Declaração política da CORRIENTE ROJA, Secção da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-IV) no Estado Espanhol
(Com videos)
APÓS A MARCHA MINEIRA, É NECESSÁRIA OUTRA GREVE GERAL, JÁ!
O dia 11 de Julho concentrou em Madrid dois acontecimentos fundamentais que gravam a ferro quente a situação política e colocam-nos numa nova conjuntura. O primeiro foi a Marcha Negra mineira, que culminou, com um apoio social impressionante,
em manifestações multitudinárias que gritavam “Madrid obrero apoya a los mineros” e que se enfrentaram a uma dura repressão policial. O segundo acontecimento foi o discurso de Rajoy (primeiro-ministro espanhol), lacaio de Merkel, da UE e do FMI, anunciando no Congresso dos Deputados um novo e brutal plano de austeridade (65.000 milhões de euros em dois anos), fixado pela UE em troca de salvar a banca espanhola (ou dito de outra forma, de salvar os seus credores, os bancos alemães, franceses e outros)
UM PLANO DE AUSTERIDADE SELVAGEM E UM PAÍS SOB INTERVENÇÃO EXTERNA EM PROL DA BANCA
Enquanto os mineiros e o povo trabalhador de Madrid se manifestavam, Rajoy anunciava as novas e selvagens medidas de guerra social, o maior plano de austeridade conhecido até à data: subida generalizada do IVA e outros impostos indirectos, eliminação do subsídio de Natal e outras agressões aos salários e aos funcionários públicos, cortes das prestações e do subsídio de desemprego, outra machadada à lei da dependência, novo aperto financeiro às Comunidades Autónomas, descida das quotizações patronais à segurança social…
Este pacote de Rajoy foi imposto pela UE e correspondem a um país sob intervenção, ainda que não haja uma intervenção formal da Troika (a UE, o BCE y o FMI) o que converteria aos ministros em meros moços de recados. Mas a tomada de controlo do sistema bancário espanhol por parte do BCE (ou, o que é o mesmo, pelo Bundesbank alemão) e as medidas de austeridade de Rajoy, em nada se diferenciam das medidas que a Troika foi implementando em Portugal ou na Grécia nestes dois últimos anos. Na realidade, para os trabalhadores e o povo não há diferença entre uma intervenção ou outra da Troika.
As medidas são a contrapartida ao resgate bancário e têm como objectivo assegurar que a banca europeia cobre as suas dívidas da banca espanhola e que tanto os banqueiros europeus como espanhóis cobrem do Estado a Dívida Pública, que têm nas suas carteiras e da qual são os principais responsáveis. O pagamento desta Dívida Pública ilegítima foi convertido pelo PP (Partido Popular, actualmente no governo) e pelo PSOE (Partido Socialista Obrero Español) em “prioridade absoluta” através da revisão expresso da Constituição no verão do ano passado.
METERAM-NOS NUMA ESPIRAL À GREGA
O pacote de austeridade de Rajoy e a intervenção da Troika metem-nos numa espiral à grega. Toda a gente sabe que as medidas aprovadas, com o país em plena recessão, vão significar um gravíssimo retrocesso da economia, que vai-nos levar aos 6 milhões de desempregados em poucos meses, que tornam inviável reduzir o défice e que vão aumentar ainda mais uma dívida impossível de pagar.
Os “mercados” (ou seja, os grandes bancos e fundos especulativos, e o próprio BCE, alentado pelo governo alemão) já deixaram claro, dois dias depois do anúncio de Rajoy, que não vão afrouxar com os juros da dívida e que não se conformam. O presidente do Bundesbank (o banco central alemão) também não precisou de muito tempo para chamar publicamente o governo espanhol para que este peça a intervenção formal da economia espanhola e entregar, para todos os efeitos, o comando à Troika.
Rajoy quer atrasar este cenário às nossas custas e tem praticamente preparado o próximo aperto brutal, que consistirá num corte selvagem nas pensões e nos subsídios aos desempregados, e inclusivamente na redução em uma semana das férias anuais (uma espécie de “presente pessoal” à Merkel).
Este é o destino que nos preparam: um retrocesso de 50 anos em direitos e nível de vida, o empobrecimento geral e a miséria para milhões e a conversão do país numa espécie de semi-colónia de novo cunho. Um destino de que são necessariamente cúmplices e beneficiários, a grande banca e as grandes empresários espanhóis e o seu governo, que só aspiram a que lhes deixem continuar rapinar aqui e na América Latina.
UM GOVERNO FANTOCHE, DESACREDITADO E ISOLADO. FORA RAJOY E A TROIKA
O tremendo apoio popular aos mineiros contribui para minar ainda mais a credibilidade perdida de Rajoy e afundar a sua legitimidade após 6 meses da sua tomada de posse. Provocou, inclusive, crise no seu próprio PP entre os seus representantes nas comarcas mineiras. As novas medidas de choque estão a gerar enfrentamentos na sua cúpula, entre o governo central e os governos das autonomias que controla. Tudo isto não é mais que o reflexo de como se descompõe a base social de pequenos e médios empresários e profissionais liberais que lhe deram o apoio eleitoral e agora vêm-se condenados à ruína.
O apoio sem vergonha de personagens como Duran i Lleida (Deputado pela CiU, partido da direita calatã) longe de reforçar o Governo, debilitou também a Generalitat (governo catalão) dum Artur Mas (presidente do Governo catalão) que se vangloria de ser o aluno avançado de Merkel e o campeão dos cortes.
Tampouco fortalece Rajoy a cumplicidade vergonhosa de Rubalcaba em nome do PSOE, que se postula por uma “oposição responsável” e pede a Rajoy um “pacto de unidade nacional” para aplicar as medidas impostas pela UE. Esta atitude do PSOE desacredita-o ainda mais ante o povo trabalhador e deixa em evidência um partido amigo dos banqueiros, parte orgânica de um regime corrompido e co-responsável da actual situação.
Já Basta! Fora Rajoy e a Troika!
APÓS A MARCHA NEGRA, ORGANIZAR A GREVE GERAL! UNIR MINEIROS, FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS E TODAS AS LUTAS, JÁ!
A heróica luta mineira, com os mineiros e as suas mulheres à frente, com a greve por tempo indeterminado, com o encerramento dos poços, com a resistência nas minas, com a Marcha Negra e a impressionante recepção em Madrid, converteu-se num exemplo e referência central da classe trabalhadora de todo o Estado, aos gritos de “la lucha del minero, orgullo del obrero”.
A Marcha Negra avivou a indignação popular frente a um governo que não vacila em condenar à morte comarcas mineiras inteiras para deixar contente a UE e favorecer o negócio das grandes empresas eléctricas, dominadas pela banca e pelos fundos de investimento estrangeiro. O governo, incumprindo o pacto assinado, cortou a subvenção ao carvão em 200 milhões de euros, enquanto oferece uma quantidade superior às construtoras das autoestradas radiais de Madrid para que não percam dinheiro. Ou enquanto enterra, só no banco Bankia, 23.500 milhões para “socializar” os prejuízos. “¡No falta dinero, sobran ladrones!”
O marco histórico da Marcha Negra e a resposta às brutais medidas do Governo exige-nos dar um passo em frente: mantendo viva a solidariedade com os mineiros e rodeando de solidariedade todas as lutas, em especial a dos funcionários públicos, selvaticamente atacados pelo Governo, há que trabalhar com assertividade para organizar uma próxima greve geral que nos permita responder juntos, desde as jazidas mineiras, aos estabelecimentos públicos, as fábricas, as universidades e escolas, os bairros e os povos, aos planos de guerra social do Governo e da Troika.
Tem que se manter viva a solidariedade com os mineiros para exigir o imediato suprimento de todas as acusações às dezenas de mineiros que foram detidos estas semanas e que estão sob processos judiciais, para que o Governo cumpra com o assinado e para dar uma saída duradoura e estável que garanta o futuro, mediante a nacionalização de toda as minas de carvão sob controlo dos trabalhadores.
TEM QUE SE UNIR AS LUTAS EM CURSO
Tem que se exigir a todos os sindicatos, e em primeiro lugar aos que têm maior responsabilidade, CCOO-UGT, que tomem a tarefa de organizar unitariamente a greve geral para derrotar Rajoy. Há que dizer a Toxo e Méndez (secretários-gerais de CCOO e UGT respectivamente) que não podem manter esta política miserável de contemporização com o Governo e o isolamento das lutas entre si.
Uma greve geral que não pode ser uma mera greve de protesto sem continuidade e que deve estar controlada democraticamente pela base, em assembleias gerais que decidam as reivindicações, a sua duração e o caminho da luta. Uma greve geral que inclua entre as exigências as reivindicações mineiras, o travão na repressão policial, a retirada dos ataques aos funcionários públicos e aos desempregados e de todo o pacote de austeridade de Rajoy, a revogação da reforma laboral e das pensões, nem um euro para a banca, a suspensão imediata do pagamento da dívida pública aos banqueiros e especuladores, fora ao governo Rajoy e a Troika!
Mas enquanto exigimos não devemos ficar paralisados. Pelo contrário, tem que se levantar paralelamente a alternativa à burocracia sindical de CCOO-UGT, como nos ensinaram os companheiros da [plataforma] HQPLP (“Hay que pararles los pies”, plataforma do sindicalismo alternativo e organizações de esquerda de Madrid), ao participar unitariamente em todas as manifestações convocadas para receber os mineiros e, ao mesmo tempo, organizar numa frente única as muitas assembleias do 15M e centros sociais ocupados uma manifestação que reuniu 25 mil pessoas, onde se pode ouvir a voz dos mineiros e não apenas a da burocracia sindical, avançando na construção de uma frente única entre os que querem lutar e derrotar este governo e os seus planos de guerra social contra nós.
Tem que se trabalhar para formar um bloco de classe alternativo à burocracia das CCOO-UGT nas manifestações de 19 de Julho.
É fundamental uma frente única entre todo o sindicalismo alternativo e também dos movimento sociais que possa ser uma alternativa à burocracia sindical para unificar as lutas de verdade, com democracia e determinação, para poder vencer e derrotar o governo.
NECESSITAMOS ROMPER COM A UE DO CAPITAL E DE UM PLANO DE REGASTE AOS TRABALHADORES
O caminho para derrotar o Governo é o da luta e de projectar um plano de resgate dos trabalhadores e dos povos. Por isso não estamos de acordo com IU (Izquierda Unida), que subordinam a sua resposta à burocracia de CCOO-UGT e que não teve escrúpulos em aliar-se ao PSOE no governo da Andaluzia para aplicar “por imperativo legal” os planos de Rajoy contra o povo trabalhador. A sua grande “esperança” frente a Rajoy, é que o PP perca as próximas eleições. Mas as eleições não só estão demasiado longe como o seu sonho de um mais que improvável governo PSOE-IU também não resolveria nada, porque jamais romperia com a Troika e, como agora na Andaluzia, não teria mais opções que continuar com os planos de empobrecimento do povo.
Na verdade, não há nenhuma saída para a classe trabalhadora dentro do Euro e da UE. Chantageiam-nos dizendo que fora do Euro espera-nos o inferno. Mas a cada dia em que permanecemos no Euro os sofrimentos sobem, numa espiral sem fim que nos leva à catástrofe. Por isso, se formos embora quanto antes melhor. Apenas fora do Euro e da UE dos banqueiros, vamos construir uma sociedade sobre bases novas e lutar com nossos irmãos europeus para levantar uma Europa dos Trabalhadores e dos Povos.
15 de Julho de 2012
Videos da Manifestação da Plataforma Hay Que Pararles Los Pies em apoio aos mineiros