Eleições derrotaram Sócrates

Agora há que lutar contra a dívida e os ataques do (outro) governo da troika! Sem alternativa credível de mudança de rumo à esquerda, centenas de milhares de trabalhadores mostraram o seu repúdio ao governo do PS/Sócrates com um voto na direita, PSD e CDS. Nas eleições de 5 de Junho, mais do que uma ‘viragem à direita’ o que aconteceu foi uma massiva contestação ao governo do PS/Sócrates que executou durante seis anos uma política de direita e de grandes ataques aos trabalhadores e aos sectores mais pobres da população, e com a política  que implementou para salvar os lucros dos banqueiros, dos Espírito Santo, dos Mellos, dos Mota Engil e de muitos outros grupos capitalistas, injectando-os com milhares de milhões de euros e entregando-lhes outros tantos através dos negócios das PPP, levou as finanças públicas a uma situação deficitária enorme.

Deste repúdio eleitoral a Sócrates resultou uma maioria parlamentar de direita, do PSD e do CDS, a qual irá governar com a continuação e agravamento da política já preconizada pelo ‘memorando’ assinado por Sócrates, e apoiado pelo PSD e CDS, em conjunto com a UE/BCE/FMI. Mais uma vez, a crise em que o capitalismo colocou a economia vai ser aproveitada pelos governantes para proceder a mais ataques aos trabalhadores e aos seus direitos laborais e sociais. Mais uma vez as propostas de alteração das leis laborais no sentido de retirar direitos contratuais e diminuir remunerações salariais vão ser apresentadas como a ‘solução’ para o desemprego e a competitividade da economia.

É mais do mesmo, para encher as contas bancárias e os lucros dos donos da economia, à custa do empobrecimento (e mesmo da miséria) de milhões de trabalhadores e da maior precariedade para a vida de centenas de milhares de jovens que ficarão ainda mais ‘à rasca’.

É em torno do pagamento da dívida pública que os governantes argumentam a ‘necessidade da política de austeridade’.  O que é preciso questionar é como e porquê a dívida cresceu, a quem beneficiou, quem ganhou e quem vai continuar a ganhar com ela e com o seu pagamento ? Nós respondemos que a maior parte da dívida foi para pagar negócios a favor dos grupos capitalistas que há dezenas de anos vivem à custa do dinheiro público, para apoiar os banqueiros, para cobrir as dívidas dos patrões à Segurança Social, para cobrir os custos das PPP. Por outro lado, o pagamento da dívida destina-se precisamente a pagar aos que já ganharam com ela, aos banqueiros nacionais e internacionais que compraram os títulos da divida para continuar a ganhar à nossa custa através dos juros que iriam receber.

Neste contexto, a primeira medida que devemos exigir é a suspensão do pagamento da divida e a recusa aos planos do ‘memorando’. De seguida há que exigir uma consulta popular, um Referendo como fizeram os islandeses, antecedido de um grande debate nacional sobre a divida  da sua auditoria. É esse Referendo que deve decidir sobre o sim ou o Não ao pagamento da dívida, uma dívida que não é os trabalhadores nem da imensa maioria da população.

Uma política de esquerda tem as prioridades de combater a anunciada ofensiva do governo PSD/CDS no campo laboral e social, bem como a dívida e o seu pagamento. Neste combate a unidade de todos os sectores políticos e sindicais que se opõem ao governo e ao ‘memorando’ da UE/FMI afigura-se fundamental. A união de esforços entre a esquerda parlamentar (PCP e BE) e os movimentos sindicais e de jovens para constituir uma ampla frente de luta contra a política do governo e da ‘troika’, propondo um plano de medidas anti-capitalistas e de corte com esta UE que se construiu ao serviço do capital e nos trouxe o maior desemprego, os maiores ataques ao salário, aos direitos sociais e aos serviços públicos, é o caminho a seguir.

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