve aderiram 90% dos professores, com grande apoio de pais e alunos, fartos de um governo que só promove o desemprego e a destruição dos serviços públicos, como a educação. Nesta batalha, ganharam os professores e todos os trabalhadores em geral, pois uma das principais razões que levaram à greve foi a defesa dos milhares de postos de trabalho.

Os trabalhadores portugueses estão a perceber que é na luta dos professores que está a chave da situação política atual. Uma derrota do governo é uma vitória para todos, não só para os professores. É fundamental não desperdiçar esse capital político. Fundamental para os professores, os trabalhadores e a juventude, para os estudantes que hoje podem deixar de fazer um exame, mas que terão, caso os professores consigam derrotar os planos do governo, mais alguma chance de terem um ensino de qualidade, de não precisarem de emigrar e de não serem obrigados a aceitar trabalhos precários e mal pagos.

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