No dia 21 de Setembro, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, retornou ao país e refugiou-se na embaixada brasileira na capital, Tegucigalpa, para onde milhares de manifestantes dirigiram-se para pedir o fim do governo golpista de Roberto Micheletti.
Logo a seguir, o governo decretou o toque de recolher total na capital, e um grande contingente de policiais e soldados cercou a embaixada e avançou contra os manifestantes ali concentrados, com armas de fogo e bombas de gás lacrimogéneo, ferindo pelo menos 83 pessoas e prendendo outras 200. O fornecimento de água e luz foi suspenso no edifício, onde estavam Zelaya, alguns familiares e apoiantes. Membros das Nações unidas conseguiram levar-lhes alimentos e água e coordenar a saída de 162 pessoas ali refugiadas.
Como ressaltou o enviado especial do jornal El Pais a Honduras, “Em qualquer outro país e em qualquer outro momento, Zelaya deveria estar seguro, refugiado numa embaixada, um recinto inviolável por definição. Mas o curso do acontecimento parecia ontem indicar o contrário. Enquanto os diplomatas brasileiros pediam aos seus homólogos norte-americanos para dar-lhes protecção e um pouco de gasóleo para abastecer os geradores, o governo golpista parecia disposto a tudo”.
Entretanto, Micheletti disse que aceitava conversar com Zelaya se este reconhecesse as eleições de 29 de Novembro – marcada unilateralmente pelo governo golpista para legitimar o golpe –, mas Zelaya respondeu considerando-a “uma manipulação”. O governo brasileiro pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para tentar resolver a crise.
Logo após o anúncio do retorno de Zelaya, Jeferson Choma, da redacção do jornal brasileiro Opinião Socialista, do PSTU, entrevistou Thomas Andino, integrante da Frente de Resistência Contra o Golpe, no momento em que estava na frente da embaixada com outros milhares de activistas, antes, portanto, que os militares os desalojassem violentamente.
Como está a situação em Honduras?
Thomas Andino – Hoje, chegou secretamente a Tegucigalpa o presidente deposto, Manuel Zelaya, que está refugiado na embaixada do Brasil. Desde então, está chegando uma grande quantidade de pessoas daqui da capital, que está se reunindo em frente à embaixada. Há também milhares de pessoas de outros departamentos do país que estão vindo para cá em caravanas. Vamos fazer amanhã (dia 22) um ato com centenas de milhares de pessoas de todo o país.
Neste momento, o governo da ditadura impôs um estado de sítio para impedir que as pessoas cheguem a Tegucigalpa. Há muito entusiasmo do povo, que está aqui para proteger o presidente. Há uma situação um pouco diferente no exército. Não há muita presença de militares aqui, por enquanto. Suspeitamos que algo, algum tipo de movimento, pode estar ocorrendo internamente nas Forças Armadas.
Neste momento, quantas pessoas estão [estiveram] em frente à embaixada?
Thomas – Há por volta de 8 mil a 10 mil pessoas aqui. Muitos estão dispersos, em piquetes em diferentes ruas e avenidas da cidade. A energia eléctrica foi cortada e a água também em toda essa região para tentar dispersar as pessoas. No entanto, com paciência e criatividade, elas estão improvisando uma iluminação. Há um grande entusiasmo. As pessoas não estão amedrontadas, ninguém tem medo, e todos estão dispostos a defender com tudo o que se pode a luta contra o golpe.
Existe algum temor com relação a uma onda de repressão?
Thomas – As pessoas não têm medo da repressão. O governo nos reprimiu duramente por 85 dias, mas o povo aprendeu a suportar e, hoje, existe uma enorme disposição de enfrentar qualquer repressão com seus próprios meios. Não há medo, mas sim disposição de lutar.
Qual é a sua expectativa em relação aos próximos dias de luta contra o golpe?
Thomas – O presidente Zelaya, assim como a OEA [Organização dos Estados Americanos], disseram que seu retorno ao país serve para abrir um diálogo com os golpistas. Mas o povo aqui mobilizado não quer diálogo algum com eles. Queremos derrubar os golpistas. Quando o presidente reassumir suas funções, queremos que todos os deputados e funcionários que participaram deste golpe, que são praticamente todos, sejam punidos. Por isso, a burguesia tem horror a este tipo de mobilização. Os únicos que os protegem são as Forças Armadas. Mas, se o exército é derrotado pela mobilização, poderá se desatar uma revolução democrática no país, cujas consequências serão destrutivas para o actual Estado hondurenho.