Solidariedade com os moradores do Bairro de Santa Filomena

Ao clarear o dia da última segunda-feira, os moradores do Bairro de Santa Filomena, Amadora, voltaram a ser acordados pela invasão do exército de Caterpillars, escavadoras e camiões da Câmara Municipal da Amadora, devidamente escoltados pelo aparato do Corpo de Intervenção da Policia.

O alvo deste ataque, desta vez, foram dez casas deste bairro, ocupadas por dezanove pessoas, entre as quais quatro crianças, vários idosos, pessoas doentes e algumas quase cegas. Antes do “exército” da Câmara começar as demolições, as pessoas foram violentamente retiradas de suas casas pela polícia, surpreendidas quando ainda estavam deitadas. Ainda de pijama, assistiram aos seus bens serem atirados para dentro de camionetas da Câmara Municipal por funcionários. Talvez a polícia, desta vez, justifique a violência e o aparato montado pelo facto de os idosos estarem armados com perigosas bengalas e muletas.

Esta ação vem no seguimento de outras já realizadas. Desde Julho foram demolidas 192 habitações, ao abrigo do fracassado Programa Especial de Realojamento (PER), baseado num recenseamento feito em 1993, ou seja, há 20 anos, o que provocou a exclusão de 224 agregados familiares.

A Câmara da Amadora tem sido bastante eficaz na aplicação do PER, no que diz respeito à demolição das habitações, mas o mesmo não se pode dizer do realojamento. As pessoas, essas, são mandadas para a rua, transformadas em sem-abrigo; os imigrantes são deportados, e os senhorios engordados, com o dinheiro dos arrendamentos de casas ao “preço do mercado”.

Para evitar cair nesta situação, os moradores apresentaram providências cautelares, mas viram o tribunal indeferir esta pretensão. Como sempre, é a Justiça ao serviço dos ricos e poderosos! Como é possível um tribunal negar um direito fundamental, consagrado na Constituição, que é o direito à habitação. Como é possível que uma Câmara que se diz socialista atropelar assim os mais fundamentais dos Direitos Humanos.

Na passada segunda-feira, depois de ter estado no bairro e regressado a casa, ligo a televisão e vejo imagens de Gaza. Fico com a sensação de já ter visto algo semelhante no mesmo dia, em Santa Filomena.

Tal como em Gaza, as casas estavam feitas em escombros, e a poeira da destruição andava pelo ar.

Tal como em Gaza, as pessoas choravam, por terem ficado sem abrigo e sem seus bens ganhos com o trabalho, quase escravo, de uma vida inteira. Um choro de revolta.

Gaza está cercada por blindados e militares sionistas; Santa Filomena está cercado por Caterpillars da Câmara e pela Polícia de Intervenção.

Santa Filomena não foi destruída por bombas, mas, tal como Gaza, foi destruída, pelo racismo, xenofobia, hipocrisia e pela indiferença.

Tal como Gaza, Santa Filomena está a ser destruída, para se construir um colonato qualquer, para servir a burguesia.

Tal como Gaza, os moradores do Bairro de Santa Filomena precisam da solidariedade de todos.

Amadora, 21/11/2012

Zé Ferreira

 

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