O novo ano começa com um brutal aumento de impostos para os trabalhadores e uma nova injeção de milhões de euros para a banca.
Já todos percebemos que o Ano Novo será tudo menos “próspero” para quem trabalha ou trabalhou, para quem estuda, tem um pequeno negócio ou está simplesmente desempregado. A juntar ao aumento de impostos brutal a que se resume o Orçamento de Estado (OE) para 2013, vamos ter aumentos nos preços das rendas de casa (+3,4%), dos transportes públicos (+0,9%), da eletricidade (+2,5%), do gás (+2,5%), das portagens (+2,03%), das taxas moderadoras (+0,9%), das telecomunicações (+3%).* A maior parte deles muito superiores à taxa de inflação estimada, que é de 0,9%.
Em suma, não basta tirarem-nos diretamente do salário e da pensão pela via dos impostos, ainda agravam o custo de vida duma maneira escandalosa e imoral.
Quem vai poder aguentar esta situação por muito mais tempo? É a pobreza generalizada de todo um povo que estão a organizar! A não ser que resistamos e travemos esta quadrilha institucional que está instalada no poder e toma conta das nossas vidas, a começar pelo governo da troika e a acabar nas empresas privadas de eletricidade, gás, telecomunicações, nas Brisas, etc..
Benesses do governo para as grandes empresas e a banca
Para as grandes empresas não há crise: elas somam e seguem nos lucros e na chamada “saúde” financeira. Das vinte empresas do PSI-20 da Bolsa de Lisboa, doze terminaram o ano de 2012 em alta – por exemplo a EDP, a Sonae, a Mota-Engil. E pode ser que o ano de 2013 seja ainda melhor, já que o governo se prepara para reduzir o IRC, o imposto sobre os lucros das empresas, dos atuais 25% para… 10%. Uma autêntica benesse para quem é dono e senhor do capital!
Quanto aos bancos, não precisam de se preocupar com a sua saúde: ela está garantida pela injeção de dinheiros públicos, a maior parte dos quais provêm dos impostos de quem trabalha ou trabalhou. Salvar os bancos é, na realidade, a principal medida de economia que o governo de Passos Coelho tem tomado: privatiza e salva bancos. Em termos de política económica, não faz mais nada. Foi nesta mesma linha que anunciou recentemente mais uma injeção de milhões de euros do Estado num banco: desta vez, €1100 milhões no Banif.
Mil e cem milhões que se juntam aos 5,6 mil milhões já utilizados para recapitalizar outros três bancos (BCP, BPI e CGD) desde que a troika entrou em Portugal, em Maio de 2011… Quase 7 mil milhões do erário público para quatro bancos, três dos quais privados, enquanto o povo faz contas à vida e ao dinheiro que vai perder em roubo do seu rendimento e em aumento do custo de vida! E dizem-nos que não há dinheiro e que o “país” tem que fazer “sacrifícios” … Qual país? O dos trabalhadores para manter os privilégios dos banqueiros?!
Já pagámos o suficiente, suspendamos o pagamento!
Para a banca não vão apenas as injeções diretas do governo. Vai também a fatia que o próprio Estado tem que pagar devido à dívida dita soberana que contraiu junto deles: este ano serão €7164 milhões, só em juros. E é preciso não esquecer que as famílias trabalhadoras deste país continuam altamente endividadas à banca devido sobretudo aos empréstimos que contraíram para aquisição de habitação.
Durante décadas pagamos casas que, todos temos a noção, estariam pagas e mais que pagas ao fim de alguns anos se não fossem os juros exorbitantes. Tal como estão pagas as pontes e auto-estradas, e apesar disso continuam a cobrar-nos portagens! Para bem da Brisa, da Mota-Engil…
Não é lícito então supor que a dívida do Estado português está igualmente a ser inflacionada por juros extorsionários, como as nossas casas, pontes e estradas? Se calhar a dívida pública está paga e mais que paga! Fizesse-se uma auditoria independente, e logo se veria…
O povo português está farto de pagar, e para os mesmos de sempre!
Expulsar o governo e a troika, acabar com a austeridade
Na época atual, o endividamento é uma forma privilegiada de acumulação de capital, ou seja, de enriquecimento dessa minoria de banqueiros e financeiros que nada faz de útil à sociedade e que vive da compra, venda e especulação com os títulos de dívida. E que não se importam absolutamente nada de afundar povos, economias e países inteiros, desde que garantam os seus lucros. E que faz o governo? Alimenta o polvo. Rouba de quem trabalha e tudo produz para dar a essa minoria que nada produz.
Pela nossa parte, dizemos que o que é preciso alimentar é a indignação e a revolta. “Avisar toda a gente”, como diz a canção. Pôr nas ruas um novo 15 de Setembro, lutar contra a miséria crescente que nos querem impor. Organizar em todo o lado para uma mudança política a sério, que lance as bases duma economia ao serviço da maioria, liberta das garras do capital.
O primeiro passo para essa mudança de fundo é a demissão deste governo, a retirada de todas as medidas de austeridade, a expulsão da troika de Portugal.
Ana Paula Amaral, com a colaboração de J. A. Dias
* dados do DN de 31/ dezembro