Em 2005, com a ajuda de especialistas americanos de marketing, Israel iniciou uma campanha internacional de branqueamento da ocupação israelita denominada “Brand Israel” (“Marca Israel”), com o objectivo de divulgar a imagem de um país moderno, amante da cultura e tolerante para com as suas minorias. Neste âmbito, são promovidos desde os festivais internacionais de cinema e de música até campanhas de promoção de turismo para gays.
Infelizmente, os muitos milhões de dólares canalizados para essa campanha têm conseguido aliciar artistas, académicos e personalidades diversas, incluindo de Portugal. É o caso, por exemplo, da atleta Rosa Mota, que aceitou inaugurar a maratona de Jerusalém de 2011, convidando o público a visitar esta cidade “muito especial”, omitindo qualquer alusão ao que torna essa cidade realmente especial: a tentativa do governo e dos colonos israelitas de expulsar a médio prazo todos os seus habitantes árabes, através da expropriação de terrenos e da demolição de casas. E é o caso de inúmeros institutos e faculdades portuguesas que não resistem às generosas ofertas de subsídios para estabelecer cooperações “apolíticas” com outros institutos israelitas.
Universidade de Coimbra deve cancelar projecto
O Comité de Solidariedade com a Palestina escolheu recentemente um desses projectos pseudo-científicos como alvo da sua actuação BDS (campanha internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções contra o Estado de Israel). A instituição em causa é a faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, empenhada neste momento em desenvolver um projecto com a International Security and Counter-Terrorism Academy (ISCA), um complexo militar-industrial israelita especializado em “anti-terrorismo”, situado no coração da história mais sanguinária de Israel.
Este projecto é custeado pelos contribuintes europeus, através do programa de financiamento de pesquisa FP7, no âmbito do projecto Scientific Approach to Fighting Radical Extremism (SAFIRE). Segundo os seus promotores, o “objectivo de SAFIRE é de melhorar uma compreensão fundamental dos processos de radicalização e utilizar essa compreensão para desenvolver princípios que melhorem (a implementação) de intervenções para prevenir, travar e reverter a radicalização”. Um discurso eufemista para designar a luta contra a resistência palestiniana à ocupação e, de uma maneira mais geral, contra o chamado “islamismo”.
Em nome do combate aos radicalismos e ao “terrorismo”, a União Europeia financia portanto pretensas investigações académicas que mais não são que instrumentos de branqueamento da política de colonização israelita. Há mais do que uma universidade portuguesa atraída pelos fundos que apoiam esse branqueamento, mas é esse projecto em particular da Universidade de Coimbra que estruturará nos próximos tempos a nossa acção de solidariedade para com o povo da Palestina.
Algumas vitórias da campanha BDS
No entanto, se, como foi dito, os esforços de propaganda de Israel e dos seus amigos norte-americanos e europeus têm surtido efeitos a seu favor, não é menos verdade que a campanha BDS, implementada em 2005, também tem conseguido êxitos cada vez mais frequentes ao longo destes anos a nível internacional. Foram numerosas as vitórias alcançadas pelos activistas BDS em 2011. Músicos de renome cancelaram os seus concertos programados em Israel e aderiram à campanha anti-apartheid, como foi o caso de Jon Bom Jovi, Vanessa Paradis e Johnny Depp, Roger Water, fundador dos Pink Floyd, Peter Seeger, Natacha Atlas, Martha Frintziler da Grécia, o famoso Eddie Palmieri de Porto Rico, Jason Moran e o Festival de Jazz do Mar Vermelho. Estes são apenas alguns dos nomes daqueles que nos últimos meses souberam recusar os altos cachets oferecidos pelo governo israelita.
Podemos orgulhar-nos de, também em Portugal, termos alcançado vitórias em 2011. Foi o caso da campanha dirigida a Dulce Pontes, que acabou por cancelar a sua actuação em Telavive, embora a cantora não tenha assumido publicamente um significado político do cancelamento. Neste momento, os mesmos esforços estão a ser feitos para que outra cantora portuguesa, Ana Moura, desista de actuar em Israel no próximo dia 19 de Janeiro, para que não mostre “indiferença ao fado do povo palestiniano”, como dizem os nossos companheiros da Campanha Irlandesa de Solidariedade com a Palestina, um fado que “sob a ocupação israelita inclui a expropriação, colonização, prisão sem julgamento, tortura, cerco (no caso de Gaza), privação das necessidades básicas a uma vida decente e a permanente ameaça de agressões ou assassinatos por soldados e colonos”.
Elsa Sertório
Membro do Comité de Solidariedade com a Palestina
Assine aqui o abaixo-assinado que apela à Universidade de Coimbra para que cancele a sua colaboração no projeto de “investigação” SAFIRE e leia a carta enviada à Universidade de Coimbra:
http://www.thepetitionsite.com/1/cooperacao-universidade-coimbra-e-apartheid-israelita/