Não se “negoceia” com o FMI, enfrenta-se

No texto “Convergência nacional em torno do emprego e da coesão social”, publicado a 16 de Abril na imprensa, vários signatários de diferentes quadrantes políticos alertam para o perigo de uma recessão económica em Portugal, para a ineficácia dos cortes orçamentais para a redução da dívida e defendem o crescimento económico contra a crise. Até aí, um prognóstico realista. A seguir, apelam a um “compromisso sob a forma de um programa de salvaguarda da coesão social”, de “manutenção e reforço das capacidades produtivas do país para gerar emprego, com atenção às pessoas, evitando sacrifícios desnecessários”.

 

Do programa consta a promoção do emprego e do crescimento, com a participação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) nas negociações entre o governo e a troika FMI-BCE-CE; auditoria da dívida do país, sobretudo a externa; excluir das privatizações a saúde, a educação, a segurança social e a Caixa Geral de Depósitos.

Ao admitir a negociação com o FMI-BCE-CE, como se tal fosse possível, e ao deixar implícita a possibilidade dessas instituições aceitarem medidas de defesa do emprego e do Estado Social, esse texto legitima a sua intervenção em Portugal, alimenta ilusões sobre o tipo de medidas que querem impor ao País e desarma os trabalhadores e jovens para enfrentá-las. Em vez de denunciar a intervenção externa e apelar à mobilização para lutar contra as medidas de austeridade que vão querer implementar, chama à negociação, como se fosse possível influenciar o FMI! Que Manuel Alegre assine esse texto, não é de espantar, pois integra a Comissão Política do PS, o mesmo que convocou a troika ao país. Mas que activistas e/ou militantes do Bloco de Esquerda e do PCP, partidos que se recusaram, e bem, em participar da farsa da “negociação” com o FMI-BCE-CE, também o assinem é que causa indignação.

Alimentaram, igualmente, a ilusão de que é possível negociar com o FMI-BCE-CE e influenciar as suas decisões as centrais sindicais CGTP e UGT, cujos secretários-gerais reuniram-se com os representantes desses três organismos que estão em Portugal. Os artigos publicados na imprensa sobre a reunião revelam o óbvio: o papel subserviente e patético que cumpriram os dois sindicalistas ao tentar “explicar” à troika a difícil situação vivida pelos trabalhadores portugueses e que medidas devem ou não devem adoptar. Como se não fossem esses senhores os representantes de instituições internacionais cujo objectivo é justamente impor ainda mais cortes salariais, mais cortes nas pensões, mais desemprego, mais privatizações, mais fome e miséria no país, para salvaguardar os interesses da banca europeia e do grande capital.

Em vez de reunir-se com a troika, as centrais sindicais tinham é de organizar reuniões em todo o país para preparar a classe trabalhadora e a população para enfrentá-la e às novas medidas de austeridade que vai querer impor ao país, com o apoio de outra “troika”, PS-PSD e CDS.

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