O governo de Passos Coelho passou na avaliação da troika, mas está a ser chumbado na avaliação do povo. É isso que demonstra o estudo divulgado hoje pela imprensa que mostra o PSD a perder 7 pontos percentuais dos votos (caiu de 43% a 36%) em comparação com as últimas sondagens, de setembro do ano passado. E para onde estão a ir os votos perdidos? Para a esquerda antitroika, representada no parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE) e o PCP. Ambos subiram, passando de 6% e 7%, respetivamente, para 9%. O PS – sempre a favor da troika, apesar dos desajeitados esperneios de António José Seguro – ficou na mesma (33%). Quanto ao CDS-PP, também manteve os seus 6%.
Esse estudo – realizado pela Universidade Católica Portuguesa – demonstra que Portugal começa a fazer uma evolução semelhante à da Grécia em termos eleitorais, com o crescimento dos partidos antitroika e a queda dos que apoiam a intervenção da União Europeia e FMI e a austeridade. Apesar de não perder votos, o PS também não cresce, o que só acontece com os partidos claramente contra o memorando de entendimento com a troika.
Esses resultados demonstram, ainda, de forma categórica, que a maioria da população está contra a coligação (PSD e CDS) que governa o país: PSD e CDS totalizam 42% das intenções de votos, enquanto PS, CDU e BE somam 51%. Nas eleições do ano passado, PSD e CDS-PP perfizeram 50,4%.
Razões do chumbo
Há motivos de sobra para reprovar o governo: vão dos números recorde de desempregados, ao corte de salários, reformas e benefícios sociais; do roubo do subsídio de férias e de natal na Função Pública, aos aumentos nas faturas da água, eletricidade e gás; do aumento nos transportes aos cortes na educação e na saúde; na redução de direitos laborais à repressão dos movimentos sociais; da privatização das empresas públicas, ao corte de investimentos nos serviços sociais; do escândalo das secretas protagonizado por Miguel Relvas e outros membros do governo até as ameaças feitas por esse mesmo ministro a jornalistas e à comunicação social.
A contrapartida do governo ao aumento exponencial da pobreza do povo tem sido o desvio de recursos para a banca e a criação e ou manutenção de benefícios para as grandes empresas, como as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Ficamos a saber agora que o Estado vai injetar mais até 6650 milhões de euros na banca nacional, além dos milhões de euros que já o foram no passado recente. Ficamos a saber também que o governo está a pensar em baixar a taxa social única, o que pode colocar em risco a Segurança Social.
E tem mais: o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, admitiu nestes dias que o governo estuda a proposta defendida pelo testa de ferro do FMI, hoje a chefiar a equipa do governo para as privatizações e a avaliação das parcerias público-privadas, o economista António Borges, de estender o corte salarial realizado no setor público ao setor privado.
Todos muito satisfeitos, menos a população
Não é de estranhar, portanto, que a troika esteja muito satisfeita com o desempenho do executivo de Passos Coelho e libere a transferência da quinta parcela do empréstimo acordado com o governo, cujo destino são os cofres da banca portuguesa. Com o maior cinismo, a troika sugeriu ainda mais medidas para flexibilizar o mercado de trabalho (leia-se retirada de direitos laborais em prol dos patrões) para combater o desemprego.
Logo após a avaliação positiva da troika, como obediente menino de recados, o primeiro-ministro demonstrou-se também muito satisfeito. Mas o seu sorriso deve ter azedado bastante com o resultado das sondagens da Católica. Enganar o povo com discursos em nome da competitividade, de reformas estruturais e outras patranhas até se consegue durante algum tempo, principalmente quando não se apresenta uma outra alternativa credível, mas não durante muito tempo.
No caso português, esta sondagem demonstra que bastou um ano de governo para desmascarar as mentiras do executivo PSD/CDS-PP. É preciso agora traduzir esse resultado nas lutas sociais, nas mobilizações de rua, nas empresa, nas escolas e universidades. Façamos como o povo grego: chumbemos o governo nas lutas e nas urnas!