Transcrevemos o comunicado de Corriente Roja (http://www.corrienteroja.net) escrito após a greve geral de 29 de março no Estado Espanhol:
“No dia 29 de março, milhões de trabalhadores/as manifestaram na greve e nas ruas a sua categórica rejeição à reforma laboral, aos cortes e planos de guerra social do governo de Mariano Rajoy (PP). Nunca um governo reuniu tanta rejeição em tão pouco tempo. Por mais que os propagandistas do governo se empenhem não conseguem apagar o facto de que a greve teve uma adesão massiva e mostrou o repúdio da classe trabalhadora aos planos deste governo de Merkel e Sarkozy, dos testas-de-ferro da banca e das grandes fortunas. Nem as ameaças de despedimento e as chantagens nas empresas, nem a vergonhosa violência policial ou as prisões impediram a greve.
Rajoy obteve em poucos dias duas derrotas, as eleições andaluzas e a greve geral. Mas este governo, como o seu predecessor, demonstra que está disposto a sacrificar-se caso seja necessário. Um dia depois da greve apresentou o Orçamento Geral do Estado mais restritivo dos últimos 30 anos. O corte de gastos anunciado prevê uma nova onda de despedimentos de trabalhadores/as autárquicos e da administração pública e um novo aumento de impostos. Prevê, ainda, a “intervenção” nas autarquias convertendo-as em meras gestoras dos planos traçados desde o governo central. E, enquanto aplicam novas medidas de guerra social contra os trabalhadores e o povo, concedem uma amnistia fiscal aos defraudadores.
Rajoy governa com o “fraque e a batina”. Com o fraque dos banqueiros declara uma guerra social aos trabalhadores e ao povo para, a seguir, com a batina dos padres, pregar a resignação.
O governo sabe que na luta, como na guerra, a propaganda é uma arma importantíssima. Por isso, as suas medidas são acompanhadas por uma intensa atividade de propaganda, para tentar convencer-nos que as greves e os protestos sociais não servem para nada. Dizem que, como estamos numa crise, não há outra saída que a resignação aos cortes, às reformas laborais, à redução dos salários e à facilitação dos despedimentos.
Mentem sobre o caráter desta crise, mentem sobre os responsáveis por esta crise e mentem também sobre a forma de combatê-la. Quando anunciam que não há dinheiro para criar emprego, que não há dinheiro para que as famílias sem emprego tenham subsídio, que não há dinheiro para a saúde ou educação públicas, enquanto, à frente de todos, liberam as grandes fortunas dos impostos e não poupam recursos milionários para resgatar os banqueiros, é preciso dizer-lhes que mentem.
Esta crise não foi causada por qualquer desígnio divino, nem brotou como as couves, é a crise do sistema capitalista! Mas quando o governo e os capitalistas falam em “sair da crise” o que estão a dizer é: que saiam eles da crise! Que se salvem a eles da crise! Que salvem o seu sistema às custas dos trabalhadores e do povo!
Suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros e auditoria pública!
Necessitamos de um plano de resgate dos trabalhadores!
Estão a transformar uma gigantesca dívida privada dos banqueiros, grandes empresários e especuladores numa dívida pública de todos, e para pagar essa dívida aplicam os cortes, sobem os impostos e nos declaram uma guerra social.
A cada dia neste país gastam-se 110 milhões de euros para pagar os juros de uma dívida que os especuladores e os bancos criaram. Estamos a dizer que os juros de um só dia dessa dívida superam os cortes na educação madrilena para 2012. Estamos a dizer que com o valor do pagamento dos juros dessa dívida num só mês resolver-se-ia o problema de moradia para mais de 16 mil famílias. Estamos a falar que com o que se pagou num só mês de juros poder-se-ia pagar um subsídio de 1000 euros por mês a mais de 3.300 desempregados. É disso que estamos a falar.
Por isso, o verdadeiro dilema do país não é se há recursos ou não, o verdadeiro dilema não é outro que ou trabalhamos e comemos ou pagamos essa dívida. Esse é o dilema.
Temos que dizer bem alto: Não vamos pagar a vossa dívida com a fome dos trabalhadores e do povo! Não aceitamos pagar a vossa crise. Abaixo o plano de guerra social de Rajoy e da União Europeia!
Frente ao fatalismo e à resignação que nos querem impor, há que dizer a milhões de trabalhadores que é possível, que há saída, que a luta por emprego, por salários dignos, por moradia, por educação e pela saúde pública tem um ponto de partida comum que é deixar de pagar essa dívida infame, suspender o seu pagamento e exigir uma auditoria pública que desmascare a fraude e aponte os seus responsáveis. Queremos que todos esses recursos milionários sejam postos ao serviço do único plano de resgate que está a faltar, um plano de resgate dos trabalhadores e do povo.
Porque há saída e é possível! Há que batalhar para que, nas greves e na luta, essa bandeira da suspensão do pagamento da dívida seja levantado como o principal estandarte em torno do qual seja construída uma saída operária para a crise.
1º de Maio de luta e nova greve geral
Toxo [secretário-geral de CCOO/Comisiones Obreras] e Méndez [secretário-geral da UGT] continuam a acreditar que tudo será como antes e que o governo vai chamá-los a correr para negociar, mas estão equivocados. A União Europeia já deixou claro que a reforma é insuficiente e é preciso endurecer ainda mais. E o que o governo de Rajoy colocou sobre a “mão estendida” desses dois senhores foi um novo retrocesso, o Orçamento Geral do Estado.
Toxo e Méndez agarram-se a um modelo capitalista que, além de injusto, imposto nestas seis últimas décadas sobre o saque de continentes inteiros, sucumbiu com a crise. Não compreendem, ou não querem compreender, que estamos em outra situação. Que o sindicalismo do “diálogo social”, dos pactos, numa guerra social já não tem espaço. Cortaram-lhes a torneira, já não há mais espaço a não ser para o sindicalismo de classe para lutar ou para o papel de meros testas-de-ferro da patronal.
Quando Toxo e Méndez convocaram a greve, a greve geral já estava convocada em quase metade do Estado Espanhol pelos sindicatos bascos, galegos, canários, e o sindicalismo alternativo tinha convocado uma jornada estatal de luta para o dia 29. Os dirigentes de CCOO e UGT engoliram esta greve geral contra a sua vontade e vão ter que engolir mais. A guerra social de um lado e a resposta da luta de outro vão deixar a classe trabalhadora frente a um dilema de ferro: ou com os dirigentes à cabeça ou com a cabeça dos dirigentes.
Esta greve geral não é o final de nada, não é mais do que um ensaio geral, é o princípio do caminho. No momento que nos toca viver não há lugar para as meias tintas, não é a hora nem dos tímidos, nem dos “Don Tancredo”, desta situação os trabalhadores saem pela porta ou pela enfermaria. Para derrotar a reforma laboral e os cortes, para impor um plano de resgate dos trabalhadores e do povo, mais que nunca a luta é o único caminho e nela é preciso seguir.
O 1º de Maio deve ser uma verdadeira jornada nacional de luta, com manifestações massivas. É preciso exigir de todas as organizações sindicais, desde os comités de empresa e assembleias uma nova greve geral de 48 horas. É preciso também pedir das organizações sindicais de toda a Europa, em especial da CES, presidida por Cándido Méndez, que convoque uma greve geral europeia porque em todo o continente os trabalhadores enfrentam os mesmos planos de cortes e reformas e em todos os lugares os rejeitamos como mostram as greves gerais de Portugal, Grécia, Bélgica e, agora, Itália.
Após o êxito do dia 29, a luta deve continuar.”
Corriente Roja
2 de Abril de 2012