A Esquerda e a continuidade da Geração à Rasca

Os protestos da Geração à Rasca anteciparam a queda de Sócrates. Apesar de tal não constar no seu manifesto, este foi um protesto anti-Sócrates e anti-austeridade.

A Sócrates, para conter esta força e desviar o descontentamento para as urnas, não restou outra saída que a demissão. Mas a luta continua dado que as suas causas profundas se mantêm. É, por isso, necessário um Movimento Nacional da Geração à Rasca (GaR).

De forma improvisada têm se criado grupos GaR em várias cidades, como Faro, Braga, Coimbra, Lisboa, Porto e até nos Açores. Quem luta tenta sempre criar organizações, e se estes protestos se deram por fora das organizações já existentes é porque estas, só por si, não servem.

Eleições e preconceitos

Os obstáculos à continuação da GaR são muitos. A queda do governo acalmou o movimento. As reuniões existentes têm vindo a esvaziar-se e novas têm tardado em surgir. Mas, dado que o clima eleitoral passará e a austeridade não, é essencial criar uma organização para quando se proporcionar a convocação de novos protestos.

Há outros obstáculos, como os preconceitos existentes contra os partidos, os sindicatos, ou qualquer organização. Estes são contraditórios, pois surgem nos activistas que estão, na prática, a construir uma nova organização, tarefa que assim é hesitante e confusa.

Este repúdio dá-se porque gerações inteiras viram que os partidos e os sindicatos existentes se centram nos seus próprios interesses, hostis a tudo o que não controlam. Mas desde o 12 de Março tornou-se possível criar algo diferente: uma organização em que seja “o povo quem mais ordena”. Até porque um movimento desorganizado que não esteja ancorado em assembleias democráticas mais facilmente é manipulado por partidos, que logo pressionam ou “namoram” quem dirige. Na verdade é isso que tem acontecido.

Movimento “apartidário” ou movimento democrático?

A GaR passou ao lado dos partidos de esquerda, mas estes não ficaram quietos. O PCP desde o início desprezou este protesto, tentando enfraquece-lo. Já o BE não perdeu a oportunidade: ajudou os promotores, através dos movimentos de precários a ele afectos, com materiais para a manif, fazendo contactos com músicos que lá tocaram, arranjando sítios para as reuniões, entrevistando-os no esquerda.net…

Assim, o BE e os promotores chegaram a conclusões comuns: a GaR não se deve tornar um movimento, muito menos nacional e com métodos democráticos como assembleias de base que votem as decisões. A verdade é que rapidamente os promotores se associaram a entidades dirigidas pelo BE, como os Precários Inflexíveis ou o MayDay, infinitamente menores que a GaR. Ou seja, rapidamente os rostos do protesto se dedicaram a algo menos forte e eficaz.

A esquerda tem temido os movimentos que não controla e por isso evita que a base tome as decisões. Às vezes chegam a dizer que votar é burocrático, para que não se tomem decisões… que ficam depois nas mãos dos funcionários partidários. Não somos contra que os partidos estejam nos movimentos e os influenciem, mas isso deve ser feito com propostas votadas e não com jogos nos bastidores.

O Ruptura/FER tem batalhado para que daqui surja um movimento que lute contra o desemprego, a precariedade, o aumento do custo de vida e, consequentemente, o FMI. Temos apostado em reuniões abertas e democráticas, mesmo sabendo que nelas somos minoria. Apostaremos nestes métodos e na continuidade da GaR. Gostávamos de contar com todos, incluindo BE, PCP e promotores para isso.
Manuel Afonso

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