Europa: a crise económica e a resposta dos trabalhadores

A crise económica mundial tem provocado um forte impacto na Europa. Os dados económicos oficiais do último trimestre de 2008 são ainda piores que os dos Estados Unidos. Diante de uma queda global de 1,5% do PIB, a imprensa da União Europeia (UE) fala de uma “queda em parafuso”. A Alemanha, locomotiva da UE, teve uma queda de 2,1%. A produção industrial de Dezembro 2008 foi 11,5% inferior à do mesmo mês em 2007. Em Janeiro, as vendas de veículos caíram 27%. A crise afecta todo o continente: das grandes potências europeias aos imperialismos menores e à periferia, tanto os países que pertencem à UE (Leste Europeu e os bálticos) como aqueles que não fazem parte (Rússia, Ucrânia, etc.).

 

O sistema financeiro europeu está tão quebrado como o norte-americano. Todas as medidas adoptadas até agora só seguraram, a duras penas, a queda no abismo, enquanto a crise financeira se acentua. Foi assim com as sucessivas baixas das taxas de juros, com as injecções bilionárias de dinheiro por parte do Banco Central Europeu (BCE) e com as intervenções dos governos. Mas o crédito não flui e os bancos continuam vendo seu valor de mercado evaporar. Só no dia 16 de Fevereiro, os bancos perderam 7% de sua cotação (reduzida a menos da metade durante o último ano e, em casos como o Deutsche Bank, a um terço).

 

As previsões

 

Os recentes resultados negativos da economia europeia superam todos os prognósticos. As últimas previsões oficiais da UE foram redigidas “com um nível de incerteza excepcional”, segundo seus autores. Para 2009, se prevê uma queda média de 1,8% do PIB europeu. Mas na Irlanda e nos países bálticos a diminuição seria de 5% ou mais e, na Grã-Bretanha, de 2,8%. O desemprego oficial da UE aumentou em 1,6 milhão. Em 2008, chegou a 18 milhões de pessoas, 7% da população activa. A previsão oficial para 2009 é de 3,5 milhões.

 

Mas ainda são previsões “optimistas”. Fontes anónimas da Comissão Europeia têm expressado o temor de que “esteja em jogo não uma recessão de 2% ou 3% senão de 15% a 20%”.

 

Contradição de uma União de muitas cabeças

 

Seguindo o caminho do governo Obama, a UE prepara um novo plano geral de resgate dos bancos e empresas. Mas a grande diferença com os EUA é que a União Europeia não é um “estado único”, com um só governo e regras comuns. Pelo contrário, é um bloco imperialista onde convivem de maneira conflituosa diferentes capitalismos, cada um com seus próprios interesses e seu próprio estado. No momento em que a crise se precipitou, a Comissão Europeia (CE) e suas instituições passaram rapidamente a segundo plano ou simplesmente desapareceram de cena.

 

Por isso, as medidas de resgate bancário têm sido realizadas pelos estados nacionais e não pelas instituições da Comissão Europeia. A CE limitou-se a aprovar os planos que os estados membros, em conivência com seus próprios banqueiros, tinham decidido para salvar seus bancos nacionais e promover sua concentração e centralização. O BNP francês, por exemplo, comprou 75% do banco belga Fortis justo após receber 2,5 mil milhões de euros do estado francês. Os bancos da Espanha, que não têm recebido injecções de capital, se queixam da concorrência desleal dos bancos “recapitalizados” de outros países que, como o ING holandês, disputam agressivamente os depósitos espanhóis.

 

Várias “Europas”

 

Na realidade, há várias “Europas”: a dos imperialismos ricos, a dos menos ricos e a dos estados do Leste Europeu. Num extremo, países como Alemanha e França, os mais ricos do continente, promoveram nesta primeira fase da crise duvidosos planos de reactivação e concessões temporárias aos trabalhadores, lançando mão da riqueza acumulada no passado para colher endividamentos no futuro.

 

No outro extremo estão os países do Leste e os bálticos, últimas incorporações da UE. Países onde o capitalismo foi restaurado à custa de um retrocesso económico e social brutal, e que foram entregues ao capital multinacional pela nova burguesia surgida do seio da velha burocracia estalinista.

 

A fragilidade desses últimos países é extrema: dependem dos investimentos e do financiamento das multinacionais, dos bancos estrangeiros e das subvenções europeias. Três quartos de sua produção são exportados para a UE. As suas moedas se desvalorizaram rapidamente. Para eles, a crise significa ruína. Seus governos, servis, fracos, desacreditados e corruptos, carecem de margem de manobra, e os seus “planos de choque” representam o empobrecimento da população.

 

É o caso da Estónia, Letónia, Lituânia, Hungria, Roménia e Bulgária, entre outros que estão à beira da falência, com o desemprego avançando e obrigados a cumprir as receitas clássicas do FMI (desvalorização, rebaixamento salarial, desmantelamento do sector público etc.).

 

Por trás do bloco do Leste, vêm os imperialismos de segunda e terceira categoria da zona do euro (países que utilizam o euro como moeda), sobre os quais paira a ameaça de falência. A Grécia, depois de uma década de crescimento, vive uma rápida deterioração económica e social. A desigualdade social é brutal: 80 grandes empresários possuem um património equivalente ao PIB nacional. A sua dívida nacional, a segunda da Europa, é enorme (96,2% do PIB) e continua aumentando.

 

A Irlanda é talvez o país da zona do euro mais próximo da insolvência. Segundo as previsões oficiais da UE, em 2009, o seu PIB retrocederá 5%, o seu défice público atingirá 11% e o desemprego, 10%. O sistema bancário está sob intervenção, as dívidas dos bancos avalizadas, a maioria de suas acções passou para as mãos do Estado e os depósitos estão garantidos. Mas os bancos seguem afundando, enquanto o governo é incapaz de responder pelos fundos e depósitos. Os preços de cobertura da dívida pública irlandesa foram triplicados em uma semana.

 

Já o estado espanhol detém o triste recorde europeu de desemprego. Em Janeiro, o índice superava os 3,3 milhões. A previsão é que o desemprego chegará aos 4,5 milhões até Dezembro (20% da população activa). O défice público será de 6,2% do PIB em 2009, enquanto o défice exterior continuará sendo um dos maiores do mundo. Uma piada no recente Fórum de Davos qualificava o país como “fundo hipotecário de alto risco”.

 

Em Fevereiro, o principal fundo espanhol de investimento hipotecário, pertencente ao banco Santander, foi incapaz de fazer frente à retirada em massa de fundos e decretou uma espécie de “corralito” (restrição às retiradas de dinheiro em efectivo) por dois anos. A qualificação da dívida pública espanhola foi rebaixada pelas agências internacionais, dificultando seu acesso aos mercados financeiros internacionais e encarecendo seu financiamento. As empresas estatais (as jóias da coroa) já estão caindo em mãos de capital estrangeiro. A italiana Enel acaba de se fundir com a empresa eléctrica Endesa e muitos se perguntam o quanto demorará em acontecer algo parecido com a petroleira Repsol.

 

A crise da EU

 

O descrédito popular com a União Europeia é intenso e aumenta com a percepção de seu papel como fiel instrumento da “Europa do capital”. O projecto está em crise aberta desde que o povo francês, em Maio de 2005, recusou a constituição europeia neoliberal e imperialista. A manobra posterior do presidente francês Sarkozy de substituir a frustrada constituição por um tratado com o mesmo conteúdo (que poderia ser aprovado apenas pelos parlamentos e governos) também resultou num fiasco devido à oposição do povo da Irlanda. Desde então, o tratado está no limbo.

 

A crise mundial também aumenta a necessidade de o capitalismo europeu apoiar-se na UE para se organizar e enfrentar em melhores condições o colapso norte-americano. Mas a incorporação de novos países à UE encontra-se paralisada. As instituições comunitárias retiraram-se da cena para deixar os estados nacionais agirem diante da crise, em particular o alemão e o francês, que marcam os seus próprios planos nas aéreas económica, financeira, energética, diplomática e militar. A UE vive imersa em um clima cada vez mais nacionalista, com os governos se esforçando em servir a suas próprias burguesias nacionais.

 

Já começa a ser cogitada a possibilidade de que a crise vá tão longe que chegue a provocar uma hipotética quebra do euro e da actual UE. A perspectiva de falência de países da zona do euro, como Irlanda e Grécia, é uma ameaça próxima. O destino do euro e da própria UE é, portanto, incerto e está submetido a grandes sobressaltos. Mas o que sim está fora de dúvida é que a crise mundial vai dar lugar à outra configuração da Europa.

 

O caldeirão da luta de classes

 

A luta de classes começa a esquentar na Europa para grande alarme de governos que, ao mesmo tempo, provocam os trabalhadores com suas medidas. Praticamente todos os países vivem mobilizações operárias e populares que se radicalizam e se massificam em meio a uma crise que ataca o emprego e as conquistas operárias e empobrece amplos sectores das camadas médias.

 

Entramos num período marcado por uma crise histórica do capitalismo que rompe todos os diques e por uma ebulição generalizada do movimento de massas. Uma crise que acelera o descrédito geral dos diferentes governos, depois de uma longa década de “prosperidade”.

 

Ataques dos governos

 

Apesar dos altíssimos ganhos conseguidos nos últimos anos e das gigantescas ajudas actuais dos governos, as empresas começam a despejar o custo da crise sobre os trabalhadores. O principal ataque se expressa por meio de um grande aumento do desemprego, pelo bloqueio nas contratações e pelos despedimentos em massa. Estima-se que diariamente sejam perdidos 10 mil postos de trabalho. Na montadora Renault foram anunciadas 6 mil demissões na França. A Nissan da Espanha pretende demitir 1.400. Outro sector muito afectado foi o da construção civil. Na Espanha, calcula-se que no final de 2009 cerca de 900 mil operários da construção fiquem sem trabalho.

 

Alguns governos também querem eliminar o “seguro-desemprego”. Com grande cinismo, Miguel Ángel Fernández Ordóñez, chefe do Banco da Espanha, expressa que uma das causas do alto desemprego no país é seu “mercado de trabalho ineficiente”. Por isso, é preciso “levar a cabo reformas estruturais das instituições trabalhistas”, começando por reduzir ao mínimo o seguro-desemprego, hoje a cargo das empresas, e transferi-lo ao estado. Ainda que pareça incrível, para reduzir o desemprego, se deve baratear o custo da demissão das empresas, enquanto os governos seguem “ajudando” aquelas que despedem.

 

Aprofunda-se também o ataque aos níveis salariais e às condições de contratação, por meio dos “planos de viabilidade” para os trabalhadores que conservam seu emprego e os novos contratados. Esses planos já vinham sendo impulsionados pelas empresas, mas agora, aproveitando-se da crise, sua intensidade é redobrada. Eles são apresentados de modo hipócrita como “planos para salvar a fonte de trabalho”.

 

Paralelamente, desenvolvem-se ataques aos trabalhadores imigrantes, que as burguesias utilizam para baratear os custos trabalhistas no período de ascensão económica. Também começam as reduções dos orçamentos estatais para os serviços essenciais, como a educação e a saúde, que implicam em redução e congelamento salariais para os trabalhadores estatais e perda de milhares de postos de trabalho. É o que acontecerá com os professores precarizados na Itália, caso se aprove a reforma educativa proposta pelo governo Berlusconi.

 

A resposta dos trabalhadores

 

A grande revolta grega anunciou a entrada em um novo período da luta de classes na Europa. Iniciada no dia 6 de Dezembro de 2008 em resposta ao assassinato do jovem Alexis, a rebelião foi protagonizada pela “geração dos 700 euros” e gerou uma semi-insurreição espontânea que pôs a Grécia de pernas para o ar.

A ascensão operária e popular vai se estendendo para outros países. Vejamos alguns dos fatos mais importantes:

 

Espanha

 

Desenvolveram-se numerosas lutas sectoriais, em especial contra os EREs (Expedientes de Regulação de Emprego), pelos quais as empresas apresentam seus planos de demissões. Ocorreram mobilizações em Barcelona, onde a Nissan quer despedir 1.400 trabalhadores. Em Novembro, uma manifestação contra os EREs, realizada por trabalhadores da Nissan, Pirelli, Tyco, Delphi e outras empresas, convocada pelas centrais CC.OO. e UGT, contou com 40 mil pessoas. Em Madrid, em Novembro passado, a Coordenadora de Trabalhadores da Previdência Pública realizou uma manifestação contra a privatização do sector (20 mil pessoas). Para completar o quadro, dezenas de milhares de estudantes manifestaram-se contra a privatização do ensino universitário, e agora se planeia um encontro nacional para continuar a luta.

 

França

 

No dia 29 de Janeiro, uma enorme greve geral parou o país. Convocada pelas oito centrais sindicais “contra o apoio unilateral que o estado francês brinda aos bancos e à indústria, mediante o pacote de medidas para reactivar a conjuntura económica” e para exigir que “o governo implemente despesas em massa do estado para ajudar também os trabalhadores e desempregados a enfrentar as consequências da crise financeira e económica” (Clarín, 30/01/09). Para o dia 19 de Março está convocada uma nova greve geral. [Nesse dia, três milhões de pessoas saíram às ruas das principais cidades francesas para exigir mais apoio ao emprego e ao poder de compra dos trabalhadores, no maior protesto contra Sarkozy.] Nos territórios franceses de Guadalupe e Martinica, no Caribe, há várias semanas se desenvolve uma greve geral em protesto contra o alto custo de vida e exigindo ajuda financeira do governo Sarkozy.

 

Irlanda

 

No dia 21 de Fevereiro, 120 mil pessoas se reuniram na capital da Irlanda, Dublin, um dos países europeus mais afectados pela crise global, para “protestar contra o papel do governo e dos bancos na crise financeira” (La Nación, 22/2/09). O protesto, um dos maiores na história do país, foi convocado por vários sindicatos contra a decisão do primeiro-ministro conservador Brian Cowen de taxar com um imposto as pensões de 350 mil empregados estatais.

 

Itália

 

No dia 17 de Outubro, os “sindicatos alternativos” chamaram uma jornada de greve e mobilização. Em Roma, houve participação de milhares de manifestantes, especialmente trabalhadores das escolas e jovens estudantes, em oposição à reforma educativa impulsionada pelo governo Berlusconi. Para debilitar o movimento do dia 17, a maior central sindical italiana, a CGIL, convocou uma paralisação de quatro horas para o dia 13, mas muitos sectores, como servidores públicos e metalúrgicos, decidiram estender o protesto para toda a jornada.

 

Os sindicatos alternativos se somaram também a essa convocação com sua própria plataforma de reivindicações e realizaram mobilizações com dezenas de milhares de participantes nas principais cidades italianas. O sector educacional (docentes e estudantes) continuou a luta nos meses seguintes. No dia 13 de Fevereiro, a CGIL, pressionada pela convocação da federação metalúrgica, chamou uma nova jornada de luta. Em Roma, se realizou uma gigantesca manifestação com 700 mil pessoas, com forte presença de servidores públicos, metalúrgicos e estudantes.

 

Portugal

 

A vanguarda da luta no momento são os professores, na batalha contra um plano de reestruturação do sistema educacional e da carreira docente, impulsionado pelo governo “socialista” de Sócrates. No dia 8 de Novembro, foi realizada uma manifestação com 120 mil pessoas (uma das maiores desde a revolução de 1974). No dia 15 de Novembro, diante da tentativa dos sindicatos “oficiais” de pactuar com o governo, cresceu o peso das organizações de base e independentes. Estas realizaram uma convocação própria com mais de 15 mil pessoas, por fora do aparelho da burocracia sindical, que buscava desmobilizar.

 

Por um plano operário e de luta contra a crise

 

Os burgueses e seus governos dizem que a única alternativa à crise é o sacrifício de milhões de trabalhadores. Esta é “sua saída”, não a nossa. Que paguem pela crise os capitalistas, não os trabalhadores. É possível lutar por uma política económica cujo eixo seja resolver as urgentes necessidades dos trabalhadores e do povo. O dinheiro para essas medidas deve sair dos biliões que bancos e empresas estão recebendo dos governos e também dos fabulosos ganhos que os capitalistas obtiveram nos últimos anos.

 

Por isso, a primeira medida necessária é nacionalizar os bancos. Mas não como estão fazendo os governos. É preciso expropriá-los sem nenhum tipo de indemnização para que funcionem como um sistema bancário estatal único, sob controlo dos trabalhadores.

O principal problema a afectar os trabalhadores europeus é o desemprego. Por isso, as medidas e a luta devem indicar a defesa dos postos de trabalho. Contra o desemprego, deve-se exigir dos governos a proibição dos despedimentos. Para que isso não fique no papel, essa medida será garantida pela nacionalização sem indemnização das empresas que demitirem. Algo que, além disso, é bem mais barato que enviar biliões a elas.

 

Diante da queda da produção (que nos momentos de alta significava superexploração com ritmos de trabalho extenuantes), devemos levantar a bandeira da redução da jornada de trabalho, sem redução de salário. Assim, seria possível aplicar uma semana de trabalho de 36 ou 35 horas semanais. Para os trabalhadores desempregados é imprescindível um seguro-desemprego sob o controlo do estado e das empresas, que cubra as necessidades de uma família até que o estado garanta um posto de trabalho digno.

 

Para acabar com o desemprego também é muito importante exigir dos governos que iniciem de imediato planos de obras públicas para dar trabalho a milhões e que construam hospitais, escolas e universidades públicas, além de moradias populares de qualidade.

 

É preciso também exigir a diminuição da idade para se aposentar e que cada aposentado seja substituído por um trabalhador com os mesmos direitos garantidos por lei; a rejeição a todas as propostas patronais de reformas trabalhistas de precarização e flexibilização, exigindo a defesa incondicional dos direitos trabalhistas e sociais adquiridos. A imposição de qualquer retrocesso vai custar a ser revertida no futuro. Por último, a crise produz um aumento da pobreza e uma deterioração do poder aquisitivo dos trabalhadores. Por isso, devemos lutar por um aumento geral de salários, aposentadorias e pensões.

 

Avançar na organização independente

 

Todas as lutas citadas foram o resultado da pressão e da indignação da base. A principal trava nas mobilizações é o grande apoio aos governos por parte dos aparelhos sindicais que, durante o último período, se apoiaram em sectores da aristocracia operária beneficiados pela «prosperidade». Assim garantiram seus privilégios burocráticos, enquanto se aliavam com a patronal e os governos para generalizar a precariedade e os baixos salários para a maioria dos trabalhadores (especialmente da juventude), avalizando assim a discriminação e a superexploração dos imigrantes, convertidos em uma parte importante da classe operária europeia.

 

Nestes anos a classe operária europeia recebeu golpes importantes, mas não sofreu nenhuma derrota histórica. Portanto, tem totais condições de responder aos problemas causados pela crise capitalista. Mas deve-se levar em conta que nos encontramos diante de um enorme atraso na organização das oposições classistas à burocracia sindical e no agrupamento da esquerda revolucionária.

 

Com o aumento do desemprego e os ataques aos direitos trabalhistas e aos serviços públicos, as bases da burocracia sindical poderão romper com suas direcções, pois já não estão sendo atacados apenas os sectores mais explorados da classe operária, mas também a aristocracia operária e as camadas médias.

 

Enquanto essas burocracias controlarem os aparelhos sindicais e dirigirem a maioria dos trabalhadores, é necessária uma política de exigência as suas direcções para que rompam seus acordos com os governos e empresas e se ponham à frente de verdadeiros planos de luta nacionais e europeus. Nesse marco, é necessário impulsionar a unidade de todas as organizações operárias com o objectivo de conseguir mobilizações contundentes, que respondam aos ataques dos governos e dos patrões.

 

Paralelamente, para avançar em uma resposta de luta de acordo com a situação e os ataques, é necessário impulsionar e avançar numa verdadeira organização democrática e de luta dos trabalhadores, que possa se fortalecer como alternativa a essas burocracias e seus aparelhos. Nesse sentido, experiências como a coordenação dos sindicatos alternativos italianos, as organizações independentes de base dos docentes portugueses e a coordenadora da saúde de Madrid podem mostrar o caminho.

 

Crescem o racismo e a xenofobia

 

Durante anos a burguesia europeia utilizou a mão-de-obra imigrante, abundante e com mais facilidades para sua exploração, para seu crescimento económico. Agora, com a crise económica, esse é o primeiro sector a sofrer suas consequências. A burguesia quer que os trabalhadores paguem pela crise. E, entre eles, os mais explorados são os imigrantes. O desemprego fez estragos na imigração. Na construção e na indústria, os despedimentos atingem principalmente os trabalhadores mais precarizados.

 

Os governos europeus pavimentaram o caminho para se desfazer da mão-de-obra excedente com leis discriminatórias e repressivas contra os imigrantes. No ano passado, foi aprovada a “directiva de retorno” na UE (conhecida como “directiva da vergonha”), que permite a detenção por até 18 meses dos imigrantes ilegais, para facilitar sua expulsão. As permissões de trabalho e residência estão vinculadas, em grande medida, à manutenção de um contrato de trabalho. Sua perda resulta no fim da legalidade e na possibilidade de expulsão. Os governos da UE estão adaptando suas legislações a essa directiva. O “pacto sobre imigração” e asilo dos 27 países da União Europeia vai promover a expulsão dos imigrantes irregulares, a proibição a todos os países de promover regularizações em massa, além de “melhorar” o controle de fronteiras.

 

As medidas mais reaccionárias estão sendo implementadas pelo governo italiano de Berlusconi. O primeiro-ministro italiano aumentou de dois para seis meses o tempo de detenção dos imigrantes “irregulares” e aprovou a formação de patrulhas de rua nocturnas (formadas por ex-policiais, ex-militares e civis) para vigiar as cidades. Essas patrulhas recordam os grupos fascistas da época de Mussolini e são o resultado de uma campanha xenófoba que equipara a imigração à delinquência. Os números da violência estão baixando na Itália, mas os casos que envolvem delinquentes estrangeiros são destacados para criar um estado de psicose que facilita a implantação das patrulhas.

 

Mas o ataque aos imigrantes não é exclusivo dos “governos de direita”. Na Espanha, o governo “socialista” de Zapatero anunciou que reformará a actual lei sobre estrangeiros e já aprovou um anteprojecto endurecendo as medidas actuais. Nessa reforma, castiga-se com multas de até 30 mil euros «quem promova a permanência irregular na Espanha de um estrangeiro». Assim, seria criminalizado quem tiver em sua casa imigrantes “sem papéis”, em situação irregular.

 

A perseguição é feita como “caça aos imigrantes”. A polícia de Madrid cumpre semanalmente cotas de captura de imigrantes sem papéis e chega a intimidar os que se aproximam de seus consulados ou de colégios para recolher seus filhos. Há denúncias de invasão de domicílios. Os maus-tratos nos centros de internamento, onde permanecem detidos os imigrantes até sua expulsão, já viraram rotina.

Na França, o governo Sarkozy, promotor das medidas antiimigrantes na Europa, introduziu medidas “integradoras” para os imigrantes, como a aprendizagem da Marselhesa e a obrigação de conhecer o francês. No entanto, nos últimos quatro meses foram suprimidos três mil postos de trabalho de professores de apoio aos alunos com dificuldades.

 

O governo britânico, a raiz da greve da Lindsay Oil, exigiu das instituições da UE que a regulação dos trabalhadores deslocados dos países se modifique em benefício dos trabalhadores locais. Isso facilitará ainda mais a discriminação contra os trabalhadores imigrantes.

 

Saúde e educação

 

Os governos que entregam dinheiro aos bancos e empresas anunciam também cortes orçamentários para reduzir despesas do estado. Assim, a educação e a previdência públicas perdem qualidade e eficiência. As famílias de trabalhadores imigrantes não têm outra possibilidade do que se dirigir ao serviço público. Os governos europeus, fazendo eco à ultra-direita, utilizam como desculpa para a queda de qualidade no serviço não os cortes orçamentários e a privatização, mas o “excesso” de imigrantes que procuram a rede pública.

 

Burocracias sindicais contra a unidade da classe operária

 

Na Espanha, CC.OO e UGT aceitam a discriminação dos trabalhadores imigrantes sem permissão de residência de longa duração. O racismo e a xenofobia acabam penetrando entre os operários por meio de argumentos como “os imigrantes aceitam salários e condições de trabalho inferiores às dos trabalhadores nacionais”. Como se os imigrantes aceitassem isso por gosto e tivessem possibilidades de escolher!

 

Os governos são os responsáveis por fomentar legislações de política para estrangeiros que produzem, de fato, cidadãos de segunda categoria. Mas as burocracias sindicais contribuem para que o racismo e a xenofobia se estendam entre os trabalhadores ao apoiar as medidas discriminatórias. Esse papel criminoso facilita que as organizações fascistas e seus discursos ganhem peso entre os trabalhadores.

 

Perigo de que cresçam os bandos fascistas

 

As organizações fascistas adoptaram na Europa o eixo de “expulsão dos imigrantes”. Suas mensagens dizendo que os imigrantes tiram o trabalho dos trabalhadores nacionais estão ganhando apoio com muita facilidade em meio à crise económica. Partidos fascistas, como o BNP britânico, começam a se estabelecer no sector mais atrasado dos trabalhadores. Por volta de 14% dos jovens espanhóis dizem que votariam em partidos racistas caso aumente a imigração. Na Itália, o perigo está no mesmo governo que facilita a formação das patrulhas de rua.

 

É necessário recuperar a unidade da classe operária

 

Para enfrentar as perdas de postos de trabalho, a carestia da vida e defender as conquistas e os serviços públicos de qualidade, os trabalhadores europeus terão que enfrentar a xenofobia que os governos e as burocracias sindicais estão fomentando.

Os problemas dos trabalhadores são os mesmos, independente de seus países. A divisão e as tentativas de culpar o sector mais débil e mais exposto às consequências da crise só servem para que os governos apliquem seus planos a favor dos patrões e destruam os serviços públicos, além de fortalecer as organizações e os discursos fascistas.

 

A Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI) avalia que esta é uma batalha que não pode ser adiada para o dia seguinte. A luta unitária da classe operária tem dado excelentes mostras nos últimos tempos. Na Grécia, os trabalhadores imigrantes eram parte das mobilizações de Dezembro. Em grande parte da Europa, vimos como milhares de trabalhadores desfilaram junto aos imigrantes de origem árabe contra a agressão à Faixa de Gaza por Israel.

 

Na luta dos trabalhadores da limpeza do metro de Madrid, onde grande parte é de imigrantes, foram conquistadas vitórias graças à unidade de todos os trabalhadores, independentemente de quem contratava ou da nacionalidade. É fundamental dar uma batalha no terreno sindical. Toda discriminação de imigrantes fomentada pela burocracia sindical deve ser denunciada como uma traição ao conjunto da classe operária.

Próximo

Contra as ameaças imperialistas ao Irão!