Protesto contra o capitalismo chega a Wall Street

Depois de se alastrar pela Europa e várias cidades do mundo, inclusive Telavive, as acampadas – a forma de luta inaugurada pela revolução árabe na Praça Tahrir, no Egito – alcançaram o coração do imperialismo mundial. Milhares de jovens do movimento de protesto “Occupy Wall Street” (Ocupar Wall Street) participam de uma acampada que já dura mais de quinze dias à porta da bolsa de valores de Wall Street, em Nova Iorque. O objetivo dos manifestantes é protestar contra o sistema financeiro, que domina a economia do país e do mundo e lança a maioria da população na pobreza.

No domingo dia 2 de Outubro, a democracia burguesa de Obama demonstrou que este movimento está a incomodar e utilizou a repressão para tentar derrotá-lo. Prendeu mais de 700 manifestantes na ponte do Brooklyn durante uma marcha pacífica por Manhattan. A encabeçar a marcha estava uma faixa onde estava escrito “We the people” (Nós, o povo), numa referência à Constituição dos Estados Unidos da América. A maioria dos detidos foi solta, mas indiciada por desordem, tendo recebido intimação judicial.

A repressão policial não cumpriu o seu objetivo de amedrontar os manifestantes e liquidar o movimento, pelo contrário, incentivou a sua difusão por outras cidades do país. Centenas de manifestante saíram às ruas em Boston, Los Angeles e Albuquerque (Novo México) para solidarizar-se com os ativistas de Nova Iorque. Em São Francisco realizou-se um proteste em frente ao banco Chase.

A acampada de Wall Street é uma resposta da juventude contra a péssima situação económica da maioria da população. A taxa de desemprego dos EUA mantém-se nos 9% e 45% dos cerca de 14 milhões de desempregados estão sem trabalho há mais de seis meses. Segundo os dados do último censo, 46 milhões de pessoas, 15% da população, vivem abaixo do limiar de pobreza. “Somos os 99% e estamos contra o 1% que possui mais de 40% da riqueza do planeta”, disseram os manifestantes.

O “Ocupar Wall Street”, assim como aconteceu no desencadear da revolução árabe na Tunísia e no Egito, na manifestação da Geração à Rasca e Acampada de Lisboa, em Portugal, ou no Movimento 15M, no Estado Espanhol, começou na Internet, com uma convocatória publicada na revista canadiana de cultura alternativa Adbusters. No dia 17 de Setembro, quando a acampada começou, eram 2 mil pessoas na assembleia popular, e dormiram no parque Zuccotti (rebatizado de Praça da Liberdade), a zona verde próxima a Wall Street onde estão reunidas as tendas, pouco menos de 300 jovens.

Aos poucos, o número de adesões foi crescendo, até alcançar os vários milhares que participaram da manifestação do dia 2 de outubro em Manhattan e outras cidades do país. Ajudou a quebrar o boicote da media norte-americana o apoio dado ao movimento por Noam Chomsky, Susan Sarandon, Michael Moore, Russell Simmons (produtor de música) e Cornel West (artista e ativista dos direitos humanos). Na Declaração de Ocupação de Nova Iorque, aprovada numa das assembleias populares, chama-se o mundo a ocupar os espaços públicos contra o poder e a corrupção.

A acampada de Wall Street é um acontecimento de primeira grandeza. Ocorre nos Estados Unidos, não está sob o controlo de um sindicalismo domesticado ou do Partido Democrata, e tem como centro o combate ao capitalismo. Assim como o movimento das acampadas pelo mundo afora, inclusive o da Acampada de Lisboa, é a resposta de uma juventude que não confia na política tradicional, no parlamento, na justiça e nos governos burgueses que os vêm condenando ao desemprego, à precariedade e a sucessivas derrotas em suas lutas. Este movimento progressivo e corajoso conta com o nosso total apoio.

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