Vários países europeus vêem-se confrontados com uma crise política e económica sem precedentes. A Grécia já contou mais de sete greves gerais só no decorrer deste ano de 2010. A França, até há poucos dias assistiu ao regresso das populações à rua e até a enormes mobilizações de estudantes que seria suposto estarem a estudar.
Afinal de contas, o que preocupa hoje os estudantes franceses se os seus pais se vão reformar aos 60 ou aos 62 anos? Aparentemente nada. Mas parece que jovens com 15 anos já se aperceberam que a luta pela alteração da idade da reforma também “é deles”. Pois se uns continuarem a trabalhar até mais tarde é porque outros continuarão a não ter emprego, e este já escasseia.
A Irlanda tem um défice três vezes superior ao de Portugal. Porquê? Porque lá os “BPN” custaram ao erário público mais de 30.000 milhões de euros. Chama-se a isto … magia. Magia que nem Copperfield seria capaz de realizar. Transformar gigantescas dívidas privadas em dívida pública. E utilizar os submissos governos aos interesses dos poderosos a decretarem PECs atrás de PECs que imponham às populações draconianos planos de austeridade onde vale tudo. Desde sacar simples (e, já de si, ridículos) abonos de 20 ou 30 euros a dezenas de milhares de famílias até à alteração drástica das tabelas do IRS que farão todos pagar centenas de euros por cabeça no próximo ano por ocasião da entrega da declaração de rendimentos.
Bom, todos? Todos não
Os que mais deviam pagar (bancos, reformas, indemnizações ou salários dourados, por exemplo) irão continuar a não pagar ou a pagar muito pouco. E o que fazem as burguesias de cada país? E o que fazem os seus representantes políticos directamente no governo, tipo, os seus PSs, PSDs ou CDSs, de cá e de toda a Europa? Unem-se em defesa destes orçamentos gerais do estado, unem-se em viabilizá-los ou aplicá-los, passe a demagogia de ocasião que permita continuar a conquistar votos, para que a alternância democrática continue a funcionar.
E o que faz a classe trabalhadora europeia? O que fazem os trabalhadores franceses, gregos, espanhóis ou portugueses? Uns fazem greves mais gerais ou menos gerais nos seus respectivos países, outros, enormes manifestações de massas.
Pergunta-se porque é que ninguém convoca uma greve geral europeia? Não haverá condições? Claro que sim. Não há é vontade das (velhas) lideranças sindicais em todos os países em convocá-la, pois isso poderia potenciar uma situação continental de enorme envergadura e, quem sabe, os postos destes senhores ficariam em risco perante uma nova geração de activistas que quisessem levar as lutas à vitória. Esta é a questão.
Porque não há manifestação a 24 de Novembro?
E, por tabela, pode-se perguntar: porque é que a CGTP convoca uma greve geral para dia 24 de Novembro sem convocar, simultaneamente, uma grande manifestação nacional para o próprio dia de greve de modo a elevar o seu impacto social e político?
Será que os ataques do engenheiro Sócrates directamente aos salários de quem trabalha não justificam uma greve geral com manifestação nacional? Não aconteceu assim quer na Grécia quer em Espanha ou França? Aliás, se em Portugal houver uma greve geral sem manifestação nacional será mais uma curiosidade nacional inexplicável (?).
Já é de lamentar que esta greve geral seja convocada para depois de aprovado no parlamento o Orçamento Geral de Estado para 2011, quando devia ter tido lugar antes. Já é de lamentar que não se veja uma convocatória e mobilização a sério para a greve geral, para além do seu anúncio pelos jornais, o que enfraquecerá desde logo a capacidade de produzir uma greve geral a 100% no país.
Mas será gravíssimo que a CGTP se escuse, seja qual for o pretexto, a convocar uma manifestação nacional para o mesmo dia. Seremos levados a concluir que também ela necessita de uma nova liderança mais corajosa e mais decidida. Façamos do dia 24 uma grande jornada de luta, a maior greve geral possível e preparemos ou construamos em simultâneo um nova liderança para os sindicatos e para a central, pois a luta não se vai esgotar no dia 24 e muitas mais greves gerais serão necessárias para fazer retroceder os Sócrates de hoje ou os Passos Coelhos de amanhã.
Gil Garcia