Miguel Relvas, número dois do governo PSD/CDS, viu-se envolvido, através de uma notícia do jornal Público, no escândalo das secretas. Segundo a notícia, Jorge Silva Carvalho (o já famoso “superespião), ex-diretor do Sistema de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED) e quadro da empresa Ongoing, “enviou, por correio eletrónico, ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, um relatório detalhado com um plano para reformar os serviços de informação”, num plano que aproximava pessoas da sua confiança e afastava outras.
O escândalo obrigou a que Relvas fosse ouvido no Parlamento, a pedido do Bloco de Esquerda. As suas respostas não foram satisfatórias. Maria José Oliveira, jornalista do Público, envia novas perguntas ao ministro, apontando flagrantes incongruências.
Relvas terá, então, telefonado à editora de política do Público e ameaçado o jornal com um “blackout” por parte de todos os ministros, queixa à ERC e, muito mais grave, exposição na internet de factos da vida privada da jornalista. Dado que o ministro não respondeu às perguntas enviadas por Maria José Oliveira, o jornal não publicou a notícia.
O mais grave de toda a questão foi a cobardia e o método pidesco de Relvas. Como é que o ministro teve acesso à vida privada de Maria José Oliveira? Porque é que Relvas teve tanto medo das perguntas? O método da ameaça é intolerável, e Relvas devia não só ser demitido como investigado o método pelo qual tem acesso à vida privada de outras pessoas. Este episódio demonstra bem quão canalha (não há outra palavra) pode o ministro ser. Meteu depois os pés pelas mãos, desmentindo o sucedido e pedindo desculpa (se não fez nada porque é que pede desculpa?). Diz depois que se sentiu pressionado, sem tempo para responder às perguntas. Teve, porém, tempo para fazer ameaças. Relvas, se fosse um homem decente, já se tinha demitido. E por cada hora que passa sem a sua demissão, Passos Coelho é cada vez mais cúmplice de tudo.
O segundo facto grave foi a própria decisão da direção do Público de não divulgar a pressão do ministro e não publicar os artigos feitos pela jornalista a informar que o ministro se negava a responder às suas perguntas. O caso só se tornou público porque o Conselho de Redação o divulgou. Houve, sem sombra de dúvida, matéria para notícia: foram apresentadas incongruências no depoimento de Relvas e este não quis responder perante isso. Isto já é notícia! Mais grave ainda, a direção do Público tinha que defender intransigentemente a sua jornalista, denunciar a cobarde ameaça de que foi vítima e, se dúvidas houvesse, publicar a sua notícia para mostrar que não cedia. Assim, a direção do Público fica muito mal na fotografia, dando a ideia de ter encontrado uma desculpa para ceder à inaceitável pressão do número dois do governo, situação que só foi alterada, positivamente, com a divulgação de uma nota da direção de “esclarecimento aos leitores sobre o caso Relvas” no dia 25 de maio, quase dez dias depois do telefonema do ministro.
De tudo isto importa reter que um dos principais quadros do Governo, além de roubar o povo ao abrigo do memorando com a troika, não tem qualquer pejo em atacar a liberdade de imprensa e em usar métodos salazaristas e chantagistas.
Queremos a verdade no caso das secretas!
Demissão imediata do ministro Miguel Relvas!
Pela liberdade de imprensa!
Toda a solidariedade com a jornalista Maria José Oliveira!