A demagogia da ministra Assunção (e dos seus pares)

A ministra da Agricultura (e várias outras matérias), Assunção Cristas, anunciou ao país a primeira iniciativa do governo para a criação de uma Bolsa Nacional de Terras. Tão pomposa denominação teria por objetivo promover o aumento da produção nacional no sector agrícola e combater o abandono de terras. Para começar, segundo a ministra, irão a leilão 165 hectares de um total de 600 “que restam da reforma agrária”, para “que possam ser aproveitados por jovens agricultores”.

Como de boas intenções o inferno está cheio, bastaram alguma poucas horas para ficarmos a saber que o tais “jovens agricultores” vão precisar de muita sorte para conseguir cultivar as terras arrendadas pela ministra Assunção. O problema é que o setor anda muito mal das pernas. Quem o diz é o presidente da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (Fipa), Jorge Henriques: as vendas caíram entre 5 a 6% nos primeiro trimestre deste ano, em consequência das medidas de austeridades do governo, entre as quais o aumento do IVA intermédio.

Para piorar ainda mais o cenário, disse ele em entrevista à Antena 1, o setor tem cada vez mais dificuldades para aceder ao crédito. “O financiamento, que é escasso para a indústria em geral, é muitíssimo escasso para as indústria do setor alimentar.” Mesmo o aumento das exportações não chega para compensar a contração interna, “até porque a grande maioria, como é sabido, são pequenas e médias empresas, que não têm capacidade de acesso aos mercados internacionais, mais ainda este ano”. Segundo ele, os prognósticos são sombrios: “O segundo trimestre do ano vai agravar alguns desses indicadores, vamos ter mais dificuldades.”

O leilão de terras para “jovens agricultores” (com menos de 40 anos) da ministra Assunção não passa, portanto, de mais uma manobra demagógica do governo Passos Coelho para tentar enganar os portugueses. O facto é que a indústria agro-alimentar representa 4,5% do PIB português e, de acordo com a Fipa, apenas metade do que comemos é produzido em Portugal.

Além disso, os salários dos agricultores portugueses são dos piores da zona euro. Segundo o Eurostat, enquanto os salários dos agricultores europeus subiram uma média de 6,7% no ano passado, em Portugal houve uma descida de 10,7%. Portanto, quando a ministra Assunção diz que “não falta emprego na agricultura, falta é gente para trabalhar” talvez esteja a referir-se ao trabalho semi-escravo e sem direitos, tão ao gosto dos seus pares no PSD/CDS-PP.

Enquanto anuncia mais um “flop” agrícola, o governo de Passos Coelho continua a demonstrar a que veio: destruir todas as conquistas obtidas pelo povo no 25 de Abril. Os números da Segurança Social são exemplares: 600 mil famílias perderam abonos, 70 mil pessoas ficaram sem Rendimento Social de Inserção e 200 mil desempregados, sem qualquer proteção, quando o desemprego já atinge 15% da população ativa. O governo, inclusive, já admitiu o que já se sabia: quer privatizar a Segurança Social e aumentar a idade da reforma para 67 anos. Tudo para permitir que os amigos das PPP, do BPN, dos submarinos, do Grupo Mello, etc. tomem conta de tudo.

Esse é o plano deles. Mas não o nosso, isto é, dos milhões de portugueses que estão a ver a sua vida andar para trás.

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