Uma forte greve geral, superior às duas últimas, realizadas em novembro de 2011 e março deste ano. Esta é a conclusão unânime de sindicalistas e ativistas sobre a greve geral deste dia 14 de novembro em Portugal. Arménio Carlos, líder da CGTP, disse que esta greve é a “maior já realizada em Portugal”. A greve geral portuguesa dá-se contra as medidas de austeridade implementadas pelo governo da direita, entre as quais o Orçamento do Estado para 2013. Neste mesmo dia houve greve geral no Estado Espanhol e greves parciais e mobilizações em mais de 20 países europeus contra os cortes nos salários e pensões, na saúde e educação públicas, e o aumento da recessão e do desemprego provocado pelas imposições da União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) em prol do pagamento das dívidas externas desses países.
Pararam os transportes (metro, comboios, autocarros, barcos e aviões), em alguns casos sem cumprir os serviços mínimos; os portos, com uma adesão de 100%, na sequência da luta dos estivadores contra o projeto do governo de despedimentos e precariedade no setor; os trabalhadores dos CTT; os enfermeiros; os serviços municipais, com destaque para o sector de recolha do lixo e transporte urbano; universidades e escolas; e os bombeiros sapadores, que só saem dos quartéis para intervir em casos de risco de vida.
Como novidade em relação às últimas greves houve maior adesão dos trabalhadores da banca. “Há mais trabalhadores em greve”, assegurou João Pascoal, coordenador da Comissão de Trabalhadores do Santander Totta. Pelo menos nas primeiras horas da greve estavam fechados três balcões desse banco, “coisa que nunca tinha acontecido antes”, disse o sindicalista. Também aderiram à paralisação os bancários da Caixa Geral de Depósitos (CGD). O Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, apesar de afeto à UGT, central sindical que não aderiu à greve geral, revolveu participar da paralisação. O mesmo fizeram, segundo a imprensa, pelos menos mais 22 sindicatos da UGT.
No setor da saúde, a greve também foi muito forte, com vários hospitais parados devido à greve dos enfermeiros, médicos e funcionários. No Hospital Santa Maria, em Lisboa, por exemplo, a maioria dos profissionais a atender os pacientes estavam a cumprir os serviços mínimos e o faziam com um autocolante a explicar que apoiavam a greve geral.
Transportes na vanguarda
Como já se tornou habitual, o setor de transporte foi o que registou maior adesão à paralisação. O metro de Lisboa esteve parado a 100%, o mesmo acontecendo na CP, com comboios a circular apenas em serviços mínimos (10%). Ou mesmo nem isso: em Setúbal, os travões dos comboios da linha do Sado foram cortados durante a noite impedindo totalmente a circulação. No Porto, também houve adesão a 100% dos motoristas da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), apesar da repressão policial aos piquetes que tentavam impedir os serviços mínimos durante a madrugada. A adesão nos transportes públicos também foi total ou bastante significativa em Almada, Coimbra, Braga e Aveiro.
Na Carris, em Lisboa, segundo sindicalistas, a greve superou os 50% previstos pelos serviços mínimos. Entre os elétricos, houve pouca saída: apenas 6 num total de 20 que saem normalmente. Muitos motoristas em serviço mínimo trabalhavam com um autocolante a dizer que estavam em greve.
Nos transportes aéreos, a TAP teve de cancelar cerca de 200 voos. De acordo com a CGTP, com dados do início da manhã, a paralisação afetava 90% dos serviços disponibilizados por essa empresa aérea, com o aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, totalmente parado.
Forte adesão nas escolas e universidades
De acordo com o professor e ativista Eduardo Henriques, esta greve correu melhor nas escolas que a última, em novembro do ano passado. Teria havido, segundo ele, maior adesão entre os professores e não houve praticamente aulas em Almada. Pelas contas do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), às 11h20 havia quase uma centenas de escolas encerradas na sua área, entre as quais a dos Olivais e Gil Vicente. No Liceu Camões, os estudantes faziam piquete pela manhã com uma faixa a dizer “Camões em greve”. Assim como vários colegas de outros liceus e escolas básicas, eles juntaram-se às manifestações durante a tarde.
Muitas universidades ficaram sem funcionar. Entre elas o ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, onde mais de 100 professores, investigadores e estudantes realizaram uma assembleia, seguida de uma manifestação em direção ao Rossio, local da concentração convocada pela CGTP. Na Faculdade de Ciência Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa, onde também não houve aulas, os estudantes fizeram um piquete em que levavam uma faixa com a palavra “greve” em português, inglês, grego, italiano e espanhol, numa referência aos países cujos trabalhadores ou fizeram greve ou alguma forma de mobilização neste dia. A Universidade dos Açores esteve igualmente parada e contou piquetes de estudantes.
Violência policial
Na sequência da brutal repressão aos estivadores, que, na véspera da greve geral, protestaram em Lisboa durante um fórum com representantes do Porto de Lisboa e da Liscont, do grupo Mota Engil, houve alguns incidentes a registar nas primeiras horas da greve. Um dos trabalhadores presentes no piquete dos autocarros da Carris na estação da Musgueira, em Lisboa, foi detido; e em Coimbra os militares da GNR tentaram dissolver um piquete na estação ferroviária da Pampilhosa, chegando a empunhar uma pistola contra os trabalhadores.
Manifestações pelo país
Durante a tarde, foram realizadas manifestações em todo o país. Em Lisboa, várias delas dirigiram-se ao Rossio, para onde estava marcada a concentração da CGTP, ponto de partida para a manifestação unitária em direção à Assembleia da República.
Os aderentes e amigos do Movimento Alternativa Socialista (MAS), entre os quais trabalhadores, sindicalistas, jovens, estudantes, desempregados e reformados, participaram da manif (foto acima de Otávio Raposo) convocada pelos estivadores, Plataforma 15 de Outubro e Movimento Sem Emprego, entre outros. A manif começou por volta das 13 horas no Cais do Sodré e seguiu em direção ao Rossio, para juntar-se à manif da CGTP e seguir até a Assembleia da República.