Continua a greve dos mineiros de Astúrias e Leão, iniciada em finais de maio, contra o corte de 63% dos subsídios pretendido pelo governo de Mariano Rajoy (PP), o que representa o fim de um setor que desde os anos 80 vem sendo submetido a um progressivo desmantelamento pelos governos PSOE e PP. O plano que o governo acertou com a União Europeia prevê o fecho, até 2019, de todas as unidades de produção de carvão a funcionar com apoios estatais. Portanto, a greve é pela defesa da mineração de carvão naquelas regiões da Espanha e também dos postos de trabalho ameaçados. A proposta defendida pelo setor é a nacionalização das minas.
Em sua luta, os mineiros adotaram variadas formas de luta, como cortes de estrada, marchas e concentrações; defenderam-se dos ataques da polícia armando barricadas; e buscaram sempre o apoio das populações e de outros setores de trabalhadores. Nesta sexta, dia 22 de junho, vão realizar a terceira “Marcha Negra” até Madrid, a terceira na história da Espanha, para dar continuidade aos protestos.
No dia 18 de junho, a greve dos mineiros das Astúrias transformou-se numa greve geral de solidariedade com os trabalhadores das minas da região, que têm contestado os cortes das ajudas ao sector. A adesão à greve foi de 75% a 100% em várias zonas das Astúrias.
Várias estradas e duas linhas ferroviárias foram cortadas com árvores e pneus e houve contentores incendiados junto às minas. Para lá das greves, dos protestos e de violentos confrontos entre mineiros e polícias, há trabalhadores que se recusam a sair das minas.
Reproduzimos, a seguir, excertos do artigo publicado no site de Corriente Roja sobre a participação das mulheres nessa luta:
A luta das mulheres mineiras é indispensável para vencer!
Na dura luta dos mineiros pelos seus direitos, é preciso destacar o papel que estão a jogar as mulheres mineiras há muitos anos.
Em 1883, havia 616 mulheres a trabalhar nas minas das Astúrias, a maioria durante a noite e a ganhar uma miséria. Depois de um período em que as mulheres foram afastadas desta atividade, houve as primeiras incorporações dentro das explorações subterrâneas em janeiro de 1996. Foi então que se quebrou o mito masculino de um trabalho só para homens.
Desde então, as mulheres foram ganhando peso dentro da mineração, apesar de ser um setor ainda maioritariamente masculino. Hoje em dia, a maior empresa mineira das Astúrias tem 186 mulheres, 5,5% de seus 3.378 trabalhadores, sendo o maior coletivo de mineiras do Estado.
Um papel importante
A luta que remonta às origens da presença feminina na mineração, exigindo igualdade no trabalho e respeito como mulheres trabalhadores, implica uma luta dupla, isto é, incorpora também a defesa incondicional dos direitos das e dos trabalhadores do setor.
Na campanha atual, as mulheres estão a jogar um papel fundamental, saindo às ruas, participando nas barricadas, enfrentando a polícia armadas com pedras, ao lado dos seus companheiros de trabalho ou maridos. Elas dizem que nem elas nem os mineiros são terroristas ou criminosos: “Somos pessoas normais, estamos a defender o nosso pão, porque não temos indústrias, nem trabalho algum que não seja na mina. Não queremos pedir esmolas, mas, sim, viver do que é nosso”, disse uma delas.
Uma das últimas ações realizadas pelas mulheres dos mineiros que se mantêm dentro da mina, a 3000 metros de profundidade no poço de Santa Cruz del Sil, do Grupo Alons, foi enviar uma carta ao primeiro-ministro espanhol a relatar o drama que estão a viver. “Este confinamento afetará a sua saúde, já que têm de suportar a humidade e a falta de sol, além da incerteza de não saber se vão poder continuar a manter as suas famílias; famílias que não podem ver nem tocar, filhos que não podem abraçar e que precisam deles, porque são seu pais e não entendem porque os ‘obrigam’ a confinar-se, simplesmente pelo facto de quererem continuar a trabalhar onde sempre trabalharam.(…) O que vocês fazem não são cortes, são abusos aos mais fracos, porque parece que só os ricos merecem a sua ajuda. Por exemplo, no caso do Bankia. Não estamos pedindo dinheiro grátis, nem que nos mantenham, só pedimos nossos postos de trabalho e os salários correspondentes: é dinheiro em troca de trabalho.”
Nos últimos dias, dezenas de mulheres de mineiros que estavam a assistir ao debate sobre o Orçamento do Estado no Senado, em Madrid, foram desalojadas da sala após cantar cantigas em defesa da mineração e contra os cortes às ajudas ao carvão. O incidente aconteceu depois que os senadores votaram um das sete emendas contra os cortes apresentadas pelo grupo socialista e que foram rejeitadas com os votos do PP, que tem maioria absoluta.
Após esta votação, as mulheres dos mineiros, aproximadamente uma centena, começaram a gritar e a abrir painéis em defesa da luta: “Aqui estão, estas são as mulheres do carvão” foram as palavras de ordem mais escutadas no hemiciclo. Do lado de fora, esperavam-nas cerca de duas centenas de mulheres, também provenientes de Astúrias, Aragão e Leão.
Pela liberação da ajuda ao carvão e nacionalização das minas!
Unamos as lutas para parar os cortes!
Suspensão do pagamento da dívida e auditoria pública!
Nem 1 Euro para a banca! Expropriação sob controlo dos/das trabalhadores!