A sede da Amadora do Movimento Alternativa Socialista (MAS) encheu na tarde de 20 de janeiro para evocar o pensamento e a ação de Amílcar Cabral. Naquela tarde varrida pela chuva forte e pelo vento, o MAS assinalou os 40 anos do assassinato do secretário-geral do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) através da exibição do documentário Homenagem a Amílcar Cabral, seguido de um período de debate e de um momento de convívio entre os participantes.
Durante a sessão pública lembrou-se a figura do revolucionário africano que lutou pela independência da Guiné e Cabo Verde e sonhou com a junção dos dois países sob a mesma bandeira no quadro de uma África unida. A participação de Amílcar Cabral na luta antifascista junto da classe trabalhadora portuguesa ao ingressar nas fileiras do Movimento de Unidade Democrática (MUD Juvenil), na década de 40, foi igualmente destacada.
A realização deste evento atraiu muitos jovens pertencentes à comunidade africana, oriundos dos mais diversos pontos da Grande Lisboa e que veem em Amílcar Cabral uma referência, alguém consciente de si enquanto africano e que partiu dessa especificidade para se comprometer com o combate contra as desigualdades e a injustiça, não só em África como em Portugal e no mundo.
A “reafricanização dos espíritos”, ou o percurso empreendido por uma geração de nacionalistas africanos das colónias portuguesas rumo às suas raízes culturais, cortando as grilhetas da alienação fixadas pelo colonialismo, foi o mote para uma animada discussão acerca dos muros erguidos pelo Estado e a sociedade portugueses à plena integração da comunidade africana.
Foi da assistência que partiram as mais veementes denúncias das atitudes discriminatórias e racistas do Estado, agente perpetuador da exploração e opressão da comunidade imigrante oriunda dos países africanos. Não foi esquecido o nunca resolvido, e cada dia mais grave, problema da habitação, de que as demolições ocorridas no Bairro de Santa Filomena foram mais um vergonhoso capítulo. Foi igualmente lembrado o papel do sistema de ensino, linha de montagem que transforma o estudante africano num potencial excluído, futuro candidato aos mais desqualificados e mal pagos trabalhos.
Por último, foi impossível esquecer a violência policial que se abate sem freios, impune e mortífera sobre os jovens habitantes dos ditos bairros problemáticos. A prática revolucionária de Amílcar Cabral e as barreiras impostas aos africanos a residir em Portugal interpela-os à sua união na luta por melhores condições de habitação, saúde e educação, contra o racismo do Estado e da sociedade, ao mesmo tempo que clama pela sua presença junto dos trabalhadores portugueses num combate sem tréguas contra as medidas de austeridade, de que também são vítimas, e que já transformaram Portugal numa colónia da troika.
José Pereira