Retomar a mobilização e luta popular

As revoltas populares que eclodiram no norte de África e que já levaram a uma primeira vitória da revolução na Tunísia, e estão a beira de conseguir o derrube da ditadura de Mubarak no Egipto colocam mais uma vez aos olhos do mundo a grande força que pode ter uma mobilização popular e a sua capacidade de derrotar poderosas forças repressivas, policiais e militares. O mais eficaz caminho de obter vitórias e de efectuar verdadeiras mudanças é este que agora está a ser trilhado por estes povos árabes.

Em Portugal, ao contrário, foi interrompido o caminho da mobilização que conduziu à Greve Geral de 24 de Novembro, e quer as direcções sindicais quer a esquerda parlamentar, aceitaram o período eleitoral como um interregno na luta social e sindical.

Embora de um modo distorcido, as eleições presidenciais mostraram o descontentamento popular com este regime responsável pela crise e com as políticas seguidas pelo governo PS. O candidato apoiado pelo governo foi o grande derrotado e o candidato único da direita reelegeu-se sem convencer. A grande fatia do repúdio popular contra o actual estado de coisas expressou-se por uma abstenção recorde (de 53%), e no voto por candidatos que se apresentaram contra a política do governo, ou por fora do actual quadro partidário parlamentar.

As vitórias e derrotas nestas eleições estavam anunciadas e a ausência de uma candidatura de unidade contra a política do governo e da direita fez muitos trabalhadores e parte do povo de esquerda virarem as costas a estas eleições.

O ano de 2011 começa com a concretização dos ataques aos trabalhadores, particularmente no sector público onde já tiveram os seus salários diminuídos. Em preparação pelo governo e patrões já estão na calha novas medidas destruidoras do emprego com direitos. O despedimento a baixo custo para substituir trabalho efectivo por trabalho precário é mais uma medida do governo ‘de esquerda’ PS que visa aumentar um autêntico exército de desempregados disponíveis para trabalhar pelo salário mínimo (inferior aos 500 euros).

É este mesmo governo PS, destruidor dos direitos dos trabalhadores, fiel aliado dos patrões e amigo dos corruptos, que agora, numa operação de cosmética à saída das eleições presidenciais, vem fazer um discurso a ‘favor do Estado Social’ e ‘contra o FMI’. Maior aldrabice não há. Foi este governo que já colocou as receitas do FMI nos vários PEC, é este governo que diariamente promove a destruição dos direitos sociais e laborais, que corta as prestações sociais e de desemprego, as reformas e pensões, os salários dos trabalhadores e os seus postos de trabalho.

Este governo PS tem de ser derrotado, tem de ser posto um fim na sua política igual à da direita e à do capital. O movimento sindical e a esquerda têm de retomar a via da mobilização para a luta popular e sindical. Implementando um verdadeiro plano de acção e não repetindo receitas que já levaram muitas vezes ao cansaço e à derrota, como é o caso dos repetitivos ciclos de greves parciais (nomeadamente nos transportes). Greves com adesões de quase 100%, como a da CP, Soflusa e Metro, que demonstram a disposição de luta da classe. A mobilização deve seguir um plano de crescimento que anime vários sectores e mostre um sentido de poder ser vencedora.

Para fortalecer esta via da mobilização é necessária uma clara demarcação e denúncia das políticas do governo e da direita e desmascarar a falsidade que está de novo a ser construída e que procura apresentar este PS e este governo como um mal menor face a um ‘perigo da direita’ e assim permitir que continue a actual e real governação da política de direita aplicada por José Sócrates e pelo seu governo PS, para mal de milhões de trabalhadores.

O desenrolar da crise nos últimos anos e a incapacidade das actuais direcções políticas e sindicais do movimento dos trabalhadores para a enfrentar com sucesso, colocam cada vez mais a necessidade do reforço de uma alternativa de esquerda, combativa e anticapitalista, uma esquerda que corra por fora e não esteja submetida ao parlamentarismo e aos coletes de força institucionais. É este caminho que tem de ser retomado para melhor poder apoiar a luta dos trabalhadores e ajudar a que seja vencedora.

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