“Políticos? São todos iguais!” É esta a opinião da maioria. Podemos indignar-nos com a abusiva generalização deste desabafo. Mas a generalização dos abusos que geram este sentimento é que deve indignar a esquerda. Perceber que essa raiva social é um sinal da desilusão massiva com a falsa democracia que nos rege é necessário, para saber canalizar a indignação popular para uma luta consequente.
Porque se indigna o povo?
Num momento em que os salários são cortados, dos bolsos dos contribuintes saem mais de 9 milhões anuais para pagar reformas douradas, e os administradores de empresas como Carris e CP – e não os seus funcionários – recebem acima de 6 mil euros por mês, e o dos CTT, o dobro. Os casos obscuros que envolvem os principais políticos – os submarinos de Portas, a licenciatura de Relvas ou o Freeport de Sócrates – são incontáveis. Quem impõe os cortes não sofre com eles e essa injustiça traz milhares para a luta.
BPN: privilégios e impunidade!
O caso BPN talvez seja o mais ilustrativo. Recentemente, o semanário Expresso provou que os amigos e ex-ministros de Cavaco Silva “não estão a pagar o que devem”. Além de se negarem a pagar dívidas que foram asseguradas pelo erário público – por exemplo Arlindo de Carvalho, ex-ministro de Cavaco, tem “59,5 milhões em incumprimento” – sete dos responsáveis pelo descalabro têm hoje cargos na Parvalorem, a sociedade pública que gere as dívidas do BPN!
Por exemplo, Luís Pereira Coutinho, que analisava as garantias dos grandes clientes do BPN, aqueles que nunca pagaram, é hoje quem analisa o risco na Parvalorem! Já dos 12 principais acusados do caso BPN, nenhum foi parar à prisão.
Quem é a “classe política”?
É esta a “classe política” que o povo odeia. Os que saltam dos governos para as administrações – Miguel Cadilhe, das Finanças para o BPA, Braga da Cruz, da pasta da Economia para a EDP, Mira Amaral, dos governos do Cavaco, para o BPI e agora o BIC, entre centenas de outros… – os que vivem do erário público, como o Grupo Parlamentar do PS, que “só” gastará 210 mil euros em automóveis, ou Sócrates, Portas e Relvas, impunemente atolados em negócios ruinosos para o estado. É claro que, sociologicamente esta não é uma classe, mas uma espécie de casta privilegiada que governa o país em nome da classe exploradora.
Ódio popular à “classe política” é positivo
“Criminalização de todos os políticos” dizia uma faixa levada por cidadãos anónimos, no 15 de Setembro. Se levarmos à letra o que diz acharíamos um disparate populista. Mas seria cegueira não ver que a população quer ver julgada a elite que levou o país à miséria. Quer acabar com a falsa democracia em que vivemos e retornar ao projeto de Abril. E, como em 1974, exige um saneamento nas altas esferas do estado. Isso é justo e ajuda a luta a avançar. Por isso, o MAS ataca os privilégios dos políticos e defende prisão para quem roubou o país.
Manuel Afonso