Os bons modos do governo da direita

Há alguns meses que os 126 trabalhadores da empresa TNC vêm lutando para garantir o direito ao trabalho. Desde julho que desfilam com dezenas de camiões por Lisboa para pressionar o governo a encontrar uma saída para a manutenção da empresa, em processo de insolvência desde janeiro de 2010. Participaram também da manif de 1 de outubro último convocada pela CGTP em protesto contra as medidas de austeridade.

Pois na madrugada desta quarta-feira, 200 policiais do Corpo de Intervenção da PSP foram mobilizados para acabar com o protesto dos camionistas. Rebocaram os 30 camiões estacionados em frente ao Campus da Justiça, no Parque das Nações e outros na sede da empresa, em Alverca. A polícia cumpriu a decisão de liquidar a empresa aprovada na assembleia de credores e contestada pelos trabalhadores. Os principais credores da TNC são os bancos Espírito Santo e Santander Totta, os mesmo que especulam com a dívida pública e são protegidos da bancarrota com o nosso dinheiro.

Com a musculada intervenção da PSP o governo pretende acabar com o protesto dos camionistas. Não há negociação, não há discussão possível. Este é o método do executivo de Pedro Passos Coelho. O mesmo que vem promovendo na sempre subserviente comunicação social peças em que prima um discurso de suspeição sobre os movimentos sociais. O objetivo é provocar o medo para que as pessoas desistam de protestar.

Mas, tanto no caso dos trabalhadores da TNC quanto no conjunto do movimento social, o mais provável é que o governo da direita não consiga o seu intento. Frente a dureza dos ataques contra o povo, os trabalhadores e a juventude, não há como evitar o protesto. Foi possível adiá-lo em sua maior dimensão até agora, por razões várias, mas não o será ad infinitum.

O movimento social não foi derrotado – pelo contrário, teve uma grande vitória com a demissão do governo Sócrates, provocada pela poderosa manifestação da Geração à Rasca de 12 de Março. Sem alternativa política e de continuidade da luta, o movimento acabou por ficar temporariamente prisioneiro da solução eleitoral e do discurso da inevitabilidade das medidas de austeridade e da intervenção da troika. Mas não foi derrotado. Demonstram-no a determinação dos camionistas da TNC, o protesto contra as portagens na Via do Infante e, também, a ainda molecular, mas sustentada, reorganização do movimento popular e sindical.

O compasso de espera pode estar nos seu últimos momentos. A favorecer a resistência há os exemplos internacionais, em especial os da vizinha Espanha e Grécia, mas também o dos jovens e trabalhadores que “ocupam” Wall Street. Também a favorece exemplos domésticos de corrupção clientalismo e impunidade, como o da Madeira, de Alberto João Jardim e os seus comparsas do PSD. O 15 de Outubro será um bom termómetro. Lá estaremos todos os que não julgam uma inevitabilidade ter que aturar este governo, a troika e o roubo dos nossos salários, dos nossos empregos, das nossas riquezas e das nossas vidas.

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