Turquia vive clima de guerra civil

Solidariedade ao povo turco: repressão faz explodir convulsão social, e já se fala em Primavera Turca

Uma manifestação pacífica em Istambul, na última segunda-feira, 27, transformou-se numa convulsão social contra o governo turco. As manifestações já tomaram proporções nacionais, com focos principais em Istambul e na capital, Ankara. Manifestações de apoio acontecem também em outras cidades, como Izmir, Adana e Bursa.

Tudo começou quando algumas centenas de pessoas protestavam contra o corte de 600 árvores na Praça Taksim Gezi, centro de Istambul. O governo pretende destruir uma das poucas áreas verdes da cidade para construir um shopping e uma réplica de um quartel da época do Império Otomano. Não é a primeira vez que o governo destroi áreas públicas para erguer mesquitas e shoppings.

A repressão policial foi feroz, deixando um manifestante morto. Rapidamente, as centenas de pessoas transformaram-se em milhares. Nos dias seguintes, os protestos ampliaram-se e a repressão também. O acesso à Praça Taksim foi bloqueado pela polícia. Os manifestantes ocuparam, então, a segunda maior praça, Baksitas.

Embora não confirmadas, existem informações de que pelo menos quatro pessoas morreram até o momento. Foram centenas de feridos e detidos. Foi usado gás laranja contra os manifestantes, que causa graves queimaduras e é o mesmo utilizado em guerras. Há rumores de que os detidos em Baksitas estão sendo torturados. Bombas foram jogadas no metro para impedir as pessoas de chegarem aos locais de maior concentração popular.As mobilizações seguiram por toda a noite, e a população, agora, exige a queda do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoga, do partido islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP). O episódio detonou a insatisfação do povo turco com outros aspetos sociais, como o crescente rebaixamento da qualidade de vida e o aumento do custo de vida, e as leis “islamizantes”, que visam proibir o consumo de álcool, atos de afeto em público, entre outras coisas.

A polícia continua no entorno agindo com a mesma violência. A Internet está restrita, e o povo turco pede ajuda para divulgar o que está a acontecer no país. Bloqueadores de sinal foram colocados nas proximidades da praça, o que impede o uso de celulares. Gás está sendo jogado nas sacadas dos apartamentos de quem apoia. Detalhe: as bombas de gás utilizadas são de fabricação brasileira.

Apesar da condenação das ações do governo pela Amnistia Internacional, o primeiro-ministro disse que não cederá: “Eles podem fazer o que quiserem. A nossa decisão está tomada e seguiremos em frente”, afirmou durante a cerimónia de construção de uma ponte. Em discurso à televisão, ele desafiou: “Se isso é um movimento social, no qual se reúnem 20, vou levantar e reunir 200 mil pessoas. Onde se reúnem 100 mil, vou reunir um milhão do meu partido”.

“Está prestes a estourar uma guerra civil”, disse Pinar Asilkan ao Portal do PSTU. Ela mora em Istambul e está participando dos protestos. “Ontem, às 3h30, eu estava com senhoras idosas da vizinhança fazendo panelaço”, conta. Pinar falou que “em Baksitas é onde está acontecendo a violência grande, e a grande imprensa por lá não mostra nada. Cortaram Wi-Fi e 3G”.

Desde a chegada ao poder, Tayyip anunciou na media internacional que a economia melhorou muito nos últimos dez anos. De fato, crescimento económico, mas, como em todos os lugares do mundo capitalista, o crescimento é para uma minoria rica. Perguntamos a Pinar sobre o tema, e ela riu:“estamos a ficar mais pobres a cada dia!”

“Nós nunca danificamos nada. Sempre avisamos os amigos para ter cuidado, ‘ei, você não deve quebrar esse vidro ou algo assim’. Quero dizer, estamos preocupados em não quebrar nada, apenas devolvemos as bombas de gás!”, disse. “Nós somos apenas cidadãos comuns, mas ele (Tayyip) quer-nos fazer parecer terroristas”, concluiu Pinar.

Luciana Candido e Reinaldo Chagas, para o Portal do PSTU

Fotos: os camaradas do Devrimci Isci (O Trabalhador Revolucionário), secção da LIT na Turquia, a participarem da luta.

 

 

Anterior

O preço do lucro em Bangladesh

Próximo

Somos todos turcos (e também gregos, brasileiros e professores)