A manifestação em frente à Assembleia da República terminou com a intervenção da polícia sobre os manifestantes, causando ferimentos em vários deles (ainda não há informações seguras sobre o número e a eventual gravidade). A carga foi feita com bastões e cães sobre as milhares de pessoas que se reuniam no local, sendo estas obrigadas a fugir pelas ruas próximas. Um número ainda indeterminado de manifestantes foram detidos e alguns responderâo em Tribunal.
A polícia justificou a violência pelo facto de alguns manifestantes estarem a jogar objetos (frutas, pedras e garrafas) sobre os agentes que estavam nas escadarias da Assembleia da República para impedir que esta fosse tomada. O objetivo da polícia, desta forma, teria sido parar as agressões feitas a estes agentes. Esta versão foi reproduzida acriticamente pelos jornalistas de TV e apoiada pelos comentaristas ouvidos.
Discordarmos totalmente dessa justificativa. O arremesso de objetos sobre os polícias por um setor minoritário de uma manifestação que reuniu mais de 15 mil pessoas – entre as quais idosos, deficientes físicos e crianças – não justifica de forma alguma que a polícia aja como agiu. A maioria das pessoas que lá estavam só queria manifestar-se contra o governo e a sua política de austeridade. Mas, apesar de discordarmos dos métodos adotados por alguns manifestantes – como o arremesso de objetos sobre a polícia -, isso não justifica a repressão que se seguiu.
A responsabilidade pela atitude desses manifestantes é do próprio governo e da sua política. Essa atitude é a expressão da revolta, da indignação, do verdadeiro desespero que toma conta da sociedade portuguesa e europeia. Basta observar que essas mesmas atitudes desesperadas, num grau muito superior, são presenciadas em vários países, entre os quais a Grécia.
Falar da “violência” dos manifestantes é uma hipocrisia, frente à verdadeira violência que é um desemprego de 15,8% dos trabalhadores e 39% dos jovens, segundo os novos indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE); é uma impostura frente a cortes salariais que tiram dos pobres para dar aos ricos e que condenam à pobreza e à fome milhares de portugueses.
O objetivo do governo ao mandar a polícia carregar violentamente sobre os manifestantes é enfraquecer o movimento de protesto; é dividir os trabalhadores e a juventude que hoje se erguem – como aconteceu nesta vitoriosa greve geral – contra a sua política; é impingir o epíteto de violento ao povo que vai a rua expressar o seu ódio a este governo corrupto, cínico e subserviente ao imperialismo francês e alemão.
Por isso, discordamos da apreciação do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, que, sobre o incidente, só teve a dizer que “lamentamos profundamente aquilo que se está a passar na Assembleia da República”, sem, em nenhum momento, condenar a violência policial.
Nós, do MAS, repudiamos com veemência a carga policial sobre os manifestantes; exigimos a imediata absolvição de todos os acusados; e afirmamos como, temos certeza, a grande maioria da população portuguesa, que não serão provocações como essas feitas pelo governo e a sua polícia que nos impedirão de continuar a luta contra Passos Coelho/Portas/Gaspar e Relvas até que sejam demitidos, a troika expulsa de Portugal, o memorando rasgado e uma nova política, favorável aos trabalhadores e ao povo, seja posta em prática.