O Manifesto defende a unidade BE-PCP para que “o PS reconheça que tem um interlocutor com quem pode fazer um acordo”. No início de Maio foi lançado, por membros da “esquerda do PS” e da Renovação Comunista, um Manifesto, subscrito também por militantes do Bloco de Esquerda e independentes, intitulado “Convergência e Alternativa”, que promove agora reuniões abertas, assumindo-se como um movimento que defende a unidade BE-PCP e a suspensão do pagamento da dívida.
É até irónico ver bloquistas que eram, na Convenção do BE, contra estas mesmas propostas que o Ruptura/FER apresentava, subscreverem alegremente o Manifesto. Parece incoerência, mas não é: o Manifesto propõe na realidade pagar a dívida e governar com o PS.
Pagamento da dívida
Na verdade, este movimento, que parece progressivo e à esquerda do BE e PCP, defendendo a suspensão do pagamento da dívida, direcciona a sua proposta no mesmo sentido destes partidos, na defesa da reestruturação da dívida externa, em vez de acumular forças para impor a suspensão do seu pagamento, como defendemos.
Reestruturar significa reconhecer parte substancial da dívida e, consequentemente, atrelar o país a um pagamento prolongado, à recessão e à austeridade. Opor-se a esse roubo não é o objectivo deste movimento, que não se assume contra intervenção do FMI e da União Europeia e que defende o mesmo que a burguesia, a UE e o FMI: o pagamento da dívida.
Governo das Esquerdas
Para aplicar este programa, o Manifesto defende um “Governo das Esquerdas”. Propõe a unidade BE-PCP não como alternativa ao centrão, mas para que “o PS reconheça que tem um interlocutor com quem pode fazer um acordo”.
Esta afirmação resume o proecto de uma Frente Popular, que pinte de esquerda a solução capitalista para a crise. Isto porque o PS é um dos pilares do regime, comprometido com a burguesia rentista e financeira que criou a crise e que necessita da austeridade para recuperar dela. Acreditar que o PS governará à esquerda é bem mais utópico do que defender uma saída anticapitalista para a crise.
Novo sindicalismo?
Associado a este manifesto surge um outro, intitulado “Por uma Nova Agenda Sindical”. Subscrito por dirigentes sindicais, académicos e activistas dos movimentos de precários, baseia-se em duas ideias: “reforço da democracia interna” e “repensar a relação dos sindicatos com os partidos”. Mas, subscrevendo-o, encontramos dirigentes sindicais que vivem da falta de democracia nos sindicatos e os subordinam a agendas partidárias.
Veja-se o exemplo da direcção do SPGL – bem presente entre os signatários –, que traiu a luta dos professores, assinando acordos com o governo nas costas dos professores em luta, ou dos dirigentes do SEP e da FNAM. Podemos concluir que este Manifesto não passa, assim, de outra vertente de um projecto de governação com o PS, que pretende para isso amestrar o movimento sindical.
São precisos novos projectos no plano político e sindical que não sejam mais do mesmo. Que digam não a esta dívida, que procurem organizar os trabalhadores para a luta contra troika e a austeridade, que apontem uma saída anticapitalista para a crise, sem ilusões em qualquer governo PS. Esse sim é o nosso Manifesto.