Passada a greve e os seus efeitos imediatos, não só o governo não recuou, como sugeriu que médicos com mais de 50 anos voltassem a fazer obrigatoriamente bancos à noite. É preciso unir médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, auxiliares e doentes. Com Passos, Gaspar, Macedo e a troika unidos, por que continuaremos a lutar separados?
Depois da histórica greve dos médicos de 11 e 12 de julho, com paralisação praticamente total dos hospitais e centros de saúde, o governo prometeu negociar com os sindicatos médicos algumas das reivindicações da classe. Quase dois meses depois, não há entendimento. É hora de recomeçar a luta.
Motivos mantêm-se
A greve de 11 e 12 de Julho foi uma mobilização praticamente unânime causada pelos consecutivos ataques do governo PSD/CDS (e que já tinham sido iniciados pelo governo Sócrates, sobretudo com Correia de Campos no Ministério da Saúde) à função pública e à saúde, com aumento de taxas moderadoras e diminuição da comparticipação dos transportes e exames complementares de diagnóstico.
A gota de água foi a abertura do concurso de contratação de médicos pelo mais baixo custo, numa tentativa de aniquilar, de vez, as carreiras médicas e tentando precarizar a classe. O efeito para o Sistema Nacional de Saúde seria absolutamente ruinoso, já que, além da mobilidade dos médicos, sempre sujeitos a serem transferidos para outro centro hospitalar no país, os doentes deixariam de ter o seu médico, podendo ser vistos na primeira consulta por um, na segunda por outro, na terceira por outro e por aí adiante.
Em nada disto houve recuos do governo. Pressionado pelas exigências da troika que lhes servem de álibi para não fazer concessões aos trabalhadores, o governo PSD/CDS encetou negociações para calar a classe e parar a onda de luta e de solidariedade que se juntou. No entanto, como já tínhamos avisado, este governo não merece qualquer crédito ou confiança. Passada a greve e os seus efeitos imediatos, não só o governo não recuou, como sugeriu que médicos com mais de 50 anos voltassem a fazer obrigatoriamente bancos à noite. Tal medida é injusta, ofensiva e perigosa.
Uma urgência de noite é um turno difícil, desgastante, que obriga a um esforço físico e intelectual imensos – imagine-se a tomar decisões que definem uma vida às 4h da manhã, sem dormir, depois de ter visto dezenas de doentes. Com mais de 50 anos, a maioria dos médicos já não quer fazer estes turnos porque já não se sentem capazes de os fazer e, se assim é, não devem ser obrigados a isso. A medida fará perigar os doentes e retira esses mesmos médicos dos turnos normais no internamento e na consulta externa. É uma péssima gestão de recursos e, claramente, uma provocação.
Em termos de tabela salarial, os sindicatos médicos não têm conseguido avançar nada.
Afinal, a greve de 11 e 12 de Julho não chegou. É preciso continuar.
É preciso avançar na luta
Não será nas reuniões entre sindicatos e governo que os médicos conquistarão os seus direitos e defenderão o SNS. Será nas ruas, nos hospitais, nos centros de saúde. Os médicos devem organizar, democraticamente, novas manifestações e começar a preparar uma nova greve.
É preciso, para dar mais força a essas lutas, unir as reivindicações médicas com as dos enfermeiros, técnicos de saúde, auxiliares e, sobretudo, dos doentes. Deve haver uma chamada à participação dos doentes do SNS nas manifestações, nas concentrações, em tudo. Com Passos, Gaspar, Macedo e a troika unidos, por que continuarmos a lutar separados?
A greve de Julho mostrou que os médicos estão unidos e dispostos a lutar. Mostrou que a população está do lado dos médicos. Não há que ter medos. A luta dos médicos não deve ficar fechada na caixinha das negociações. Deve sair às ruas. M.N.