Romper com a troika, suspender o pagamento da dívida, aumentar os salários e reativar a economia!

Editorial do Ruptura de Setembro 2011

Os planos de austeridade impostos pela União Europeia e FMI aos países europeus não são a solução para a crise económica. As bolsas continuam a cair, a dívida e os juros a subir e o desemprego a aumentar. O que está a acontecer na Grécia é bem um exemplo disso: o povo ficou na miséria e o país na bancarrota. Com Portugal deverá acontecer o mesmo caso o acordo com a troika continue a ser aplicado.
Basta ver o que já está a acontecer: menos 6000 professores nas escolas em comparação com 2010; salários congelados e parcialmente confiscados; aumento nos preços dos transportes, luz e gás muito acima da inflação; cortes na saúde, com redução das comparticipações de medicamentos e aumento das taxas moderadoras; aumento do IVA e novos impostos apenas para os assalariados; privatização de bens e serviços essenciais, como a água, os transportes e correios.
Só estão a salvo da fúria devastadora do governo da direita e da troika os lucros dos grandes capitalistas. Estes senhores não vão ter que pagar pelo imposto de Natal que nos vai roubar metade do subsídio ou qualquer imposto sobre as suas fortunas. Pelo contrário, vão passar a contar com mão-de-obra mais barata devido ao congelamento dos salários e ao desemprego, pagar menos de Taxa Social Única (TSU) e ainda poderão compra empresas públicas a preço de saldo.
Diante do impacto das medidas de austeridade na vida das pessoas – que recém começam a ser sentidas -, o discurso da inevitabilidade vai perdendo a sua eficácia. Se até agora a resistência à austeridade esteve praticamente limitada à corajosa luta dos trabalhadores do Estaleiro Naval de Viana do Castelo e da Transportadora Nacional de Camionagem (TNC) em defesa dos seus postos de trabalho, ela deve começar a aumentar de intensidade.
Todos devemos apoiar e participar das manifestações convocadas para o dia 1 de Outubro, pela CGTP, e 15 de Outubro, pelo M12M e Acampada do Rossio, entre outros movimentos. O 15 de Outubro tem uma importância especial porque está a ser convocado pelo movimento dos indignados do estado espanhol, o 15M, para ser um dia de luta internacional. Mas todos sabemos que a mobilização contra o governo e a austeridade não pode parar aí. Derrotar a política de austeridade é uma tarefa difícil, como o comprova a luta do povo grego, mas não impossível, como o também o demonstram as vitórias da classe trabalhadora e da juventude no passado.
Para sermos vitoriosos devemos obedecer a dois princípios. Em primeiro lugar, devemos buscar a unidade, em vez da divisão. A próxima manifestação deveria ser unitária, CGTP e movimentos sociais juntos a convocar a população – nos bairros, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades – para lutar pela recuperação dos nossos direitos confiscados. Foi um erro a divisão imposta pela CGTP e pelo PCP das manifestações de 1 e 15 Outubro. Nós iremos às duas e apelamos a todos os trabalhadores para que façam o mesmo, mas é lamentável esta divisão artificial de manifestações.
Em segundo lugar, defendemos a democracia no interior da nossa luta, para que todos tenham o direito de se manifestar e expor as suas ideias e propostas. No interior desse amplo movimento popular, defendemos um programa de saída da crise que passa pela rutura com a troika e as medidas de austeridade; pela suspensão do pagamento da dívida pública, seguida de uma rigorosa auditoria; pela aplicação dos recursos assim poupados no aumento dos salários e do investimento público em saúde, habitação, educação e cultura, para gerar emprego e riqueza ao país; pela nacionalização da banca e das empresas estratégicas, como a Galp e a EDP; e pela democratização da política, com a transferência do poder de decisão dos gabinetes dos políticos e empresários para as ruas, locais de trabalho e escolas.
Todos à luta contra a troika e a austeridade! Pela organização de uma manifestação unitária! Preparemos desde já uma nova greve geral. Há razões mais do que suficientes e já tarda. O governo de Passos Coelho e Paulo Portas não ouvirão nem mudarão nada de outra maneira.

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