Dia Internacional da Mulher

Viva a Revolução Árabe!

Viva a luta de todas as trabalhadoras do mundo!

Saudamos as lutas das mulheres trabalhadoras de todo o mundo, em especial as protagonistas da revolução árabe.

 

Os meios de comunicação, quando se referem às mulheres destas regiões, falam – nos  sempre dos terríveis abusos que sofrem: lapidação e mutilação genital. Mas nada nos dizem sobre a luta que estas mulheres vêm desenvolvendo, há muito tempo, em defesa dos seus direitos. Hoje, no calor da revolução, vemo-la em toda a sua magnitude, enfrentando a repressão, não como uma entidade separada, mas como companheiras de luta dos homens que se rebelam contra os regimes totalitários de Ben Ali, Mubarak, Khadafi e muitos outros.

Foi um grupo de mulheres que começou o protesto contra o regime de Ben Ali, na Tunísia. Estas mulheres, entre as quais se pode mencionar Radhia Nasrauoi, presidente da Associação Tunisina de Luta contra a Tortura, tiveram que pagar a sua ousadia com ameaças de morte, perseguições da polícia secreta e, inclusiva, acusações de sodomia, a partir de fotomontagens e vídeos fabricados passados na Internet.

E no Egipto as mulheres estiveram nas primeiras filas durante a queda de Mubarak. Amel Said, uma trabalhadora egípcia, explicou ao jornal La Vanguardia de Barcelona que a sua família, incluindo o seu marido, a estimulou a participar. E disse que a sua esperança é que “agora as mulheres tenham voz nos assuntos do Egipto”. As mulheres egípcias estiveram nas ruas desde o primeiro minuto do protesto. As mais velhas providenciavam água aos que sofriam os efeitos do gás lacrimogéneo. As mães, esposas e irmãs seguravam as faixas, levavam os filhos às manifestações ou preparavam alimentos. Lado a lado junto aos homens de sua família ou companheiros de trabalho, conquistaram a Praça da Libertação e ali dormiram, passearam com seus filhos aos ombros e gritaram a suas reivindicações por democracia e liberdade.

Não é casual esta participação das mulheres trabalhadoras e pobre. Elas, assim como as suas irmãs do Ocidente, sofrem as consequências das políticas capitalistas. “Eu pago 600 libras (80 euros) por mês de renda e ganho 300”, contava Umm Yasir, uma empregada do estado de 33 anos. E acrescentava que seu marido, também trabalhador do estado, ganhava o mesmo e com isso tinham que viver eles e os seus três filhos. Por isso, dizia outra activista, “vemos muitas mulheres, muçulmanos ou não, com véu ou seu véu, unindo-se e colocando-se à frente do que se passa nas ruas. Esta é a verdadeira igualdade e nunca mais retrocederemos ao ponto de partida.”

“Só me sinto segura quando estou em Tahrir (Praça da Libertação)”, diziam muitas mulheres; “nestes dias de revolução ninguém nos tocou, nem perseguiu, sentimo-nos mais fortes”. Este é um resultado da revolução muito importante de destacar, já que não tem nada a ver com a realidade quotidiana dessas mulheres. No Egipto, segundo um estudo do Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres, 83% das mulheres nativas e 98% das estrangeiras são assediadas sexualmente, e há um caso de abuso ou violação a cada 30 minutos, totalizando 20 mil vítimas ao ano.

Estas mulheres que vêm suportando séculos de opressão estão – nos a dar um grande exemplo. Mas não são as únicas que estão na luta. Mulheres trabalhadoras e jovens estudantes em França, Grécia, Espanha, Itália, Portugal, Inglaterra, etc. participam activamente nas lutas de resistência que sacodem o velho continente. Vemo-las lutando por emprego, salário, condições de trabalho e defesa dos direitos humanos nos países latino-americano, Cuba incluída. E são protagonistas também do despertar do proletariado norte-americano, como se vê nas mobilizações de Wisconsin.

A mulher e a crise capitalista

A crise que tem o seu epicentro na Europa e nos EUA, golpeia especialmente os sectores mais frágeis do proletariado, as mulheres e os imigrantes.

Os cortes na saúde e educação fazem com que suba o desemprego das mulheres, que, além disso, sofrem com a destruição dos serviços destinados à maternidade. Uma situação parecida se dá nos EUA, onde a mulher ocupa a maioria dos postos de trabalho na educação e onde a Secretaria de Educação, em 2010, estimava que os cortes do orçamento punham em perigo cerca de 300 mil postos de trabalho nas escolas públicos. A gravidade dessa medida fica clara quando sabemos que cerca de 1/3 das mulheres trabalhadoras norte-americanas são chefes de família.

Esta realidade torna-se ainda mais aguda quando se trata da mulher imigrante. Ela é discriminada como trabalhadora, como mulher e como imigrante. As leis de imigração tornam a vida dos imigrantes, homens e mulheres, num verdadeiro inferno. A denominada “Directiva da Vergonha”, aprovada pela Comissão Europeia em Junho de 2008, permite prender o imigrante sem papéis durante 18 meses. 

Uma denúncia dos Médicos sem Fronteiras comprovou a violência sexual sofrida pelas mulheres subsarianas detida em Marrocos quando tentavam chegar à Europa. Entre Maio e Janeiro de 2010, uma em cada três mulheres atendidas pelos Médicos Sem Froneiras, em Rabat e Casablanca, disse ter sofrido um ou vários ataques sexuais, já fora de seu país de origem. O documento de denúncia conclui dizendo que “o uso da violência sexual se converte, assim, numa das práticas violentas mais comuns contra a mulher no marco do fenómeno migratório”.

O aumento da violência contra a mulher

A crise económica, o desemprego e a falta de perspectivas aumentam a violência contra a mulher. O estudo “A crise invisível?” identifica o aumento do número de vítimas de violência doméstica na Bulgária, Estónia, Irlanda, Holanda, Escócia, Roménia e Eslováquia; a intensificação do tráfico de mulheres na Alemanha, Hungria e Reino Unido; e o aumento da prostituição e de ataques a prostitutas na Alemanha e Reino Unido.

Em Portugal, em 2010, morreram 43 mulheres vítimas de violência doméstica. Em França, uma mulher é assassinada a cada três dias em casos de violência doméstica. Em Itália, estima-se que 6,7% das mulheres sofrem violência física e sexual ao longo de sua vida. Estes números são ainda maiores nos países latino-americanos. No Brasil, a cada 15 segundo uma mulher é vítima de violência e existe uma taxa de 3,9 mulheres assassinadas por cada 100 mil habitantes. Em El Salvador, esta taxa sobre para 12,7%. Esta violência aumenta quando se trata de mulheres lésbicas e mulheres indígenas, que sofrem abusos e ataques sexuais por parte de militares, contrabandistas e traficantes.

A maior violência, porém, é exercida pelos estados latino-americano, que, ao continuarem a negar-se a legalizar o aborto, condena à morte ou à mutilação uma grande quantidade de jovens mulheres trabalhadoras e pobres.

Porque lutam as mulheres?

Milhões de mulheres morrem a cada dia vítima de violência doméstica, de abortos clandestinos, de violações, de fome e miséria. Milhões de trabalhadoras sofrem discriminação laboral, recebem salários menores por igual trabalho, sofrem assédio sexual, são despedidas em piedade quando ficam grávidas. Milhões de mulheres tornam-se párias porque não têm estudo, nem trabalho, muitas sequer têm documentos.

É contra essa realidade que lutam as mulheres. Por isso participam na revolução árabe, na resistência europeia, nas diferentes lutas dos trabalhadores e pobres da América Latina.

A Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI) solidariza-se com as mulheres árabes e todas as trabalhadoras que enfrentam as políticas capitalistas e lutam pelos seus direitos democráticos, como a legalização do aborto. 

Essas lutas são muito importantes e extremamente necessárias. Mas não são suficientes. Para conseguir a verdadeira libertação da mulher é necessário acabar com esta sociedade em que poucos vivem da exploração da grande maioria. Devemos substituir esta sociedade injusta por uma igualitária e solidária, a sociedade socialista, que só poderemos começar a construir a partir do momento em que os trabalhadores, homens e mulheres, tomem o poder político em todos os países do mundo e derrotem definitivamente o imperialismo.

A LIT-QI chama todas as trabalhadoras, as jovens estudantes, as mulheres pobres da cidade e do campo, a somarem-se à luta por essa nova sociedade e pela tarefa de construir a direcção revolucionária mundial que nos permita conseguir este objectivo.

Secretaria Internacional da Mulher

Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)

8 de Março de 2011

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